quarta-feira, 20 de junho de 2007

MOZART, W. A.- Serenata Haffner, em ré maior - KV 250

Elisabeth Haffner, filha do prefeito de Salzburg, casou-se com Franz Xaver Späth dia 22 de julho de 1776. Para celebrar o casamento, seu pai Sigmund Haffner, encomendou a Mozart uma obra para ser executadas nas comemorações nupciais, obra esta que foi executada no dia anterior dentro das festividades pré-nupciais, recebendo desta forma o codinome de Serenata Haffner, tornando-se assim conhecida. Seis anos mais tarde o prefeito Haffner foi enobrecido e para a ocasião encomendou outra obra, uma Sinfonia, que Mozart escreveu mantendo a mesma tonalidade de re maior, a de No. 35, (KV385) que também recebeu o codinome de Sinfonia Haffner.
Na véspera do dia da estréia, Mozart escreveu à guisa de abertura a Marcha (KV 249), num maestoso vigoroso, que anuncia pomposamente o primeiro movimento – allegro molto.

A serenata possui 8 movimentos, sendo que 3 deles são minuetos. Os minuetos intercalam-se entre o segundo e o terceiro, quarto e sexto e entre o sexto e o oitavo movimentos:

1. Allegro maestoso – Allegro molto
2. Andante
3. Mennuetto
4. Rondo - allegro
5. Menuetto galante
6. Andante
7. MenuettoAdagio – Allegro assai

Escrita para 2 violinos, viola, contrabaixo, 2 oboés, 2 flautas (no segundo Menuetto), 2 fagotes,
2 trompas, 2 trompetes.

Suas imponentes dimensões e sua numerosa orquestra emprestam, no entanto, à obra, um peso que passa bem além da circunstância anedótica. Em primeiro lugar, por sua estrutura: cinco movimentos (dos quais dois Menuettos para honrar as exigências do gênero) escritos para orquestra e que deviam seguir-se como os de uma sinfonia, se o compositor não houvesse optado perturbar essa ordem, intercalando, entre o primeiro e o segundo movimentos, as três partes de um concerto em sol maior (tom da subdominante) destinado ao violino. Quanto à sua riqueza orquestral, ela recorre à orquestra em toda a divercidade de seus timbres (flautas, fagotes, trompetes), em uma trompa que vão do brilho mais vivo aos matizes mais sutis. E incontestável que Mozart, envaidecido pela importância de tal encomenda, empenhou-se em aplicar nela todo o seu talento. Mas, ainda mais do que em suas outras obras da mesma época, seja no plano da forma como no da expressão, ele supera as limitações do estilo "galante". quando não lhe foi pedido mais do que brilho. No momento em que sua glória local abre-lhe a porta dos mais prestigiosos salões, ele se afirma com segurança em uma composição da qual nem sempre tem sido apreendida a importância.
Na véspera do dia da estréia da serenata, o músico escreveu, à guisa de abertura, a Marcha KV 249, Maestoso num vigoroso 4/4, em ré, que anuncia, um pouco pomposamente, o primeiro movimento.
1. Allegro maestoso (em re, em 4/4). Allegro molto (em 2/2): uma Fermata separa os dois temas da primeira parte desse movimento; um deles favorece. primeiro, o ritmo, nos dois primeiros compassos, depois a melodia (graças a um breve desenho dos oboés e das trompas sobre um acompanhamento escondido pelos segundos violinos); o outro, após um ritornelo, mais lírico porém sempre solidamente sustentado pela mesma base rítmica. Ainda outra Fermata e estamos no Allegro molto em 2/2 que começa com um primeiro tema esplendoroso, de início em uníssono, depois entregando aos sopros a segunda parte do Allegro maestoso antes de um deslumbramento ritornelo que vài se ampliando. Um desenho das cordas e eis o segundo tema, cuja melodia não esconde por muito tempo a tendência para a agitação, como o revela o ritornelo que o conclui e que, após uma escala ascendente de lá, ainda faz ouvir a breve melodia dos oboés e das trompas já mencionadas. O desenvolvimento, que começa depois da repetição, é uma página estonteante de invenção, que retoma o material já ouvido em uma tentativa de unificação que se toma patética por suas numerosas modulações. A repetição, de início sem mudanças, expande-se em uma cada impressionante e termina da forma mais inesperada por um fragmento de escala descendente de ré, relembrando o começo desta página espantosa que múltiplas audições jamais tomam cansativa.
2. Andante (em sol, em 3/4); após um Prelúdio cheio de ternura, o violino solo faz ouvir o tema inicial do primeiro movimento do concerto intercalado (tema que apresenta completo o que fora apenas esboçado no Prelúdio), seguido de sua resposta e de um ritornelo orquestral; esse último introduz o tema próprio do solista e sua resposta, em re, aos quais sucede-se uma breve figura orquestral logo antes da cadência do violinista. Uma última reprise do tutti inicial na dominante traz o desenvolvimento - trabalho temático sobre elementos já conhecidos, com modulações e imitações. Quanto à repetição, consideravelmente variada, esta retoma também o tema do desenvolvimento. A volta do tutti inicial precede a cadência livre do solista antes da conclusão, na mesma atmosfera de graça serena que envolve esses poucos momentos de cores.
3. Menuetto (em sol menor, em 3/4): paradoxalmente, o solista é menos herói deste movimento do que a orquestra. Escandidos com vigor, seus dois temas são dramáticos porém ao mesmo tempo plenos de energia, com respostas em eco; e a ordem dos temas, invertida quando de sua reaparição, acentua ainda mais a sensação de mal estar. O trio em tom maior é, em compensação, reservado ao violino solo: dois ternas de uma elegância muito ligeiramente lânguida, apenas sublinhados pelas quentes cores dos sopros, em um clima de tranquilidade que contrasta com a animação do Minueto.
4. Rondó Allegro (em sol, em 2/4): em saltos e reviravoltas, o tema deste Rondó é antes de tudo rítmico, e sua primeira parte voltará muitas vezes ao longo desta página que apresenta as características dos rondós italianos (de elementos múltiplos) e franceses (a repetição de certas frases). Encontramos nele, além disso, ecos desde o começo do primeiro com intermédio que, após uma passagem na qual o solista tem de enfrentar passagens rápidas fulgurantes, cede o lugar a uma nova melodia graciosamente variada e omada. Após o retomo do tema inicial vem o intermédio menor, em mi, e depois, repentinamente, sempre em tom menor, o tema inicial reaparece no solo e depois na orquestra, variado, até nova fermata, depois do que vamos encontrá-lo novamente, porém na tonalidade inicial. Ele cede o lugar a um novo intermédio marcial no qual o solista é sustentado pelos acordes dos sopros (que desempenham papel mais ativo aqui do que no resto do trecho), antes de os violinos começarem a fazer ouvir as figuras em semicolcheias do tema. Uma nova fermata, uma nova volta do tema, e então retomam os elementos já ouvidos, belamente variados, até que ecos do tema inicial (decididamente um importante fator de unificação) conduzem à cadência livre do solista e, depois, à conclusão.
5. Menuetto Galante (em re, em 3/4): dois temas bem distintos formam a primeira parte desse Minueto, o primeiro rítmico, em tutti, o segundo melódico, exposto pelo primeiro violino. A segunda seção retoma até a coda uma parte do material da anterior, variada e decorada com cores orquestrais mais contrastadas. O trio é em re menor e em duas partes, a segunda plangente e desolada, sobre o acompanhamento insistente de tercinas dos segundos violinos. Dramaticamente, o contraste com a superioridade do Minueto é perfeito, principalmente porque os sopros praticamente não tomam parte no trio. E a atmosfera é estranhamente poética e atormentada, insólita em um tal contexto.
6. Andante (em la, em 2/4): colocado sob o signo da variação, esse movimento apresenta, por outro lado, a originalidade de fazer o oboé intervir como solista. Os violinos expõem de início um tema cantante e de ritmo alegre, retomado e variado, seguido por um refrão. Após a apresentação do segundo tema pelos primeiros violinos, é o oboé que o assume, antes do retomo do refrão que seguia o primeiro tema; O desenvolvimento abre-se no tom relativo de fa sustenido menor, e o acompanhamento incessante de uma breve figura muito ágil das cordas dá uma curiosa impressão de instabilidade; ele termina com uma passagem inteiramente nova no tom principal, que segue a rememoração de um elemento da primeira parte. A repetição é, também, muito variada, assim como a longa coda final, sem que se possa jamais se queixar da menor monotonia, e sempre com a permanente pre- ocupação com a unidade que caracteriza esta serenata em seu conjunto.
7. Menuetto (em ré, em 3/4): um pouco mais curto do que o Menuetto galante anterior, esse movimento muito ritmado, que recorre toda a orquestra, é composto por um tema em duas partes, não passando a segunda de uma variação da primeira. No primeiro trio em sol, também este em duas partes, flautas e oboés dominam a orquestra com suas sonoridades penetrantes. Após a retomada do minueto, um segundo trio em re (e em duas partes) ressalta ainda os timbres das flautas e do conjunto dos sopros, opostos às cordas, com vigor expressivo e cheio de originalidade.
8. Adagio (em 4/4, em ré), Allegro assai (em 3/8, em ré): é por um longo Prelúdio Adagio, formado por um tema e sua resposta, de contrastes bem marcados, com gradações que vão de pp a f, que começa este último movimento. Ele encadeia-se com um Allegro assai introduzido pelos violinos antes da entrada da orquestra toda. O primeiro tema, sobre um envolvente ritmo de caça, é seguido, após seu ritomelo, por um segundo, em lá, que comporta também ele um enérgico ritornelo pontuado de escalas descendentes em semicolcheias; depois disso volta, em lá, o princípio do tema inicial que ainda tomamos a encontrar para abrir o desenvolvimento, engraçada diversão já que consiste, de início, num trabalho sobre o primeiro tema, habilmente variado, e enriquecido por diversas modulações, antes que um outro motivo introduza a repetição muito concisa, apresentando também o primeiro tema em menor. E essa invenção sem freios continua até a Coda apresentando, de modo por vezes inesperado, certos elementos anteriores até os últimos acordes.

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