A partitura de Jeux foi encomendada por Sergei Diaghliev a Claude Debussy em 1912, para ser apresentada na temporada parisiense do ano seguinte dos Balés Russos.
O argumento-roteiro do balé era de Nijinski, elaborado para ser uma “apologia plástica do homem de 1913”. A idéia inicial, descrita por Jacques Émile-Blanche, era de um balé “cubista” que representasse um jogo de tênis em um jardim ao anoitecer sob grandes luminárias elétricas, onde um grupo de moças e rapazes com uniformes esportivos desenvolveriam uma série de movimentos rítmicos inspirados na gestualidade do jogo de tênis. Não seriam utilizados cenários românticos, nem haveria "corps de ballet" e nem "pas-de-deux". A partida seria interrompida por uma colisão de um aeroplano.
O roteiro foi sendo modificado até a solução de apresentar o balé com três personagens: duas mulheres e um homem, uma solução cênica viável para um outro libreto oculto, que segundo Nijinski, seria a história de seu relacionamento pessoal com Diaghliev.
Em suas memórias escritas em 1919, o bailarino nos conta que o empresário russo sempre desejou ter dois jovens como amantes e que, no roteiro final, para evitar possíveis problemas com a censura, as duas garotas representavam Nijinski e o outro jovem amante, e o tenista, Diaghliev. Em carta a Stravinsky, Debussy relata que o título da obra (Jogos) expressa, de modo bem comportado, os “horrores” que se passam entre essas três personagens.
“A música de Jeux é inseparável de seu tema, que é o prazer sexual” escreveu Robin Holloway. Para sugerir esse continuo jogo de formas em busca de um clímax, Debussy escreveu uma de suas mais fascinantes partituras que, nas palavras do compositor Pierre Boulez, “marca o aparecimento de uma forma musical que, renovando-se instantaneamente, implica um modo de audição não menos instantâneo”.
A estrutura musical, rica em invenções, de uma ondulante complexidade, instaura uma forma de pensamento extremamente flexível, baseada na noção de tempo irreversível. Para ouvi-la, só submetendo-se a seu desenvolvimento, já que a evolução constante das idéias temáticas afasta qualquer simetria na arquitetura musical. Debussy inventa uma técnica combinatória ao montar a estrutura musical como se fosse um mosaico. Ele usa vinte e um pequenos motivos temáticos derivados do impulso rítmico de uma valsa que desfilam perante nossos olhos e ouvidos como uma cena cinematográfica, formando uma trama, uma textura de cores (timbres) e tempos ritmados.
Mesmo que a linguagem musical de Jeux não seja tão ousada em termos harmônicos, ela é um marco capital na estética da música contemporânea. A orquestração da obra valoriza o timbre como elemento da estrutura sonora. Ao invés de uma orquestração-vestimenta, realizada depois da obra composta, o compositor inova com uma idéia de orquestração-invenção, onde a gama de timbres instrumentais forma uma sobreposição de camadas independentes e polirítmicas criando uma nova concepção de polifonia, de contraponto. Na estréia da obra, na forma de concerto em 1914 uma nota de programa, possivelmente escrita com ajuda do compositor, assim define as relações entre a música e cena: "Depois de um prelúdio de poucos compassos, doce e sonhador, harmonizado com todas as notas do modo de tons inteiros parece um primeiro motivo scherzando que é interrompido pelo retorno do prelúdio. É aqui que a ação começa: uma bola de tênis é jogada em cena. Um jovem com uniforme e raquete de tênis atravessa o palco à sua procura e desaparece. Depois surgem duas jovens curiosas que dançam juntas, fazendo confidências, mas são interrompidas nos seus jogos íntimos por um ruído de folhas secas pisadas. É o jovem que as observa. Elas tentam fugir, mas ele as persegue e persuade uma delas a dançar com ele e a beijá-lo. A segunda garota, ciumenta, começa uma dança irônica para chamar a atenção do homem. E assim seguem dançando juntos, cada vez mais animados com seus jogos íntimos, até o grande clímax sonoro da partitura, onde acontece um tríplice beijo das personagens. Nesse momento uma segunda bola é jogada em cena por uma mão maliciosa, talvez. Assustados, os três se perdem na imensidão do parque noturno. Voltam os acordes do prelúdio. E sobre algumas notas que glissam furtivamente, termina a obra". Eduardo Guimarães Álvares.
O argumento-roteiro do balé era de Nijinski, elaborado para ser uma “apologia plástica do homem de 1913”. A idéia inicial, descrita por Jacques Émile-Blanche, era de um balé “cubista” que representasse um jogo de tênis em um jardim ao anoitecer sob grandes luminárias elétricas, onde um grupo de moças e rapazes com uniformes esportivos desenvolveriam uma série de movimentos rítmicos inspirados na gestualidade do jogo de tênis. Não seriam utilizados cenários românticos, nem haveria "corps de ballet" e nem "pas-de-deux". A partida seria interrompida por uma colisão de um aeroplano.
O roteiro foi sendo modificado até a solução de apresentar o balé com três personagens: duas mulheres e um homem, uma solução cênica viável para um outro libreto oculto, que segundo Nijinski, seria a história de seu relacionamento pessoal com Diaghliev.
Em suas memórias escritas em 1919, o bailarino nos conta que o empresário russo sempre desejou ter dois jovens como amantes e que, no roteiro final, para evitar possíveis problemas com a censura, as duas garotas representavam Nijinski e o outro jovem amante, e o tenista, Diaghliev. Em carta a Stravinsky, Debussy relata que o título da obra (Jogos) expressa, de modo bem comportado, os “horrores” que se passam entre essas três personagens.
“A música de Jeux é inseparável de seu tema, que é o prazer sexual” escreveu Robin Holloway. Para sugerir esse continuo jogo de formas em busca de um clímax, Debussy escreveu uma de suas mais fascinantes partituras que, nas palavras do compositor Pierre Boulez, “marca o aparecimento de uma forma musical que, renovando-se instantaneamente, implica um modo de audição não menos instantâneo”.
A estrutura musical, rica em invenções, de uma ondulante complexidade, instaura uma forma de pensamento extremamente flexível, baseada na noção de tempo irreversível. Para ouvi-la, só submetendo-se a seu desenvolvimento, já que a evolução constante das idéias temáticas afasta qualquer simetria na arquitetura musical. Debussy inventa uma técnica combinatória ao montar a estrutura musical como se fosse um mosaico. Ele usa vinte e um pequenos motivos temáticos derivados do impulso rítmico de uma valsa que desfilam perante nossos olhos e ouvidos como uma cena cinematográfica, formando uma trama, uma textura de cores (timbres) e tempos ritmados.
Mesmo que a linguagem musical de Jeux não seja tão ousada em termos harmônicos, ela é um marco capital na estética da música contemporânea. A orquestração da obra valoriza o timbre como elemento da estrutura sonora. Ao invés de uma orquestração-vestimenta, realizada depois da obra composta, o compositor inova com uma idéia de orquestração-invenção, onde a gama de timbres instrumentais forma uma sobreposição de camadas independentes e polirítmicas criando uma nova concepção de polifonia, de contraponto. Na estréia da obra, na forma de concerto em 1914 uma nota de programa, possivelmente escrita com ajuda do compositor, assim define as relações entre a música e cena: "Depois de um prelúdio de poucos compassos, doce e sonhador, harmonizado com todas as notas do modo de tons inteiros parece um primeiro motivo scherzando que é interrompido pelo retorno do prelúdio. É aqui que a ação começa: uma bola de tênis é jogada em cena. Um jovem com uniforme e raquete de tênis atravessa o palco à sua procura e desaparece. Depois surgem duas jovens curiosas que dançam juntas, fazendo confidências, mas são interrompidas nos seus jogos íntimos por um ruído de folhas secas pisadas. É o jovem que as observa. Elas tentam fugir, mas ele as persegue e persuade uma delas a dançar com ele e a beijá-lo. A segunda garota, ciumenta, começa uma dança irônica para chamar a atenção do homem. E assim seguem dançando juntos, cada vez mais animados com seus jogos íntimos, até o grande clímax sonoro da partitura, onde acontece um tríplice beijo das personagens. Nesse momento uma segunda bola é jogada em cena por uma mão maliciosa, talvez. Assustados, os três se perdem na imensidão do parque noturno. Voltam os acordes do prelúdio. E sobre algumas notas que glissam furtivamente, termina a obra". Eduardo Guimarães Álvares.
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