quarta-feira, 20 de junho de 2007

MOUSSORGSKY, Modeste - Quadros de uma exposição

A versão original é para piano e a versão orquestral é de Ravel. A partitura original foi escrita em 1874 como homenagem póstuma ao pintor e arquiteto Viktor Hartmann, grande amigo do compositor, cuja memória se honrava através de uma exposição pública de alguns de seus trabalhos. Assim essa obra pretende descrever de forma metafórica uma visita a essa exposição, no qual o ouvinte tem como guia o próprio compositor.
Os quadros são unidos por uma identidade apresentada inicialmente por uma introdução e repetida por quatro intermezzi, chamados de “Promenade”.
A obra deve ser vista não como uma obra descritiva dos quadros e sim como uma engenhosa fantasia, escrita a partir de um motivo principal, o qual se desdobra em vários outros motivos, o que leva à lembrança da antiga forma “ tema e variações”.
Durante o verão de 1922, Ravel, afim de atender a uma solicitação de Sergei Kussevitsky, Ravel orquestrou essa obra em Lyons-la-Forêt. Esta maravilhosa orquestração fez com que a obra se tornasse mais conhecida e até popular. Ravel ignorou as orquestrações de Moussorgsky e escreveu de uma forma muito peculiar e própria.
Vamos dar uma pequena pincelada em todos os movimentos para uma melhor compreensão da obra:

1. PROMENADE (Passeio). Allegro giusto, nel modo russico, senza allegrezza, ma poço sostenuto.

Trata-se do primeiro retrato, o do visitante que nos levará a percorrer a exposição. Musicalmente, essa melodia percorre toda a partitura. O tema é entregue ao trompete e logo em seguida ao coro de metais, para depois passar para as madeiras, pelas cordas e finalmente por toda a orquestra.
2. GNOMUS (Gnomo). Sempre vivo.
A obra do pintor representa um velho anão concunda e desajeitado. Moussorgsky ilustrou o personagem por meio de frases saltadas, com grandes intervalos e de rápidas mudanças de acentos e dinâmicas; o silêncio é utilizado como elemento expressivo. As cordas graves, trombones e à percussão possuem um realce todo especial. Na repetição da seção intermediária explorou uma insólita combinação que inclui a celesta, clarinete baixo e violas em glissando.
3. PROMENADE (Passeio). Moderato cômodo assai e com delicatezza.
Nova aparição do tema inicial, agora com outra harmonização, que revela um traço seu mais delicado e intimista.
4. IL VECCHIO CASTELLO (O velho castelo). Andante molto cantabile e com dolore.
Um antigo castelo medieval, já em ruínas, desprende de si uma longa melodia. Do ponto de vista musical, utiliza um ritmo em 6/8, sobre o qual se apóia uma balada, uma larga melodia de caráter eslavo. Um afeito feliz foi entregar a melodia principal ao saxofone, que apresenta sua melodia apoiado pelas cordas em surdina.
5. PROMENADE (Passeio). Moderato non tanto, pesante.
O tema inicial ressurge mas com novo caráter, um pouco mais movido, mas por uma breve momento: funciona como uma citação nos encaminhando para a cena seguinte.
6. TUILERIES (Tulherias). Allegretto non troppo, capriccioso.
Na obra do pintor, crianças brincam em um parque parisiense, já Moussorgsky apresenta um rápido episódio que explora as regiões agudas. As flautas e clarinetes tem a oportunidade de soar de forma leve e incisiva.
7. BYDLO. Sempre moderato, pesante.
O Bydlo é um velho carro polonês puxado por bois, de rodas enormes de madeiras e rangedoras. É uma pequena peça de caráter rapsódico de marcação rítmica pesante que explora as regiões graves. A percussão é apresentada de maneira exuberante.
8. PROMENADE (Passeio). Tranqüilo.
Mais uma vez é ouvido o tema inicial.
9. BALLET DES PETITS POUSSINS DANS LEURS COQUES. (Bailado dos pintinhos em suas cascas de ovo). Scherzino.
O esboço do pintor destinava-se e um ballet de Petipa. É um pequeno estudo característico feito essencialmente de trilos e escalas cromáticas ascendentes. Aqui utiliza os sopros de maneira paródica, com um certo humor.
10. SAMUEL GOLDENBERG ET SCHMUYLE. Andante grave, enérgico.
Nesta parte foram combinados dois trabalhos do pintor, um que mostrava um rico judeu e o outro um judeu pobre. Aqui o compositor utiliza-se de duas figuras de expressão para os personagens. Inicialmente são usados sucessivamente e depois são sobrepostos. Há uma fartura de melismas com o objetivo de recordar os cantos tradicionais judaicos. As cordas em uníssono representam o homem rico, enquanto que a abordagem do homem pobre é caracterizada pelo trompete com surdina.
11. PROMENADE (Passeio). Allegro giusto, nel modo russico, poco sostenuto.
O tema da abertura volta a ser ouvido de uma maneira mais decidida.
12. LIMOGES – LE MARCHÉ (O mercado em Limoges). Allegretto vivo, sempre scherzando.
A caricatura das conversadeiras vendedoras do mercado é representado através de sons brilhantes.
13. CATACOMBE – SEPULCHRUM ROMANUM. (Catacumbas – sepulcro romano.) Largo.
O artista visitou as catacumbas de Paris, que Moussorgsky transforma em Romanas, vistas à luz de uma lanterna. Na partitura autografada do compositor está escrita a seguinte anotação: “o espírito criador do falecido Hartmann conduz-me até as caveiras, invocando-as; crânios iluminam-se do interior, docemente”. Moussorgsky utiliza-se de acordes dissonantes e expressivos. Acordes vigorosos nos lembram a sonoridades do órgão.
14. CUM MORTUIS IN LINGUA MORTUA. (Com os mortos em língua morta). Andante non troppo, com lamento.
O tema inicial da Promenade reaparece transfigurado, em meio a oitavas tratadas em trêmulos. Nos traz a lembrança o passeio pelos subterrâneos das catacumbas de Paris.
15. LA CABANA DE BABA-YAGA SUR DES PATTES DE POULE. (A cabana de Baba-Yaga sobre patas de galinha). Allegro com brio, feroce.
No desenho de Hartmann, a moradia da velha feiticeira do folclore russo é representada por uma complicada e ingênua arquitetura baseada na configuração de um excêntrico relógio. O movimento possui uma melodia e harmonias imprevisíveis. Os contrastes violentos dão lugar a uma parte central repleta de reticências.
16. LA GRANDE PORTE DE KIEV. (A grande porta de Kiev). Allegro alla breve; maestoso com grendezza.
Hartmann visualiza uma apoteótica porta para a cidade de Kiev. Moussorgsky utiliza-se do tema inicial de Promenade e transforma esse tema em uma grande apoteose, transformando-o num hino majestoso. Termina dessa forma eloqüente a partitura de Moussorgsky. Neste movimento todos os instrumentos da orquestra são reunidos, mas tratados em planos timbrísticos em camadas. Esse tutti é considerado um dois mais esplendorosos de toda a literatura orquestral no início do século XX.

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