quarta-feira, 20 de junho de 2007

MOZART, W. A. - Don Giovanni

A origem da obra
Também cognominada: “Il dissoluto punito ossia il Don Giovanni”, um dramma giocoso em dois atos.
A estréia deveria ter acontecido no dia 14 de outubro de 1787 por ocasião das festividades comemorativas em homenagem ao Príncipe Anton Clemens e sua esposa a arquiduquesa Maria Theresa da Saxônia que deviam visitar Praga nesse dia. Esta data, entretanto, não pode ser mantida por causa das dificuldades durante os ensaios, vindo a estrear dia 29 de outubro de 1787 no Teatro Nacional de Praga com grande sucesso. Mozart regeu uma das récitas, dia 20 de outubro com grande sucesso. No entanto a estréia vienense só ocorreu no dia 7 de maio de 1788 a pedido do Imperador Joseph II no teatro imperial da corte, e como era de se esperar, sem muito sucesso, já que o imperador tinha grande predileção pela ópera italiana que estava muito em voga.
O libreto é do judeu e poeta teatral italiano Lorenzo da Ponte (1749-1838) radicado em Viena. Tornou-se o libretista preferido de Mozart, que também foi o autor dos libretos das óperas: Le Nozze de Figaro (1786), Don Giovanni (1787) e Così Fan Tutte (1790). O trabalho de Da Ponte sempre foi efetuado a quatro mãos com Mozart, já que o compositor interferia diretamente no desenvolvimento da trama para que o aspecto dramático da ópera não fosse prejudicado.
De alguma forma, o mundo deve mesmo que indiretamente a ópera de Don Giovanni a uma jovem dama chamada Josefa Hambacher – nome de solteira e Josefa Duschek após se casar em 1773 com o músico Franz Duschek de quem foi aluna, destacando-se como boa pianista, mas especialmente como cantora, a quem Mozart dedicou uma ária. Segundo reza a história, Josefa parece ter se utilizado de seus encantos femininos para defender seus interesses materiais, como, por exemplo, obteve a afeição de um rico fidalgo da Boêmia, o Conde Christian Clan que lhe teria lhe ofertado dinheiro para a compra em abril de 1784 de uma pequena propriedade perto de Praga com uma bela moradia que ficou conhecida por Vila Bertramka. Era nessa casa que Mozart freqüentava para encontrar Josefa e foi lá também que Mozart completou a ópera Don Giovanni.
A origem do texto vem da obra El Burlador de Sevilla, y Combidado de Pietra de um monge espanhol chamado Gabriel Tellez (1584-1648), escrita sob o pseudônimo de Tirso de Molina. Foi impressa em 1630, e acredita-se que tenha sido sua primeira obra literária do autor. Era baseada em duas lendas: uma explorava a sensualidade desregrada de um certo homem e a outra contava a interrupção de uma festa por uma estátua.
Em todas as biografias de Mozart relata-se um episódio romântico às vésperas da estréia da ópera: a abertura ainda não estava pronta e nessa noite a esposa de Mozart o estimulou a escrever preparando um ponche, e mantendo-o acordado por toda a noite contando histórias de contos de fadas, enquanto ele escrevia a abertura n papel. O copista do teatro recebeu a partitura ás sete horas da manhã e a abertura teria sido tocada à noite com uma leitura à primeira vista pelos músicos. Segundo cartas, a abertura já estava formulada na cabeça de Mozart, só que ele achava enfadonho escrever a obra e ia deixando sempre para a última da hora, quando neste caso foi obrigado a passar a noite acordado escrevendo a obra. A intenção de Mozart não era escrever uma abertura utilizando-se temas da ópera, como iria se fazer no século XIX, mas escrever uma obra independente que servisse de abertura para a ópera e que de alguma forma sugerisse o que estava por vir na ópera. É o caso dessa abertura, que Mozart menciona com acordes o motivo ligado à estátua no momento que ela terrifica a cena do festim.
O Personagem de Don Juan
A personagem de Don Juan, na qual está baseada a ópera Don Giovanni de Mozart, foi introduzida ao mundo em El Burlador de Sevilla (1630), peça do monge e dramaturgo espanhol Tirso de Molina. A peça de Molina não tinha nada de especial; era uma narração admonitória sobre os perigos do ateísmo. Uma peça bem escrita mas que nunca foi considerada importante enquanto Molina vivia. A personagem de Don Juan, contudo, fascinaria a Europa por séculos vindouros, aparecendo em milhares de peças, estórias, poemas épicos, óperas, balés e investigações filosóficas sob diversos nomes — entre eles Dom Juan, Don John e Don Giovanni.
Artistas inspirados pelo tema de Don Juan incluem Moliére, Goldoni, Corneille, E.T.A Hoffman, Pushkin, George Bernard Shaw, Mozart, Gluck e Richard Strauss. Cada versão da estória introduz novas personagens, episódios e dramas — e com cada nova encarnação, novas personalidades e motivações de Don Juan. Um histórico detalhado da evolução de Don Juan através das gerações pode ser comparado a uma história filosófica, religiosa e artística da Europa.
Entre a estréia de El Burlador de Sevilla e a apresentação inaugural da ópera Don Giovanni de Mozart, a estória de Don Juan já sofre várias metamorfoses. O Don Juan de Tirso de Molina era um herói barroco, rebelde e exagerado, impulsivo e compelido a aventura. Com o contínuo alastramento da estória de Don Juan em outros países, ele perdeu algumas dessas características. Na Itália, a estória foi adotada pela Commedia dell’arte, um teatro de rua improvisado exibindo máscaras, comédias-pastelão e muitas piadas pesadas. A trupe enfatizou as proezas sexuais de Don Juan, tornou o criado em um trapaceiro italiano, e acrescentou novas pilhérias e personagens cômicas .O Don Juan italiano se tornou um homem inacreditavelmente egocêntrico, controlado por seus apetites monstruosos e implacável na conquista de seus prazeres sexuais.
Foi provavelmente o Don Juan italiano que Molière utilizou como modelo para sua brilhante (e intricada) versão da estória, Don Juan, ou le festin de pierre (1665). A peça subversiva de Molière, escrita durante o reino de Luís XIV, retrata a Don Juan como um nobre ocioso estragado por sua extravagância. Preguiçoso, obcecado com a beleza, desvalorizando qualquer coisa que não seja seu prazer pessoal, Don Juan é uma personagem que se sentiria em casa na corte do Rei Sol. Ele eliminou Deus de sua vida e ridiculariza qualquer sentimento religioso. Sua obsessão pelas mulheres advém de sua posição política e filosofia de vida.
Na Inglaterra, a personagem de Don Juan foi alterada brutalmente no The Libertine (1676) de Shadwell. Don John, o herói de Shadwell, foi o primeiro de uma longa lista de Don Juans a explicar a filosofia por trás de suas ações. Don John argumenta que todos os desejos derivam da natureza e já que algo natural não pode ser mau, o desejo justifica até os crimes mais horrendos. Don John vive de acordo com seu modo de pensar. Antes do início da peça, ele já cometeu uma média de 30 assassinatos — incluindo o de seu próprio pai. Ele é violento ao invés de apaixonado — mas defende seus crimes com lógica fatal.
Da Ponte (1787) apropriou-se espontâneamente de todas as narrações de Don Juan que precederam seu libreto, desde Molina e Molière à commedia dell’arte. Ele também deu novos atributos à estória, notavelmente a personagem de Donna Anna, cuja força e determinação captura desde então a imaginação de vários escritores. Novelistas eram particularmanete atraídos pela personagem de Donna Anna; E.T.A Hoffman declarou que ela seria o amor verdadeiro de Don Juan se ela não tivesse aparecido em sua vida demasiado tarde para salvá-lo de sua cobiça. O próprio Richard Wagner estava convencido de que, no início da ópera, Don Juan já havia conseguido o queria com uma concordante Donna Anna.
Depois de Don Giovanni, a estória do sedutor libertino continuou evoluindo. ETA Hoffman retratou Don Juan como um idealista romântico, eternamente frustrado em sua procura pela mulher perfeita. A busca de Don Juan é nutrida por sua convicção pessoal de que somente um amor verdadeiro lhe dará transcedência. Mais tarde, no século XX, George Bernard Shaw utilizou Don Juan como porta-voz para suas próprias complicadas convicções no terceiro ato de Man and Superman (Homem e Super-homem), uma peça dentro de outra peça chamada de Don Juan in Hell (Don Juan no Inferno). Outros hão descrito Don Juan como um grande amante ou até como um homem a quem as mulheres não podem resistir — ambos conceitos que surpreenderiam Tirso de Molina.
Mas para a maioria, a ópera de Mozart e Da Ponte continua sendo a versão definitva da estória de Don Juan, apresentando o mito em toda sua amplidão emocional e níveis de significado, além da personalidade de Don Giovanni em toda sua complexidade.
Extraido do site: http://archive.operainfo.org/broadcast/operaBackground.cgi?id=19&language=4
Personagens
Don Giovanni (barítono) — Um nobre galã obcecado por seduzir mulheres. Giovanni está disposto a mentir, trair e até assassinar só para acrescentar outras mulheres a sua lista de conquistas.
Donna Anna (soprano) — a filha do Commendatore, forte, guerreira, e determinada a vingar a morte de seu pai.
Donna Elvira (soprano) — uma nobre certa vez seduzida por Don Giovanni, ela o segue até Sevilha para revelar seus crimes ao mundo.
Zerlina (soprano) — Uma amável camponesa. Ela é noiva de Masetto mas sente-se atraída por Don Giovanni.
Don Ottavio (tenor) — Noivo de Donna Anna.
Masetto (barítono) — O campesino noivo de Zerlina. Ele ama Zerlina mas não confia nela para deixá-la a sós — especialmente com um nobre.
Commendatore (baixo) — Pai de Donna Anna. Depois de ser assassinado por Don Giovanni, o Commendatore retorna do mundo dos mortos na forma de uma estátua para advertir seu assassino a se arrepender.
Leporello (baixo) — O criado de Don Giovanni. Leporello odeia trabalhar para Giovanni. Ofício que envolve mentiras e trapaças, e para o qual ele coloca sua própria vida em risco somente para que seu senhor possa seduzir mais mulheres.
Sinopse
I ATO
A história passa-se em Seviglia. A primeira cena mostra-nos o jardim da casa do Comendador.
Leporello, o criado de D. Giovanni, aparece rondando a casa de um lado para o outro embrulhado em uma capa preta onde ele reclama dos maus pedaços que tem passado por conta de seu patrão conquistador: não descansa nem um dia, nem de noite nem de dia, e ele mesmo ás vezes faz o papel de fidalgo. Por este motivo pensa em deixar o trabalho. Mas como alguém se aproxima ele se esconde. Surge D. Anna tentando ocultar o seu rosto lutando com D. Giovanni. A dama esta realmente impelida a desvendar o rosto. Ela chama pelos criados que a auxiliem, enquanto que D. Giovanni pede que Lea fique quieta, Leporello vendo a cena, diverte-se.
Repentinamente surge o Comendador, pai de Anna de espada em punho, ao vê-lo, Dona Anna corre para dentro de casa, e o comendador ordena que o sedutor se prepare para uma luta de espadas, mas D. Giovanni ridiculariza a proposta. D. Giovanni tenta evitar o duelo e chama-o diversas vezes de Misero, não podendo evitar o duelo os dois lutam até à morte do Comendador, mas antes o Comendador, grita por socorro. D. Giovanni fica assustado pelo ocorrido e lamenta o ocorrido a que foi forçado, pois assassinar pessoas não faz parte de sua diversão. Leporello fica apavorado com o ocorrido e D. Giovanni o chama, aparecendo Leporello pergunta como se não soubesse do ocorrido: quem morreu? D. Giovanni, no entanto tranqüiliza o criado por sua proeza: ter seduzido D. Anna e ter assassinado o Comendador. Ainda se justificando, que foi ele que pediu esse fim trágico. Com medo das conseqüências, ambos deixam o local. D. Anna volta com o seu noivo – Don Otávio – com criados, armas e luzes. Ao ver a cena, D. Anna inclina-se sobre o corpo do pai com muita dor. D. Otavio tenta consolar removendo o cadáver. D. Anna jura vingança ao assassino.
A próxima cena representa uma rua pela manhã cedo. D. Giovanni e Leporello e falam entre si num recitativo. Leporello pergunta se pode ser franco com ele e que D. Giovanni responde que sim, desde que ele não fale sobre a morte do Comendador. Leporello então fala que D. Giovanni é um patife. D. Giovanni fica bravo e pergunta-se se sabe o porque eles estariam ali naquele momento, ao que Leporello responde que provavelmente para uma nova conquista, e que lhe informe o nome dela para que ele possa adiciona-la já á enorme lista que ele tem. D. Giovanni então o parabeniza pela dedução lógica e lhe informa que está apaixonado por uma linda moça que também o ama, ele esta certo disso. Repentinamente D. Giovanni exclama que está sentindo cheio de mulher, linda e formosa mulher. Escondem-se e surge então Elvira. È uma dama com quem o fidalgo já tivera algum relacionamento em algum lugar, vem á procura de quem lhe roubou o coração e a abandonou. Num primeiro instante ela está furiosa, se o encontrar arrancar-lhe-ia o seu coração. D. Giovanni já teve tantas, que não se lembra dessa e não a reconhece e acha (de uma forma irônica) que ela tenha se envolvido e foi abandonada por algum rapazola. D. Giovanni vê ai a oportunidade de uma nova conquista e prepara-se para uma abordagem para lhe oferecer consolo. D. Giovanni então resolve intervir e a chama de Signorina!, enquanto que Leporello fica á margem observando tudo e fazendo comentários hilariantes ao que está vendo. Os dois se descobrem e vem toda a história à tona, deixando D. Giovanni meio perplexo e aturdido. A dama vendo-o exclama veementes palavras de exprobrações. Ela conta o que aconteceu em Burgos quando foi abandonada após três românticos dias a dois. Leporello satiriza os comentários de D. Elvira. D. Giovanni justifica-se que fatos de grande importância teriam ocorrido para uma atitude tão repentina, e pede que Leporello confirme suas palavras. Leporello então tenta dar explicações para convencer a moça, mas como está inventando uma história, fica meio que embaraçado com as palavras. D. Elvira percebe a farsa e dirige-se a D. Giovanni, mas percebe que ele já não mais está ali, então ela dirige-se a Leporello e continua seu queixume de insatisfação, quando Leporello percebe que é um bom momento para lhe dar consolo. Diz-lhe então que ela não se desespere, porque este não foi o único e não será o último fora que ele deu nas mulheres. Ai mostra uma caderneta com o nome de todas as conquistadas nas mais diversas localidades, enumerando algumas delas, como na Itália que ele teve encontros com 640, na Alemanha 231, na França mais 100 e aqui na Espanha que inclui mais de 1003 conquistas, assim ele repete esse número diversas vezes provocando a dama. E ainda mais, ele se envolveu com mulheres de todos os tipos, que vão desde as damas das altas sociedades a camponesas, camareiras, burguesas, baronesas, princesas, entre outras. Na realidade são tantas categorias em todas as faixas etárias, utilizando-se de todas as técnicas de sedução, mudando de forma a cada investida e tipo de mulher. Depois desta explanação bem completa, Leporello sai, deixando D. Elvira ainda mais furiosa, primeiro pelo ex-amante e segundo pelo próprio servo que ainda zomba dela dessa forma. Assim ela também jura vingança ao sedutor.
A próxima cena representa um campo, onde acontece uma festa numa certa aldeia. A beldade da região chama-se Zerlina que vai se casar com um latagão da região chamado Masetto. Na cena todos cantam a alegria de viver quando chega D. Giovanni e seu criado Leporello. D. Giovanni ao perceber o tanto de mulheres lindas que estão naquele lugar, eles se aproximam. Zerlina e Masetto se apresentam como sendo noivos. Masetto é uma pessoa simplória e Zerlina é uma pessoa muito esperta e vaidosa. D. Giovanni logo se aproxima de Zerlina e sem nada dizer os dois já combinam tudo. D. Giovanni, através de Leporello, convida a todos para entrar em seu palácio, a fim de tomar um chocolate, um café e outras bebidas. Mostrando toda a casa ele diz a Leporello que propicie a todos o maior conforto e diversão, e de forma irônica comenta isso com Leporello para que especialmente seu amigo Masetto se sinta bem. Ao que Leporello responde que entende fazendo um sinal sarcástico para D. Giovanni. Zerlina, no entanto ficará sob os cuidados de D. Giovanni. Masetto não gosta muita da história, mas acaba aceitando de alguma forma a situação, porque Leporello afirma que Zerlina ficará bem protegida. Zerlina então tranqüiliza Masetto para não se preocupar que ela estará a salvo com D. Giovanni. D. Giovanni o ameaça com a espada dizendo para não se preocupar, e que se ele não se comportar bem que algo poderá acontecer com ele, Masetto então cede ás pressões, recrimina Zerlina e aceita a situação contra sua vontade, afinal ele está como um vassalo na mão do seu senhor.
Depois que Masetto sai com Leporello, D. Giovanni inicia o cerco á Zerlina. Elogia-lhe a beleza e acha que ela não é mulher para um camponês rude como Masetto. Já Zerlina lhe diz que as pessoas finas não lhe inspiram confiança, especialmente quando se acediam das moças do campo, e D. Giovanni lhe diz que o que ela diz é uma calúnia. Além do mais os fidalgo são muito honrados e ela seria a pessoa certa para se esposar com ele. Pede que ela o siga até uma certa casinha que lhe pertence e ali eles se darão as mãos. Zerlina finge um pouco e aceita o convite. Quando se aproximam da dita casinha, surge D. Elvira que o chama de patife e declara-se enviada por Deus para lhe arrancar das garras esta pobre e inocente moça. Dom Giovanni tenta manipular as duas, D. Elvira sussurra com Zerlina respondendo a D. Elvira que ela está com ciúmes dele, quando D. Elvira a previne dos fatos reais das intenções de D. Giovanni.
D. Giovanni fica pensativo com o que está acontecendo, quando surge D. Anna e D. Otavio. Os namorados discutem os planos da vingança contra o assassino do Comendador. Como D. Anna não sabe quem matou o Comendador, pede auxílio a D. Giovanni para desvendar este mistério, e este galantemente aceita e se coloca ao seu serviço. Com hipocrisia pergunta a D. Anna a causa de tantos dissabores, quando repentinamente surge D. Elvira que confabula com D. Anna e D. Otavio sobre a pobre garota. Quando D. Elvira sai, D. Giovanni segue-a, demonstrando preocupação com seu estado. Anna reconhece em D. Giovanni o assassino do Comendador e conta a D. Otavio o ocorrido. Na ária Dalla sua pace, D. Anna convoca Otávio a vingar-se do assassino.
Quando todos saem, surge então Leporello e D. Giovanni. Leporello ainda não desistiu da sua idéia inicial, de largar seu patrão. Leporello então conta a D. Giovanni o ocorrido em sua casa, que teria dado bastante vinho e teria divertido a todos, mas teve bastantes problemas com Masetto, especialmente quando surge Zerlina e Elvira e esta última continua a discorrer sobre seu ex. Leporello então pega Zerlina e a tira do local e assim convida mais uma vez a todos os aldeões a se divertirem, assim enquanto estiverem entretidos, ele estará entre as garotas mais belas e lá pelas tantas ele terá adicionado mais algum nome á sua lista.
A próxima cena acontece no jardim. Zerlina recebe todas as censuras possíveis de Masetto por sua inconstância ás vésperas de seu casamento. Zerlina se diz inocente e apenas por um instante sucumbiu às lisonjeiras palavras desse homem tão amável. Depois disso ela tenta restabelecer a relação novamente com a ária Batti, batti, na qual declara seu amor incondicional por Masetto e se oferece a receber seus castigos se ele estiver zangado de fato com ela. Logo mais uma vez D. Giovanni surge e convida mais uma vez para todos voltarem para sua casa e se divertirem, todos vão saindo e D. Giovanni se declara novamente a Zerlina e a convida para a alcova, onde se encontra para seu espanto com Masetto a quem justifica que Zerlina estava confusa pelo afastamento de seu noivo, Masetto acredita ironicamente na historia e saem ao encontro dos outros camponeses.
D. Otavio, D. Anna e D. Elvira então mascarados em busca de D. Giovanni. Ao ouvir um minueto num dos salões da festa, Leporello chama a atenção de D. Giovanni que acabavam de chegar três mascarados a quem D. Giovanni convida para entrar na festa também. Os três aceitam o convite e antes de entrar pedem a proteção de Deus para seu empreendimento.
Uma última cena do primeiro ato acontece na sala de baile, na qual D. Giovanni e Leporello se desfazem em amabilidades para todos os camponeses. Os três são recebidos pelo dono da festa e Elvira reconhece a Zerlina apresentando-a a D. Anna e D. Otavio. Leporello convida a Masetto a dançar com ele, enquanto que D Giovanni leva Zerlina para a alcova. Ao se ouvir um grito de Zerlina, D. Anna, D. Otávio, D. Elvira e Masetto derrubam a porta e se deparam com a cena que D. Giovanni segura Leporello pelo braço que se finge de indignado com seu servo e o ameaça de o transpassar com a espada, convencendo a todos que Leporello se excedeu com Zerlina. D. Anna, D. Elvira e D. Otávio tiram as máscaras e em conjunto com Zerlina e Masetto, declaram que reconhecem D. Giovanni como o vilão dessa estória. D. Giovanni se acovarda e desafia a todos fugindo com a espada em punho.

II ATO
A primeira cena acontece na rua. D. Giovanni e Leporello em animada conversa. Leporello resolve novamente deixar o seu patrão, mas o patrão convence-o com dinheiro a ficar, no entanto ele impõe uma condição, que ele fica se ele abandonar as mulheres. Dom Giovanni não pode acreditar no que ouve, e diz que isso não, alegando que elas são o ar que ele respira e que essa atração pelas mulheres representa o quanto ele fiel ás mulheres. Como pode um coração afetuoso como o dele ser leal a uma única mulher? Ele é leal a todas. Ele ficou impressionado com essa linda criada de Elvira e pretende tentar a fortuna esta noite com ela, mas como a classe social dela é inferior, para não causar maiores transtornos, pretende se vestir com a capa de Leporello.
Então surge Elvira triste cantando a canção onde mostra que seu coração está quebrantado pela traição. D. Giovanni então tenta ficar livre de D. Elvira para que ela não atrapalhe sua investida em Zerlina, com este intuito, vestido com a capa de Leporello declara seu amor incontestável e mais uma vez ela cai nas artimanhas. Terminada a comédia, D. Elvira se afasta e D. Giovanni dá instruções a Leporello. Quando D. Elvira reaparecer, deve galanteá-la como se fosse ele. D. Giovanni fica mais ao largo e observa a reação, e observa D. Elvira desabafar toda a sua afeição ao suposto D. Giovanni. Repentinamente D. Giovanni surge e finge um ataque surpresa provocando a fuga de Leporello e D. Elvira, ficando a sós com Zerlina, quando ele canta a serenata Deh, vieni allá finestra, com acompanhamento de bandolim. Neste instante D. Giovanni observa a entrada de Masetto com vários aldeões armados de espingardas e pistolas entre outras armas. Fingindo ser Leporello, dirige-se a Masetto falando mal do seu patrão, D. Giovanni. Descreve como ele está vestido e manda que os aldeões procurem por todo o lado, ficando a sós com Masetto. Na conversa, percebe que Masetto está disposto a matar D. Giovanni tão logo o encontre, mas mais que rapidamente ele desarma Masetto, bate-lhe com uma espada e foge rapidamente. Aos gritos Masetto corre para Zerlina, que o consola na ária Vedrai carino, na qual aconselha o uso de um remédio fatal – o amor.
Após esta cena, Leporello e D. Elvira surgem novamente, agora num pátio em frente á casa de D. Anna. Enquanto D. Elvira canta, Leporello procura achar um meio de fugir, quando aparecem D. Otavio confortando a D. Anna, ambos de luto. Leporello ao tentar escapar são aprisionados por Masetto e por Zerlina, que nesse momento D. Elvira reclama que o suposto D. Giovanni (Leporello ainda disfarçado) é seu marido. Mas quando eles vão castiga-lo, Leporello se identifica, mas isso não o isenta de castigos por suas próprias maldades e pelas do patrão. Mas com justificativas convincentes consegue deter a vingança fatal e aproveita a oportunidade para escapar.
Fica então evidente que o assassino do Comendador é D. Giovanni. D. Otávio então se propõe ir ás autoridades e delatar o criminoso. Zerlina furiosa com o fato, ameaça a Leporello com uma navalha, com o auxílio dos aldeões amarra-o a uma cadeira insultando-o pelo que ele fez, ao saírem todos deixam Leporello lá, que consegue se libertar e fugir.
A próxima cena acontece no cemitério com a estátua do Comendador, recentemente erguida em sua homenagem. D. Giovanni entra pelo muro com uma moça que encontrou na noite e que por sinal era a namorada de Leporello, só que depois de algum tempo de cortejo de D. Giovanni esta garota o reconhece e solta uns gritos apavorada, o que provoca o surgimento de uma multidão que vem em seu socorro, da qual ele se livrou, fugindo novamente pelo mesmo lugar que entrou, relato este que ele faz a Leporello num recitativo. Mas D. Giovanni não se preocupa com nada disso e diverte-se com toda esta estória quando a estátua o interrompe com advertências solenes, de que antes de romper o dia terão acabado suas risadas. D. Giovanni não vê ninguém e pergunta em sobressalto: quem está falando? Leporello responde que poderá ser alguma alma do outro mundo que vos conhece profundamente. Mandando que Leporello se cale, ele pergunta novamente pegando a espada: quem vem lá? Quando a estátua responde pedindo que D. Giovanni deixe os mortos em paz. Pensando que é alguém do outro lado do muro se divertindo ás suas custas, D. Giovanni chama a atenção de Leporello para a estátua do Comendador e pede a Leporello para ler a inscrição nela contida. Leporello finge não poder ler pela falta de luz, mas o patrão insiste e ele a lê: “aqui aguardo a vingança contra o ímpio que me assassinou”. Leporello fica sem palavras e D. Giovanni ordena que ele fale com a estátua convidando-o a cear com ele esta noite. Sob os protestos de Leporello ele o faz, quando a estátua acena com a cabeça aceitando o convite. Mas D. Giovanni debocha e exige que a estátua responda verbalmente, quando a estátua responde um “sim”. D. Giovanni e Leporello então fazem os preparativos para esta ceia.
A próxima cena acontece numa sala onde D. Otávio consola D. Anna, garantindo-lhe que o assassino de seu pai em breve será entregue à justiça. A sugestão de casamento é repelida por D. Anna que não se permite qualquer felicidade enquanto o assassino não for punido. D. Otávio interpreta essas palavras como uma negativa para seu possível casamento com D. Anna, quando ele canta a ária Non mi dir, quando ele reafirma que seu desejo de se casar com ela ainda está inabalável.
A cena final acontece no salão na casa de D, Giovanni onde ele oferece ceia a seus convivas. Na parte superior de sua casa há um grupo instrumental tocando trechos das óperas mais populares da época, como La cosa rara de Martini e a melodia da ária de Fígaro Non più andrai do próprio Mozart. De um lado Leporello comendo tudo o que pode e do outro D. Giovanni divagando nas alegrias de sua vida. Repentinamente, D. Elvira entra na sala e se joga a seus pés e implora em nome do amor que se regenere e se reconcilie com Deus. D. Giovanni zomba. D. Elvira sai magoada, dá um grito de furor e D. Giovanni pede que Leporello vá atrás dela para ver o que está acontecendo, ao deixar a cena Leporello também exprime o mesmo grito, voltando informa ao seu patrão que lá fora está a estátua. Enquanto narra o acontecido, há uma forte batida e determina que Leporello vá ver o que acontece lá fora, recusando obedecer ao seu patrão, D. Giovanni vai pessoalmente, quando a estátua entra em sua casa, sendo saudada por D. Giovanni e solicita a Leporello que coloque na mesa mais um talher para o ilustre convidado. Leporello, desesperado, apenas lamuria “Ah patrão, ah patrão! Estamos perdidos!”. A estátua repele a hospitalidade e insinua que já provou do alimento celestial, que não tem necessidade do alimento terreno. No entanto, a estátua inverte o convite, para que D. Giovanni venha cear com ele, que prontamente foi aceito. A estátua então solicita que D. Giovanni pegue na sua mão, sentindo um frio mortal. A estátua prende-o de tal forma que não tem como ele fugir, quando a estátua o convida ao arrependimento, por ele recusado. Por fim a estátua o solta e D. Giovanni sai. Neste momento abre-se o abismo dos subterrâneos e o coro invisível canta os tormentos de D. Giovanni o qual é tragado pelo inferno. Neste instante entram D. Elvira, D. Anna, Zerlina, D. Otávio e Masetto acompanhados dos oficiais de justiça, perguntando por D. Giovanni. Leporello então responde contando o destino horrível de seu patrão. D. Otávio então pede a D. Anna o cumprimento de seus votos, mas que ainda serão adiados por mais um ano, D. Elvira anuncia sua intenção de ir para um convento e Masetto e Zerlina vivem felizes para sempre. Leporello diz a todos que irá procurar outro patrão. Finalmente todo o conjunto acentua a moral da obra: "Questo è il fin di chi fa mal! E de' perfidi la morte alla vita è sempre ugual" que significa "Este é o fim de quem faz mal! E a morte dos perfidos corresponde à vida."

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