Petrouchka Ballet em 1 ato e 4 cenas.
Coreografia: Michel Fokine.
Música: Igor Stravinsky.
História: Igor Stravinsky e Alexander Benois.
1ª apresentação: (Ballet Russo de Diaghilev) Teatro Châtelet, Paris - França –em 13 de junho de 1911.
Principais papéis: Vaslav Nijinsky (no papel de Petrouchka), Tâmara Karsawina (no papel da bailarina), Alexandre Orlov (no papel do Mouro) e Enrico Cecetti (no papel do Mágico).
Todos os anos, na cidade de São Petersburgo, era organizada uma festa onde todos os seus moradores iam se divertir com os dançarinos, acrobatas, mágicos, bichos amestrados e vendedores ambulantes. Havia chegado o grande dia e de repente, no meio da multidão, ouviu-se um toque de tambor avisando que um show ia começar. Foi montado um pequeno teatro e um estranho apresentador, vestido como se fosse um mágico ou um bruxo, chama as pessoas para assistirem a um espetáculo de fantoches. Seus bonecos eram tão perfeitos que podiam ser confundidos com gente de verdade e encantavam os espectadores que se admiravam com os três principais: um formoso Mouro, uma linda bailarina e Petrouchka, um tipo triste e mal-vestido. O mágico inicia a ação, tocando três notas muito agudas numa flauta e, imediatamente, os bonecos começam a dançar como se tivessem ganhado vida com a presença da música. Todo mundo aplaudiu o belo espetáculo, fascinados com a beleza do Mouro, o Petrouchka sem graça e a Bailarina por quem os dois estão apaixonados. Parecia claro que o Mouro era o preferido, mas era Petrouchka quem mais a amava e que parecia mais humano ao mostrar seus sentimentos. Vendo que seu rival estava ganhando o amor da boneca, Petrouchka começa com ele uma briga, que atrapalha o show, obrigando o mágico a separá-los e prendê-lo em sua caixa. Ali dentro, parado, ele começa a pensar que, depois de ter ganhado vida pela magia do seu dono, podia sentir, sofrer, ser feliz de verdade e não ser somente um pedaço de madeira. Percebeu, então, que ninguém lhe dava atenção: o mágico, só queria os lucros do seu trabalho, o Mouro era vaidoso e o desprezava e, mesmo a Bailarina, não se importava com mais nada a não ser a sua própria beleza. Com isso, Petrouchka fica muito triste, sentindo-se feio e desajeitado. Estava deitado, pensando, quando a tampa da caixa se abre e a Bailarina aparece, deixando-o tonto e feliz a ponto de declarar o seu amor. Ele dança para ela, faz acrobacias, movimentos engraçados, mas ela nem liga e vai embora apenas rindo dele, deixando-o mais triste e zangado do que antes.
Enquanto isso, na caixa ao lado luxuosamente decorada, o Mouro está deitado sobre almofadas, brincando com um coco, tentando parti-lo. A Bailarina olha-o pela porta e, sentindo-se bem-vinda, entra, dança para ele e chama-o para dançar com ela.
Do lado de fora, Petrouchka escuta a alegria dos dois e, sem saber o que fazer, cheio de ciúmes, entra na caixa do Mouro e os vê dançando muito juntos, muito felizes. Furioso, se atira sobre o Mouro, lutando ferozmente com ele, e a Bailarina, sem dar a menor atenção a nenhum dos dois, foge para longe dali. Sentindo a força de Petrouchka e vendo-se mais fraco, o Mouro apanha sua espada e com ela empurra o inimigo para a frente do teatro, até jogá-lo na rua.
A feira ainda estava movimentada, quando a multidão escuta um estranho barulho vindo do teatro do mágico; correm todos para lá e ainda conseguem, apavorados, ver a briga dos bonecos e o Mouro matar Petrouchka com um golpe de espada. Todos se reúnem em volta do seu corpo sem vila, que é agora, apenas um monte de madeira quebrada. O barulho da feira se transformou num grande silêncio e alguém chama o apresentador para que ele veja o resultado de sua mágica, culpando-o pela tragédia. Ele se defende dizendo que são apenas bonecos de madeira, sem vida, mas os assistentes ficam confusos, olhando para o chão, tristes pelo destino do pobre Petrouchka quebrado, que não era de carne e osso como parecia ser. Aos poucos as pessoas vão se afastando e o Mágico, sozinho, sem nenhuma pena ou carinho pelo seu boneco, começa a recolher o que havia sobrado dele para jogar fora.
De repente, porém, parou assustado ao ouvir um grito e, quando olhou para cima viu em cima do telhado do teatro, iluminado por uma luz clara e fria, o fantasma de Petrouchka apontando para ele, culpando-o pelo que aconteceu. A vida que recebeu do Mágico havia sido destruída, mas seu espírito estava vivo e o perseguiria para sempre.
Coreografia: Michel Fokine.
Música: Igor Stravinsky.
História: Igor Stravinsky e Alexander Benois.
1ª apresentação: (Ballet Russo de Diaghilev) Teatro Châtelet, Paris - França –em 13 de junho de 1911.
Principais papéis: Vaslav Nijinsky (no papel de Petrouchka), Tâmara Karsawina (no papel da bailarina), Alexandre Orlov (no papel do Mouro) e Enrico Cecetti (no papel do Mágico).
Todos os anos, na cidade de São Petersburgo, era organizada uma festa onde todos os seus moradores iam se divertir com os dançarinos, acrobatas, mágicos, bichos amestrados e vendedores ambulantes. Havia chegado o grande dia e de repente, no meio da multidão, ouviu-se um toque de tambor avisando que um show ia começar. Foi montado um pequeno teatro e um estranho apresentador, vestido como se fosse um mágico ou um bruxo, chama as pessoas para assistirem a um espetáculo de fantoches. Seus bonecos eram tão perfeitos que podiam ser confundidos com gente de verdade e encantavam os espectadores que se admiravam com os três principais: um formoso Mouro, uma linda bailarina e Petrouchka, um tipo triste e mal-vestido. O mágico inicia a ação, tocando três notas muito agudas numa flauta e, imediatamente, os bonecos começam a dançar como se tivessem ganhado vida com a presença da música. Todo mundo aplaudiu o belo espetáculo, fascinados com a beleza do Mouro, o Petrouchka sem graça e a Bailarina por quem os dois estão apaixonados. Parecia claro que o Mouro era o preferido, mas era Petrouchka quem mais a amava e que parecia mais humano ao mostrar seus sentimentos. Vendo que seu rival estava ganhando o amor da boneca, Petrouchka começa com ele uma briga, que atrapalha o show, obrigando o mágico a separá-los e prendê-lo em sua caixa. Ali dentro, parado, ele começa a pensar que, depois de ter ganhado vida pela magia do seu dono, podia sentir, sofrer, ser feliz de verdade e não ser somente um pedaço de madeira. Percebeu, então, que ninguém lhe dava atenção: o mágico, só queria os lucros do seu trabalho, o Mouro era vaidoso e o desprezava e, mesmo a Bailarina, não se importava com mais nada a não ser a sua própria beleza. Com isso, Petrouchka fica muito triste, sentindo-se feio e desajeitado. Estava deitado, pensando, quando a tampa da caixa se abre e a Bailarina aparece, deixando-o tonto e feliz a ponto de declarar o seu amor. Ele dança para ela, faz acrobacias, movimentos engraçados, mas ela nem liga e vai embora apenas rindo dele, deixando-o mais triste e zangado do que antes.
Enquanto isso, na caixa ao lado luxuosamente decorada, o Mouro está deitado sobre almofadas, brincando com um coco, tentando parti-lo. A Bailarina olha-o pela porta e, sentindo-se bem-vinda, entra, dança para ele e chama-o para dançar com ela.
Do lado de fora, Petrouchka escuta a alegria dos dois e, sem saber o que fazer, cheio de ciúmes, entra na caixa do Mouro e os vê dançando muito juntos, muito felizes. Furioso, se atira sobre o Mouro, lutando ferozmente com ele, e a Bailarina, sem dar a menor atenção a nenhum dos dois, foge para longe dali. Sentindo a força de Petrouchka e vendo-se mais fraco, o Mouro apanha sua espada e com ela empurra o inimigo para a frente do teatro, até jogá-lo na rua.
A feira ainda estava movimentada, quando a multidão escuta um estranho barulho vindo do teatro do mágico; correm todos para lá e ainda conseguem, apavorados, ver a briga dos bonecos e o Mouro matar Petrouchka com um golpe de espada. Todos se reúnem em volta do seu corpo sem vila, que é agora, apenas um monte de madeira quebrada. O barulho da feira se transformou num grande silêncio e alguém chama o apresentador para que ele veja o resultado de sua mágica, culpando-o pela tragédia. Ele se defende dizendo que são apenas bonecos de madeira, sem vida, mas os assistentes ficam confusos, olhando para o chão, tristes pelo destino do pobre Petrouchka quebrado, que não era de carne e osso como parecia ser. Aos poucos as pessoas vão se afastando e o Mágico, sozinho, sem nenhuma pena ou carinho pelo seu boneco, começa a recolher o que havia sobrado dele para jogar fora.
De repente, porém, parou assustado ao ouvir um grito e, quando olhou para cima viu em cima do telhado do teatro, iluminado por uma luz clara e fria, o fantasma de Petrouchka apontando para ele, culpando-o pelo que aconteceu. A vida que recebeu do Mágico havia sido destruída, mas seu espírito estava vivo e o perseguiria para sempre.
HISTÓRIA
1º Quadro: A Feira de Diversões
A Multidão - A Prestidigitação - Dança Russa
Rússia - Inverno de 1830. Uma velha praça de São Petersburgo se abre para o festim: muitas bandeiras, muitas barracas. Apesar do frio,todas as pessoas deixam suas casas: homens do campo e da cidade.É tempo de Carnaval... uma infinidade de gente bem vestidase mistura na praça coberta de neve. E ali, na feira, se vende de tudo:pão, chá, brinquedos, máscaras e... alegria. De repente, ouve-se um realejogemendo tímido na distância... A multidão abre espaço para o realejo chegar. ((O tocador toca uma antiga cantiga de roda.)) Uma garota estende um tapete vermelho sobre a neve branca, repica o triângulo e começa a dançar. Outros artistas saltimbancos ganham a praça: o público se divide. O primeiro casal encara os recém-chegados, ninguém há de ficar de braços cruzados: os saltimbancos declaram a maratona musical. As garotas, cada uma mais bela que a outra, cada uma imitando os movimentos da outra. As pessoas ficam encantadas, olhando uma, depois a outra, como um verdadeiro jogo de espelhos. A praça está atulhada de gente, que se move em um círculo lento, que se cumprimenta, que tagarela coisas da vida e coisas do dia de folia. ((No vai e vem, sorriso e diversão.)) No meio da bagunça geral, quase ninguém vê, bem no centro do praça, dois homens com imensos tambores saindo da grande barraca azul. Anunciam a próxima atração, O TEATRO VIVO. A multidão pára e olha: entre as cortinas, um rosto barbudo e pálido, com chapéu pontiagudo. A platéia o reconhece... é o mago-charlatão do espetáculo das marionetes. Acenando para o público, ele se aproxima... (( Seus olhos são profundos.)) Está vestido com longa túnica preta, estampada com misteriosos sinais. ((Suas mãos deslizam pelo ar...)) Um vento mágico varre as cortinas, revelando um novo cenário.Em três pequenos compartimentos, três bonecos sem vida esperam. ((O Mouro,)) rígido, de face escura, olhos brancos, boca grande, veste turbante e túnica brilhantes, uma faixa dourada na cintura. ((A Bailarina,)) com um leve vestido esconde suas pernas de madeira, sua face é rosada, seus olhos amendoados. ((E, Petrouchka,)) um palhaço de pano, recheado de palha, que mal parece agüentar-se em corpo tão magro. Calça pesados coturnos pretos e está meio largado, assim com a cabeça pendendo para o lado, como se estivesse cansado de ser um simples marionete... ((Sua máscara é branca.)) Imediatamente, o Charlatão dá seu comando. Os três bonecos dançam como se vivos fossem. A Bailarina sorri para Petrouchka,
((O palhaço suspira, quer abraçá-la)) mas a Bailarina, tão bela, tão dura, pisca seus olhos de pérola para o Mouro. ((Fim do espetáculo,))Petrouchka é arremessado para seu quarto.
2º Quadro: O Quarto de Petrouchka
As paredes pintadas em tons de azul. Várias montanhas com o pico encoberto de gelo. Altas e arredondas nuvens alcançam o teto. ((À esquerda, uma porta sempre trancada...)) Petrouchka sente uma revolta no peito magro. Petrouchka olha para o quadro do Charlatão, olha nos olhos vigilantes do seu criador: ((Por que foi feito boneco com a alma de homem?)) Petrouchka vai de lá pra cá, sem sair do lugar. Seus olhos de vidrorefletem pensamentos de poetasonhos de um coração solitário! Ai, amor que é bolagira, roda, rola de um lado para o outro, parece que vai à toa. Petrouchka vê a Bailarina, suspira...Mas, ela, insensível arremessa a bola de volta!
3º Quadro: O Quarto do Mouro
O quarto do Mouro é seu mundo, uma paisagem selvagem, oásis e floresta, com feras e cobras pintadas pelas paredes. O boneco descansa, refestelado no sofá, despreocupado e preguiçoso, jogando um coco para alto, depois pegando, jogando-pegando, jogando-pegando... É o tédio, é o ócio, aquele coco subindo-descendo-passando de uma mão à outra. Tenta com o pé esquerdo, rebate com o pé direito. Mas vai se cansado de descansar assim, e, rápido, apanha a cimitarra e parte o coco em dois. Dançando, a Bailarina entra em cena... Seu corpo esguio, bem talhado na madeira, rodopia. É um convite sedutor para uma valsa. A Bailarina ri... O Mouro rosna... O boneco não nasceu pé-de-valsa: seus passos são desajeitados demais. ((Petrouchka está do lado de fora )). Mas, dentro do quarto, o baile continua. Meia-volta pra lá, meia-volta pra cá... O Mouro não se agüenta em si e pega a Bailarina no colo. ((Petrouchka entra )) Vendo a cena, o palhaço imagina que a amada esteja em apuros: todo-ciúmes, arma o punho contra o Mouro. O grande rival fica surpresocom a repentina entrada de Petrouchkae grunhe e rosna e feroz saca a cimitarra e corre atrás do palhaço. ((A Bailarina, tão bela, tão fria, finge que desmaia!)) Petrouchka quase leva um pontapé, salta, pula! Parece que escapa pela porta entreaberta...
4º Quadro: Noite na Feira
Dança das Ama-secas - Dança do Camponês e o Urso Dança dos Ciganos - Dança dos Cocheiros e dos Criados Os Mascarados - A Morte de Petrouchka
((Na feira,)) agitam-se bandeiras, agitam-se os viventes mascarados. Dançam moças e velhas, babás e governantas, mulheres, ciganas, esposas e amantes.
((Na contradança, todos trocam seus pares. )) Dançam cocheiros, pajens, cavalariços, homens do campo e da cidade. A noite sorri sobre a brancura daquele dia e o povo deixa de lado a tristeza e vai dançando em alegria. Quem é mais tímido apenas sacode os ombros, os mais atirados abrem os braços, giram nos pés. No carrossel da festa, as pessoas vão brigando com mil cotovelos, mas gargalham despreocupados do mundo. Inesperado, um camponês chega com um urso. O público boquiabertopermanece parado à espera de movimento qualquer! O animal é treinado, mas ninguém ali sabiae o susto geral só se desfaz quando o bicho balança a pança. O peludo bailarino desperta a simpatia de todos. Dando as mãos, algumas ciganas brincam de roda... No meio da ciranda, fica o urso. ((A folia reina,)) no vai-e-vem das pessoas andando círculos na praça, ninguém faz diferença a um palhaço afoitoque corre e busca um esconderijo... __ Olha o palhaço na rua__ Ladrão de perua__ Olha o palhaço na linha__ Ladrão de galinha__ Olha o palhaço o que é__ Ladrão de mulher__ O que é que a véia tem? __ Carrapato no xerém. E quem visse aquele sujeitinho fugindo de outro mascaradoaté pensaria que todo palhaço é ladrão de mulher... ((Mas aquele é Petrouchka!)) Um pé em falso, um tombo certoPetrouchka cai. Ah, coração sem sorte! Petrouchka tem um espinho no peito... (Perto) alguém grita de terror e espanto, (Longe) a multidão grita a sua alegria. ((O Mouro abaixa o punho...)) Olhos de vidro refletem um fantasma novo no céu escuro. A alma de Petrouchka sorri, voa livre daquele velho corpo de palha. A máscara, mais branca que a própria lua, resta sem vida nas mãos do Charlatão.
Texto: Peter O'Sagae
1º Quadro: A Feira de Diversões
A Multidão - A Prestidigitação - Dança Russa
Rússia - Inverno de 1830. Uma velha praça de São Petersburgo se abre para o festim: muitas bandeiras, muitas barracas. Apesar do frio,todas as pessoas deixam suas casas: homens do campo e da cidade.É tempo de Carnaval... uma infinidade de gente bem vestidase mistura na praça coberta de neve. E ali, na feira, se vende de tudo:pão, chá, brinquedos, máscaras e... alegria. De repente, ouve-se um realejogemendo tímido na distância... A multidão abre espaço para o realejo chegar. ((O tocador toca uma antiga cantiga de roda.)) Uma garota estende um tapete vermelho sobre a neve branca, repica o triângulo e começa a dançar. Outros artistas saltimbancos ganham a praça: o público se divide. O primeiro casal encara os recém-chegados, ninguém há de ficar de braços cruzados: os saltimbancos declaram a maratona musical. As garotas, cada uma mais bela que a outra, cada uma imitando os movimentos da outra. As pessoas ficam encantadas, olhando uma, depois a outra, como um verdadeiro jogo de espelhos. A praça está atulhada de gente, que se move em um círculo lento, que se cumprimenta, que tagarela coisas da vida e coisas do dia de folia. ((No vai e vem, sorriso e diversão.)) No meio da bagunça geral, quase ninguém vê, bem no centro do praça, dois homens com imensos tambores saindo da grande barraca azul. Anunciam a próxima atração, O TEATRO VIVO. A multidão pára e olha: entre as cortinas, um rosto barbudo e pálido, com chapéu pontiagudo. A platéia o reconhece... é o mago-charlatão do espetáculo das marionetes. Acenando para o público, ele se aproxima... (( Seus olhos são profundos.)) Está vestido com longa túnica preta, estampada com misteriosos sinais. ((Suas mãos deslizam pelo ar...)) Um vento mágico varre as cortinas, revelando um novo cenário.Em três pequenos compartimentos, três bonecos sem vida esperam. ((O Mouro,)) rígido, de face escura, olhos brancos, boca grande, veste turbante e túnica brilhantes, uma faixa dourada na cintura. ((A Bailarina,)) com um leve vestido esconde suas pernas de madeira, sua face é rosada, seus olhos amendoados. ((E, Petrouchka,)) um palhaço de pano, recheado de palha, que mal parece agüentar-se em corpo tão magro. Calça pesados coturnos pretos e está meio largado, assim com a cabeça pendendo para o lado, como se estivesse cansado de ser um simples marionete... ((Sua máscara é branca.)) Imediatamente, o Charlatão dá seu comando. Os três bonecos dançam como se vivos fossem. A Bailarina sorri para Petrouchka,
((O palhaço suspira, quer abraçá-la)) mas a Bailarina, tão bela, tão dura, pisca seus olhos de pérola para o Mouro. ((Fim do espetáculo,))Petrouchka é arremessado para seu quarto.
2º Quadro: O Quarto de Petrouchka
As paredes pintadas em tons de azul. Várias montanhas com o pico encoberto de gelo. Altas e arredondas nuvens alcançam o teto. ((À esquerda, uma porta sempre trancada...)) Petrouchka sente uma revolta no peito magro. Petrouchka olha para o quadro do Charlatão, olha nos olhos vigilantes do seu criador: ((Por que foi feito boneco com a alma de homem?)) Petrouchka vai de lá pra cá, sem sair do lugar. Seus olhos de vidrorefletem pensamentos de poetasonhos de um coração solitário! Ai, amor que é bolagira, roda, rola de um lado para o outro, parece que vai à toa. Petrouchka vê a Bailarina, suspira...Mas, ela, insensível arremessa a bola de volta!
3º Quadro: O Quarto do Mouro
O quarto do Mouro é seu mundo, uma paisagem selvagem, oásis e floresta, com feras e cobras pintadas pelas paredes. O boneco descansa, refestelado no sofá, despreocupado e preguiçoso, jogando um coco para alto, depois pegando, jogando-pegando, jogando-pegando... É o tédio, é o ócio, aquele coco subindo-descendo-passando de uma mão à outra. Tenta com o pé esquerdo, rebate com o pé direito. Mas vai se cansado de descansar assim, e, rápido, apanha a cimitarra e parte o coco em dois. Dançando, a Bailarina entra em cena... Seu corpo esguio, bem talhado na madeira, rodopia. É um convite sedutor para uma valsa. A Bailarina ri... O Mouro rosna... O boneco não nasceu pé-de-valsa: seus passos são desajeitados demais. ((Petrouchka está do lado de fora )). Mas, dentro do quarto, o baile continua. Meia-volta pra lá, meia-volta pra cá... O Mouro não se agüenta em si e pega a Bailarina no colo. ((Petrouchka entra )) Vendo a cena, o palhaço imagina que a amada esteja em apuros: todo-ciúmes, arma o punho contra o Mouro. O grande rival fica surpresocom a repentina entrada de Petrouchkae grunhe e rosna e feroz saca a cimitarra e corre atrás do palhaço. ((A Bailarina, tão bela, tão fria, finge que desmaia!)) Petrouchka quase leva um pontapé, salta, pula! Parece que escapa pela porta entreaberta...
4º Quadro: Noite na Feira
Dança das Ama-secas - Dança do Camponês e o Urso Dança dos Ciganos - Dança dos Cocheiros e dos Criados Os Mascarados - A Morte de Petrouchka
((Na feira,)) agitam-se bandeiras, agitam-se os viventes mascarados. Dançam moças e velhas, babás e governantas, mulheres, ciganas, esposas e amantes.
((Na contradança, todos trocam seus pares. )) Dançam cocheiros, pajens, cavalariços, homens do campo e da cidade. A noite sorri sobre a brancura daquele dia e o povo deixa de lado a tristeza e vai dançando em alegria. Quem é mais tímido apenas sacode os ombros, os mais atirados abrem os braços, giram nos pés. No carrossel da festa, as pessoas vão brigando com mil cotovelos, mas gargalham despreocupados do mundo. Inesperado, um camponês chega com um urso. O público boquiabertopermanece parado à espera de movimento qualquer! O animal é treinado, mas ninguém ali sabiae o susto geral só se desfaz quando o bicho balança a pança. O peludo bailarino desperta a simpatia de todos. Dando as mãos, algumas ciganas brincam de roda... No meio da ciranda, fica o urso. ((A folia reina,)) no vai-e-vem das pessoas andando círculos na praça, ninguém faz diferença a um palhaço afoitoque corre e busca um esconderijo... __ Olha o palhaço na rua__ Ladrão de perua__ Olha o palhaço na linha__ Ladrão de galinha__ Olha o palhaço o que é__ Ladrão de mulher__ O que é que a véia tem? __ Carrapato no xerém. E quem visse aquele sujeitinho fugindo de outro mascaradoaté pensaria que todo palhaço é ladrão de mulher... ((Mas aquele é Petrouchka!)) Um pé em falso, um tombo certoPetrouchka cai. Ah, coração sem sorte! Petrouchka tem um espinho no peito... (Perto) alguém grita de terror e espanto, (Longe) a multidão grita a sua alegria. ((O Mouro abaixa o punho...)) Olhos de vidro refletem um fantasma novo no céu escuro. A alma de Petrouchka sorri, voa livre daquele velho corpo de palha. A máscara, mais branca que a própria lua, resta sem vida nas mãos do Charlatão.
Texto: Peter O'Sagae
MÚSICA
É um dos mais famosos balés de Igor Stravinsky, ao lado de «O Pássaro de Fogo» e «A Sagração da Primavera». Estreou no Théatre du Chatelet de Paris em 1911, dia 13 de julho, com a companhia de Balé Russo de Diaghilev e o lendário Nijinsky interpretando o papel título.
Stravinsky buscou, nessa partitura, recriar a atmosfera das festas populares de seu país, colocando em cena as mais variadas perso-nagens circulando por uma praça de São Petersburgo, final de inverno, em plena Terça-feira Gorda do Carnaval de 1830.
É nesta velha praça que encon-traremos uma Feira de Diversões com mascarados e artistas saltimbancos, dividindo a atenção do público: são dançarinas, doma-dores de animais, homens do realejo despertando cantigas. É grande a concentração de gente, ainda maior é o rumor... nada que não estivesse planejado.
Ao escrever a obra, escreveu Stravinsky em sua biografia, «tinha na imaginação a figura característica de um boneco, repentinamente dotado de vida, que viesse irritar a orquestra com diabólicas cascatas de arpegios ao piano. Por sua vez, a orquestra responderia com ameaçadores acordes de trompete. O resultado: é então um barulho terrível que chega ao clímax e termina com o triste e lamentável fim do pobre boneco.»
Ao invés de um balé, o compositor estava trabalhando uma peça de concerto para piano e orquestra, criando um sensível diálogo entre os instrumentos, com todo senso da natureza que é ora cômica, ora trágica. Talvez isso tenha levado a obra original, pouco tempo depois, à intenção de espetáculo de dança. E é interessante perceber o detalhe: «Petrouchka» nasceu de uma motivação visual, bem verdade uma imagem interior, como não existindo fronteiras entre as diversas linguagens quando são forma-pensamento.
De agosto de 1910 a maio do ano seguinte, Stravinsky trabalhou na composição do balé «Petrouchka». O libreto/roteiro da estória foi escrito pelo próprio compositor e Alexander Benois, que também assinou os cenários e figurinos. Precisando dar mais música para a ação no palco, Stravinsky alimentou-se de um grande número de melodias folclóricas russas fazendo convergir os repertórios erudito e popular na sanha dos resgates da tradição... por fim, a partitura primitiva transformou-se na música que é ouvida durante a segunda cena (No Quarto de Petrouchka).
É um dos mais famosos balés de Igor Stravinsky, ao lado de «O Pássaro de Fogo» e «A Sagração da Primavera». Estreou no Théatre du Chatelet de Paris em 1911, dia 13 de julho, com a companhia de Balé Russo de Diaghilev e o lendário Nijinsky interpretando o papel título.
Stravinsky buscou, nessa partitura, recriar a atmosfera das festas populares de seu país, colocando em cena as mais variadas perso-nagens circulando por uma praça de São Petersburgo, final de inverno, em plena Terça-feira Gorda do Carnaval de 1830.
É nesta velha praça que encon-traremos uma Feira de Diversões com mascarados e artistas saltimbancos, dividindo a atenção do público: são dançarinas, doma-dores de animais, homens do realejo despertando cantigas. É grande a concentração de gente, ainda maior é o rumor... nada que não estivesse planejado.
Ao escrever a obra, escreveu Stravinsky em sua biografia, «tinha na imaginação a figura característica de um boneco, repentinamente dotado de vida, que viesse irritar a orquestra com diabólicas cascatas de arpegios ao piano. Por sua vez, a orquestra responderia com ameaçadores acordes de trompete. O resultado: é então um barulho terrível que chega ao clímax e termina com o triste e lamentável fim do pobre boneco.»
Ao invés de um balé, o compositor estava trabalhando uma peça de concerto para piano e orquestra, criando um sensível diálogo entre os instrumentos, com todo senso da natureza que é ora cômica, ora trágica. Talvez isso tenha levado a obra original, pouco tempo depois, à intenção de espetáculo de dança. E é interessante perceber o detalhe: «Petrouchka» nasceu de uma motivação visual, bem verdade uma imagem interior, como não existindo fronteiras entre as diversas linguagens quando são forma-pensamento.
De agosto de 1910 a maio do ano seguinte, Stravinsky trabalhou na composição do balé «Petrouchka». O libreto/roteiro da estória foi escrito pelo próprio compositor e Alexander Benois, que também assinou os cenários e figurinos. Precisando dar mais música para a ação no palco, Stravinsky alimentou-se de um grande número de melodias folclóricas russas fazendo convergir os repertórios erudito e popular na sanha dos resgates da tradição... por fim, a partitura primitiva transformou-se na música que é ouvida durante a segunda cena (No Quarto de Petrouchka).
parabéns pelo blog, muito bom.
ResponderExcluireu sou bailarina e eu achei muito interessante a história da petrouchka e o repertório também...
ResponderExcluiré muito legal, a partir do momento em que eu li o blog eu amei e não consegui mais parar de ler...
parabéns...
se vc conseguir e se puder monte um blog sobre outros repertórios...
bjs...