sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Tchaikowsky - Sinfonia No. 5 em mi menor, Opus 64

Foi escrita em 1887, refletindo um dos momentos cruciais de sua vida. Nesta época ele estava em Tiflis juntamente com seu irmão Anatoli. Em uma carta enviada a sua patronesse, Mme. Von Meck, expressa sua dificuldade em terminar a obra:
“Parece que não tenho mais a facilidade de outrora, nem uma disponibilidade permanente do material musical”.
Estreou em S. Petersburgo sob sua regência a 5 de novembro de 1888, obtendo relativo sucesso, embora a crítica da imprensa tenha sido dura com a obra, diminuindo a sua alta estima. No entanto em março de 1889, em Hamburgo, obteve grande sucesso, quando da apresentação dessa mesma obra diante de um entusiasta auditório. Entre os presentes encontrava-se um seu admirador, Johannes Brahms, que Tchaikowsky havia conhecido no ano anterior.
Tchaikowsky não organizou um detalhamento da estrutura da obra ao pensar na obra, mas anotou algumas idéias que se torenaram como que uma espécie de roteiro de seus pensamentos:
INTRODUÇÃO – “submissão total ante o destino, a predestinação”.
I MOVIMENTO (Allegro) – “Murmúrios, dúvidas, lamentos recriminações a XXX”
II MOVIMENTO – “Não seria melhor atirar-me de corpo inteiro na fé? O programa é excelente desde que eu chegue a utiliza-lo”. Uma outra anotação descreve o movimento como um concerto entre o tema designado como “consolação” e “raio de luz”. Ë uma resposta aos instrumentos graves: “não nenhuma esperança”
O princípio cíclico da obra é estruturado sobre um mesmo tema que passa, sob diversos aspectos, nos quatro movimentos.

PRIMEIRO MOVIMENTO
Andante – Allegro com anima: na tonalidade de mi menor. O movimento é dividido em duas partes: a primeira é uma introdução, que sugere uma marcha formada por 37 compassos. Nela, se ouve logo de início um tema grave que reaparecerá de forma cíclica por toda a sinfonia. Inicialmente é apresentado pelos clarinetes com acompanhamento das cordas no registro grave, que conduzirá ao Allegro com anima que é a segunda parte do movimento. Essa segunda parte possui um caráter ais brilhante e vigoroso. O primeiro tema surge no clarinete e no fagote com o acompanhamento das cordas em registro grave, dando a este tema um sentido de inquietude, apesar de sua descrição rítmica, ampliando-se até ao surgimento de um tutti (letra D) onde se escuta o motivo gerador do primeiro tema em ritmo pontuado. A seguir a tensão cai levando o nosso pensamento para o esboço de Tchaikowsky onde ele fala de “lamentos e dúvidas” (vide segundo compasso de F). O segundo tema surge logo após, possui um caráter pastoril, preparado pelos clarinetes e pelos fagotes que introduzem este tema (compasso 132). Em seguida ouve-se uma flexibilização rítmica que parece levar a um sentido de valsa.
O desenvolvimento é caracterizado pela sobreposição dos temas e/ou dos motivos rítmicos diferentes, assim como pelas freqüentes mudanças de intensidade em contraste. A re-exposição surge com a abordagem do primeiro tema no fagote (letra Q), passando por todos os elementos melódicos e rítmicos já observados na exposição. Na CODA, (letra Y) aparecem, o primeiro tema do Allegro, nas madeiras e o elemento rítmico da Introdução que é apresentado pelos trompetes (vide três compassos antes de Aa).

SEGUNDO MOVIMENTO
Andante cantabile, com alcuna licenza: em forma de Romanza. Na tonalidade de si menor. Após uma breve preparação das cordas surge o primeiro tema em solo pela primeira trompa, que dialoga com o oboé, passando para o violoncello e em seguida elas cordas. Um segundo tema é observado no Oboé (com moto – compasso 24), retomado pelas cordas e logo em seguida por toda a orquestra. Nesse ponto do movimento, quem sabe poderemos relembrar as anotações de Tchaikowsky quando ele menciona: “consolação” e “raio de luz”. Um terceiro tema aparece na linha do clarinete (Moderato com anima – compasso 67), ornado por um trinado escrito por extenso, passando logo a idéia para o fagote. No compasso 99 (Tempo precedente) surge o tema cíclico - da Introdução – apresentado num tutti pelas madeiras e pelos trompetes. No Tempo I, ouvimos novamente o primeiro tema, apresentado pelos primeiros violinos, logo retomado pelas madeiras, numa re-exposição de todas as idéias desse segundo movimento. Logo antes da CODA ressurge novamente o tema cíclico, agora apresentado pelos trombones. A CODA (Tempo I - compasso 170) baseia-se no segundo tema que é apresentado pelas cordas de forma canônica.

TERCEIRO MOVIMENTO
Valse – Allegro moderato: em lugar do tradicional Scherzo, foi colocada uma Valsa, na tonalidade de La Maior, baseada em dois temas. O primeiro tema aparece logo no início do movimento apresentado pelos primeiros violinos e passando por diversos naipes em toda a orquestra. O segundo tema (letra D – segundo compasso) inicia-se com o fagote. Uma longa ponte prepara a re-exposição (letra I – quarto compasso).
A CODA (letra P) conclui utilizando o tema cíclico da Introdução. O movimento conclui com uma alusão rítmica invertida (letra Q) do tema inicial do movimento.


QUARTO MOVIMENTO
Finale – Andante maestoso – Allegro vivace (alla breve): este movimento se caracteriza pro uma inconstância no tempo. Inicia e termina na tonalidade de Mi Maior, mas quando passa para o Allegro vivace volta para a tonalidade de mi menor, tonalidade original da obra. Quando a obra passa para o Moderato assai e molto maestoso, a tonalidade volta para o tom inicial do movimento – Mi Maior, permanecendo assim até ao final do movimento. O caráter do movimento além das constantes mudanças de tonalidade, passa por várias mudanças de andamento, dando à obra um dinamismo todo especial. O movimento inicia-se com uma longa introdução em movimento lento (Andante), onde se faz ouvir de forma grave o tema cíclico, um pouco modificado e em tom maior, apresentado pelos violinos no registro grave e pelos violoncellos, acompanhados pelos clarinetes, fagotes, violas e contrabaixos, caminhando de forma harmoniosa por todas a orquestra, utilizando-se de diversas roupagens.
O primeiro tema aparece logo no início do Allegro vivace (alla breve) (compasso 58) nas cordas, após um crescendo do tímpano e do contrabaixo. Este tema não é muito lembrado na obra, embora há a presença do motivo gerador em vários momentos do movimento. O segundo tema é anunciado primeiro pelo oboé (letra E) e depois pelos violocellos e contrabaixos, após o desenvolvimento do primeiro tema. A idéia do primeiro tema - através da indicação dos motivos, ou da própria idéia temática integral - sempre está associada a este segundo tema. Um terceiro tema (letra H) aparece de forma inusitada nas madeiras, sendo retomado pelas cordas (letra I) em contraponto às madeiras. A partir daí surge um desenvolvimento, onde todos os temas reaparecem, iniciando pelo tema cíclico que ressurge nos trompetes e trombones (compasso 172).
A re-exposição aparece (compasso 304) com características diferentes, mas percebemos claramente a presença de todos os temas apresentados neste movimento, com uma predominância sobre o tema cíclico, que aparece configurado de diversas maneiras em um lugar de destaque.
A CODA (Presto) surge de forma inusitada (compasso 504) em compasso 2/2, surge com o segundo tema, associando-se imediatamente ao terceiro tema num grande tutti da orquestra (compasso 518), encerrando a sinfonia de forma apoteótica.

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