GEORGES BIZET (1838 - 1875)
Georges Bizet nasceu em Paris em uma família musical: seu pai era cantor amador e sua mãe era irmã de François Delsarte, uma renomada professora de canto. Seus pais fomentaram o seu interesse pela música e quando havia absorvido tudo o que poderiam ensinar a ele, o matricularam no Conservatório de Paris. Bizet tinha menos de dez anos, a idade mínima requerida para entrar no conservatório. Lá, ele estudou composição com Fromental Halévy, com cuja filha Geneviève, se casou. Também desenvolveu-se em um pianista virtuose, notado por sua proficiência técnica e leitura de partitura completa (tocando piano a partir da partitura orquestral).
Em 1857, Bizet ganhou a bolsa de estudos Prix de Rome para estudar na Itália; sua primeira ópera data do mesmo ano, a ópera em um ato Le Docteur Miracle. Além de compor, também trabalhava, com freqüência, como pianista de ensaio e orquestrador, o que lhe deu uma familiaridade incomum com os trabalhos do teatro parisiense. Hoje, Bizet é lembrado, principalmente, como compositor, embora ele não tivesse fama como tal durante sua curta vida. Quando tinha trinta e sete anos, escreveu seis óperas que sobreviveram em formato de apresentação, bem como quase trinta trabalhos não publicados ou incompletos.
A primeira das óperas de Bizet a atingir os palcos profissionais foi Les Pêcheurs de Perles (Os Pescadores de Pérolas), que foi apresentada dezoito vezes após sua première no Théâtre Lyrique em 1863. Dos vários projetos de ópera nos quais ele trabalhou, mais dois foram para os palcos -La Jolie Fille de Perth em 1867, Djamileh em 1872- sem estabelecê-lo como um talento maior. Embora fosse desencorajado pela indiferença do gerente de teatro e do público, ele continuou a perseguir seu grande amor. Com Carmen, na Opéra Comique em 1875, a maré da sorte começou a mudar, mas Bizet morreu neste ano, pensando que havia escrito outro fracasso. A obra entrou em moda logo em seguida e, juntamente com a música incidental para a peça de Daudet L'Arlésienne, elevou a reputação de Bizet.
Bizet parecia ter problemas para encontrar a direção como compositor; freqüentemente começava trabalhos operísticos, mas, em seguida, os abandonava antes de terminar. Freqüentemente pegava este material e incorporáva-o em seus projetos posteriores. Bizet prestava mais atenção ao significado e ao conteúdo emocional das palavras do que aos padrões de ritmo e métrica (chamado de "pintura de palavra" porque o compositor usa a música para "pintar" ou ilustrar o significado da palavra). Sua escolha do assunto e estilo de composição pressentia o desenvolvimento do verismo da ópera.
Carmen foi baseada em um pequeno romance, de mesmo título, de Prosper Mérimée (1845), inspirado, por sua vez, nos escritos de Georges Henry Borrow, um inglês que viveu entre os Ciganos espanhóis. O libreto de Bizet, convencionalizado para o público conservador e burguês da Opéra Comique, foi feito por Ludovic Halévy (um primo de sua esposa) e Henri Meilhac. Como o gênero ópera-cômica pedia um diálogo falado, narrativas cantadas tiveram que ser adicionadas para que a obra pudesse ser apresentada em um teatro de grand-opera. Isto foi feito após a morte de Bizet, por seu amigo Ernest Guiraoud. A fraca aceitação inicial da obra é atribuída à novidade e à ousadia da apresentação da "vida baixa" neste gênero, permitindo que a heroína morresse em vez de arquitetar um final feliz. Os ciganos fumando cigarros em cena foi um outro elemento de risco, como era o caráter "imoral" da heroína. Carmen sobreviveu e tornou-se uma das óperas mais freqüentemente apresentadas em todo o mundo. Várias de suas melodias são familiares para centenas de pessoas que nunca viram ou ouviram uma ópera.
PERSONAGENS
Don José, tenor - Cabo do exército. No princípio, ele é um soldado descente e respeitável, apaixonado por uma camponesa chamada Micaela, mas ele é seduzido por Carmen a levar uma vida de fora-da-lei.
Zuniga, baixo - Oficial comandante de Don José. Embora prenda Carmen por ter esfaqueado outra mulher, ele, também, é enfeitiçado por ela.
Escamillo, barítono - Um toreador, ou toureiro. Também está enfeitiçado por Carmen.
Carmen, meio-soprano - Uma cigana que usa seus talentos para a dança e o canto para enfeitiçar e seduzir vários homens. Ela é cruel, engenhosa e volúvel; Carmen consegue ser perversa e admirável ao mesmo tempo, uma mistura incomum para uma heroína operística.
Micaela, soprano - Uma camponesa que está apaixonada por Don José. Ela é leal, gentil e bem intencionada; tenta resgatar Don José da vida destrutiva que ele levará com Carmen.
Frasquita e Mercédès, sopranos - Ciganas amigas de Carmen.
A ÓPERA
Carmen e a História Cigana
Carmen e seus amigos são Ciganos, uma palavra usada para descrever um grupo étnico de pessoas conhecidas por sua música, por serem advinhos e por seu estilo de vida nômade. Existem muitas concepções erradas sobre os Ciganos, surgidas da ignorância e de equívocos. Algumas características de Carmen são baseadas nos estereótipos negativos ciganos, mas outras coisas são verdadeiras.
Ciganos
"Cigano" é, realmente, uma palavra depreciativa (insulto). O grupo de pessoas ao qual ela se refere é mais precisamente chamado Rom e o idioma que falam é o Romanês ou Romani. Há quatro tribos ou de nações Rom (Kalderash, Machavaya, Lovari e Churari), além de muitos outros grupos menores (tais como os Sinti, Luri e Xoraxai). A maioria dos Roms refere-se a si mesmo pelo nome tribal ou por "Rom" ou "Roma", significando "Homem" e "Povo".
Há, aproximadamente, 12 milhões de Romas vivendo em várias nações em todo o mundo, mas é difícil chegar a um número exato uma vez que eles, normalmente, não são incluídos nos recenseamentos oficiais. Os Romas tendem a viver em suas próprias comunidades, separados da sociedade gajikané (estrangeira) ao seu redor. Séculos de discriminação e ódio étnico os tornaram desconfiados em relação aos estranhos e temem que a integração com a sociedade gajikané causará a perda de sua identidade cultural única.
Por séculos, os Roma espalharam-se por muitos países diferentes em todo o mundo e se adaptaram, em vários níveis, aos diferentes ambientes culturais. Por esta razão, não há uma cultura Roma universal e há muitas diferenças; o que é um "verdadeiro Roma" para um grupo pode ser um "gadjé" ou estrangeiro, para um outro. Entretanto, há algumas coisas características a todos os Roma, por exemplo: lealdade à família, crença no destino e adaptabilidade às diferentes condições.
Origens
Embora as palavras "Roma" e "Romani" pareçam estar relacionadas à "Roma", cidade, e "Romano", os Roma não vieram da Itália. Estudiosos rastrearam a herança étnica dos Romas até a Índia, através de indicações na linguagem. O Romani é uma língua indo-ariana cuja origem é o antigo punjabi ou hindi, uma língua indiana. Hoje, há muitos dialetos Romani, mas nenhuma linguagem escrita padronizada.
Houve várias ondas de migração na história dos Romas. Primeiro eles deixaram a Índia há 1000 anos atrás, provavelmente devido a uma guerra entre os povos hindu e muçulmano. O exército etnicamente misturado espalhou-se ao longo dos limites territoriais do Islã, de modo que eles se moveram para a Pérsia (hoje, chamada de Irã) e atingiram o sudeste da Europa por volta de 1300. A próxima migração importante ocorreu no século XIX e no início do século XX, quando os Romas foram da Europa para as Américas após a abolição da escravatura cigana.
Roupas
As mulheres Romas nas histórias e filmes normalmente usam uma saia longa e colorida, um flor nos cabelos e muitas jóias de outro. Isto não está muito longe da realidade. Uma mulher Roma deixará seu cabelo crescer e, normalmente o usará em trança até se casar. Quando estiver casada, ela cobrirá o cabelo com um diklo ou um lenço, que sempre usará quando estiver em público.
As mulheres Romas usam saias longas devido a sólidas idéias sobre limpeza e sujeira. A parte inferior do corpo de uma mulher está associada à menstruação e é, portanto, vista como vergonhosa e suja. Um mulher deve manter esta parte de seu corpo (incluindo as pernas) sempre cobertas e o fundo de sua saia nunca deve tocar um homem que não seja o seu marido.
Uma mulher Roma usamuitas jóias, não somente para ficar bela, mas também porque elas são valiosas. A maioria dos Roma não tem contas em banco ou cofres, portanto, eles se sentem mais confortáveis transformando sua fortuna em ouro e carregando-a sobre si mesmo, como jóia ou decoração para os cabelos e roupa.
Os homens Romas não têm um traje típico. Como a cabeça é vista como o ponto focal do corpo, muitos homens deixam o bigode crescer e/ou usam um grande chapéu para acentuá-la. Os homens e as mulheres usam cores fortes, As roupas de Carmen e de seus amigos se enquadram nestes padrões?
Música e dança
Tradicionalmente, os Romas são conhecidos em todos os países como artistas, sejam eles acrobatas, treinadores de ursos, músicos ou dançarinos. A musicalidade dos Romas, em particular, teve uma ampla influência, atingindo artistas clássicos tais como Liszt, Brahms, Dvorak e, é claro, Bizet. Os estilos musicais únicos dos Romas remontam à música do Oriente Médio, das músicas klezmer judias, do flamenco e do jazz. O grupo Gipsy Kings é, talvez, o mais famoso grupo de artistas musicais Romas. Outros artistas da música ou não afirmam que são descendentes de Romas, entre eles Yul Brynner, Rita Hayworth e Bob Hoskins. A habilidade de Carmen em cantar e dançar é muito verdadeira para seu personagem.
Adivinhação
Um outro estereótipo negativo dos Romas é o de uma mulher idosa, lendo as palmas das mãos ou cartas de tarô e cobrando um preço exorbitante. É verdade que os Romas fazem isto, mas somente para o gadjé e como meio de vida, nunca entre eles. Embora ela possa ter acreditado no destino, como muitos Romas fazem, Carmen e suas amigas provavelmente não adivinhariam seus próprios destinos.
Atitudes em relação à sociedade gadjikane
Os Roma têm medo de serrem corrompidos pela sociedade gadjikane; eles têm medo que a imersão em uma sociedade não-Roma os levará à perda dos laços familiares e comunitários tradicionalmente fortes. Séculos de discriminação anti-Romas e de ódio fizeram com que a maioria dos Romas desconfiasse de estranhos. Espera-se que os Romas se casem dentro da tribo para manter a pureza étnica e social, mas, ocasionalmente, alguém se casa fora do grupo. Se um homem Roma se casa com uma gadji (estrangeira), ela pode ser aceita se adotar o modo de vida dos Roma. É mais difícil uma mulher Roma desejar casar com um gadjo; as mulheres são vistas como as guardiãs da sobrevivência do grupo e ao terem filhos com alguém de fora do grupo, a pureza étnica é diluída. Em muitos casos, as crianças de casamentos misturados somente são consideradas Romas se o pai for Roma.
Uma outra impressão equivocada dos Romas é que eles são imorais; esta imagem é personificada por Carmen, uma mulher sedutora e manipuladora, com vários amantes. Na verdade, os Romas seguem um código rigoroso de conduta sexual; espera-se que as mulheres permaneçam virgens até se casarem e o adultério é estritamente proibido. Tradicionalmente, uma menina casava-se entre as idades de nove e quatorze anos, mas a influência gadjikane mudou isto nos últimos anos.
Discriminação
Em toda a história européia, os Romas foram insultados e perseguidos, normalmente sem qualquer tipo de proteção governamental ou legal. A purga nazistas foi a mais infame: 1,5 milhões de Romas pereceram no Holocausto (a palavra Romani é Porrajmos). Hoje, os Roma ainda estão sujeitos a retratos negativos na mídia popular e à discriminação étnica.
INFORMAÇÕES SOBRE A ÓPERA CARMEN
Em 1875, os concertos enfatizavam a música do passado e não a do presente. A Ópera, se apresentada no grande teatro lírico de Paris, L'Opéra, era vista como divertimento grandioso e elegante; se apresentada em um teatro conhecido como L'Opéra-Comique, era um entretenimento sentimental e agradável para a família. Carmen enquadrava-se no primeiro tipo de óperas, apresentando uma saída da tendência romântica para glorificar heróis e heroínas. Embora outras óperas seguissem seus passos (notadamente aquelas de compositores de verismo italiano, Mascagni e Leoncavallo, com alguma contribuição de Puccini), a ópera de Bizet permanece única em sua mescla consumada de cor, melodia, humanidade, paixão e ação física, sem cair no "modismo" da época de glorificar os príncipes antigos, donzelas virtuosas angustiadas ou personagens tirados mais da lenda ou da imaginação do que da realidade. Seus personagens são retirados das classes sociais mais baixas e, no caso da própria Carmen, do pior lado da vida. A ópera termina tragicamente, ainda que sem o enobrecimento que se poderia julgar inerente à tragédia; as emoções expressas não são as de heroísmo, auto-sacrifício, busca do destino ou qualquer característica que se poderia esperar de trabalhos tais como o tratamento de Gounod para a lenda de Fausto, Aida de Verdi ou um grande número de obras românticas. Em vez disso, encontramos vários indivíduos em situações da vida real e somos privilegiados por observar suas reações e por nos tornar emocionalmente envolvidos em suas vidas sem qualquer moralização ou apoteose por parte do compositor.
Carmen, apesar de seu naturalismo, é uma obra intensamente romântica. Pulsa com emoção patente, gira com danças vibrantes e nacionalistas e vai de cenas de cor (a taverna de Lillas Pastia) para locais sombrios e agourentos (a Cena do Cartão, à noite nas montanhas). Há oportunidades para roupas coloridas, para sons instrumentais exóticos (ex.: castanholas na cena da dança no início do Ato II) e para o som dos corais com melodias alegres. Em outras palavras, a ópera de Bizet escolhe assuntos que são a antítese da ópera romântica, porém com um modo de expressão que é romântico.
É curioso que este naturalismo na literatura seja aceito, mas que o mesmo esforço na ópera fosse considerado repreensível. É provável que isto se deva ao fato que o público da ópera tinha menos interesse intelectual do que aquele que lê avidamente o material saído da imprensa na forma de contos, romances ou peças.
As primeiras opiniões sobre Carmen tendiam a ser sem misturas. Aqui estão algumas, escritas por críticos totalmente convencidos que a música para o teatro lírico precisava ser bonita, clara e bem ordenada:
"A ópera de Bizet contém alguns fragmentos maravilhosos mas o assunto invulgar levou-o ao bizarro e à incoerência. Seria necessário reescrever o libreto, eliminando suas vulgaridades e o realismo que é inconveniente para uma obra lírica. Carmen deveria ser transformada em uma moça cigana volúvel em vez de ser uma prostituta e Don José, um vilão e uma criatura odiosa no libreto atual, em um homem possuído pelo amor…"
"Se fosse possível imaginar Sua Majestade Satânica escrevendo uma ópera, Carmen seria o tipo de obra que se esperaria. Após ouvi-la, parece que estivemos assistindo a algum ritual profano, estranhamente fascinante, mas doloroso… A heroína é uma mulher abandonada, destituída não somente de qualquer vestígio de moralidade, mas desprovida de sentimentos comuns da humanidade -desalmada, sem coração e demoníaca. Na verdade, tão repulsivo era o tema da ópera que alguns dos melhores artistas de Paris recusaram-se a se envolver no cast. Na introdução, temos um tema barulhento e ruidoso, que começa de maneira selvagem, sem precedente… Mal nos recuperamos de nossa surpresa quando… uma marcha jovial é ouvida. Isto dá lugar, de repente, a uma frase andante curiosamente cromática, para não dizer feia, que interrompe, dissonante". Londres, Music Trade Review, 15 de junho de 1872.
"Da melodia, como o termo é, geralmente entendido, há somente um pouco". Boston, Gazette, 5 de janeiro de 1879
"O coração do Sr. Bizet, que se tornou insensível pela escola da dissonância e experimentação, precisa recapturar sua virgindade. Carmen não é cênica nem dramática". Paris, Le Siecle, março de 1875
"O Sr.Bizet pertence àquela nova seita cuja doutrina é vaporizar um ideal musical em vez de comprimi-lo dentro de contornos definidos…os temas estão fora de moda, a melodia é obsoleta, as vozes, estranguladas e dominadas pela orquestra, são somente seu eco enfraquecido". Paris, Moniteur Universal, março de 1875
A crítica severa à Carmem foi o resultado de vários fatores. O empresário da casa, Camille du Locle, estava terrivelmente amedrontado em antagonizar seu público e expressou, abertamente, sua repugnância pela música antes de sua première. A imortalidade da história, sem mencionar sua conclusão homicida, foi considerada fora de lugar para um teatro considerado tão respeitável. E uma mulher fumando em cena? Impossível!
Mesmo os membros da orquestra e do coro contribuíram para os problemas associados à obra, pois muitas músicas de Bizet foram consideradas não somente bizarras como também extremamente difíceis de serem executadas.
Embora a ópera tenha sido apresentada quarenta e oito vezes em seu primeiro ano (trinta e sete delas na primeira sessão), isto foi pouco para encorajar opiniões no L'Opéra-Comique. Após a première, o teatro nunca esteve cheio; na verdade, Carmen quase foi retirada após sua quarta ou quinta apresentação e, próximo ao final de sua "temporada", o teatro estava dando os ingressos para estimular a presença.
Em outubro, sete meses após sua estréia em Paris, Carmen teve uma apresentação bem sucedida na Ópera Estadual de Viena; sua aceitação mundial seguiu-se rapidamente. Infelizmente, o público da L'Opéra-Comique teve que esperar até 1883 para ouvi-la novamente.
Talvez a questão toda da relação de Carmen com seu público parisiense possa ser percebida lendo-se algumas das críticas perceptivas ocasionadas por sua primeira apresentação. Theodore de Banville, em Le National, escreveu, cinco dias após a première:
"L'Opéra-Comique, o tradicional teatro de bandoleiros de bom coração, donzelas lânguidas, amores adocicados, foi forçado, violado, tomado de assalto por um bando de românticos descontrolados liderado pelo Sr. du Locle; George Bizet, wagneriano que é contra a expressão da paixão em canções feitas para as melodias de dança…
Se não tomarmos cuidado, eles terminarão corrompendo totalmente nosso segundo teatro lírico, anteriormente uma criança tão doce e bem comportada onde até podíamos ouvir obras maravilhosas…
O Sr. M. Georges Bizet é um desses homens ambiciosos para quem…a música deve ser, mesmo no teatro, não um entretenimento, uma maneira de passar a noite, mas uma linguagem divina expressando a angústia, a insensatez, a aspiração celestial do ser que…é um andarilho em um exílio aqui embaixo…
Em vez desses marionetes bonitos azuis e cor de rosa , que eram a alegria de nossos pais, ele tentou mostrar homens reais e mulheres reais, fascinantes, torturados pela paixão…cujo tormento, ciúme…louca paixão são interpretados para nós pela orquestra transformada em criador e poeta…"
SINOPSIS
ATO I: Espanha, por volta de 1820. Os Dragões do Regimento Almanzar, servindo em Sevilha, estão parados em uma praça fora de suas guaritas, vendo a multidão passar. Seu cabo, Moralès, vê uma linda moça, Micaela, e descobre que ela está procurando por outro cabo chamado Don José. Desapontado, Moralès diz a ela que Don José chegará. Com a mudança da guarda, as crianças aparecem, fingindo ser soldados, enquanto Moralès fala ao recém-chegado Don José sobre sua visitante. Um oficial, Zuniga, aparentemente há pouco tempo em sua posição, pergunta a José se é verdade que há muitas moças bonitas entre os trabalhadores da fábrica de cigarros do outro lado da praça.
Logo, alguns jovens aparecem esperando as moças que trabalham na fábrica durante seu intervalo no trabalho. As moças se reúnem a eles, cantando os louvores do descanso e do fumo. Quando a cigana Carmen sai da fábrica, ela é imediatamente o centro da atenção e obsequia seus admiradores com uma canção sobre a liberdade e a ilusão do amor. Os homens disputam sua atenção, mas ela os ignora em favor de Don José, que a ignora.
Quando ela volta para a fábrica, ela joga para ele uma cássia de seu corpete e ele murmura para si que ela deve ser uma feiticeira. Sua meditação é interrompida por Micaela, com uma mensagem de sua mãe. Embaraçada, ela também dá a ele um beijo de sua mãe, José fica tocado pelas lembranças de casa e vê sua mãe com seus olhos da mente. Na face de deusa simples de Micaela, ele imagina como Carmen foi capaz de distraí-lo mesmo momentaneamente. Micaela deixa-o sozinho para ler a carta de sua mãe, que diz que ele deve se casar com Micaela; José concorda.
Antes que Micaela tivesse uma chance de retornar, entretanto, uma comoção rompe na fábrica e várias das moças vêm correndo para chamar a polícia: Carmen e uma outra moça se envolveram em uma briga. Entre os argumentos sobre quem deu o primeiro golpe, José pega dois soldados e vai para a fábrica e sai com Carmen, a quem ele leva para Zuniga para o interrogatório. Carmen insolentemente recusa-se a responder e esbofeteia uma de suas colegas de trabalho que estavam por perto.
Assim que ela está sozinha, sob custódia de José, ela diz a ele que ele a ajudará a fugir, porque ele a ama: a flor que ela jogou está fazendo sua mágica. José ordena que ela não fale, então ela canta - uma canção provocativa sobre levar seu amor para a taverna de Lillas Pastia, nos arredores da cidade. A raiva e a confusão de José dão margem para as promessas cada vez mais atrevidas de Carmen de que será o amante em questão e ela o persuade a deixar ela escapar. Quando Zuniga sai da guarita com uma ordem escrita para levar Carmen presa, José começa a levá-la embora, mas ela o empurra, desequilibrando-o e foge.
ATO II: Dois meses mais tarde, na estalagem de Lillas Pastia. Carmem canta e dança com suas amigas Frasquita e Mercédès enquanto espera, como ela prometeu, por Don José. Os homens aparecem, aclamando o toureiro Escamillo, que se gaba de suas proezas e gosta imediatamente de Carmen. Ela também se sente atraída por ele, mas o deixa de lado, juntamente com outros amantes em potencial, uma vez que ela espera por José. Quando a estalagem fecha para a noite, Carmen diz a suas amigas que ela não pode se juntar a sua última expedição de contrabando porque está apaixonada.
No momento em que José aparece, estes amigos insistem com ela para arregimentá-lo para o bando. Carmen dança para ele após ele explicar que tinha passado dois meses na cadeia por ter deixado que ela escapasse. Quando cornetas distantes tocam o recolher, entretanto, José diz a ela que tem que voltar para o seu quartel. Carmen caçoa de sua obediência de menino, dizendo que ele não liga para ela. Ele nega isto, descrevendo como ele guardou como um tesouro a flor já murcha enquanto esteve preso e que somente pensou nela.
Tentando persuadi-lo a fugir, ela é dura. José diz que ele não pode se tornar um desertor por causa dela; justamente quando ela tenta colocá-lo para fora, Zuniga aparece para ver Carmen. Confrontando-se com José, que já está atrasado para o quartel, ele ordena que parta, mas José desafia seu superior. Para evitar uma briga, Carmen chama suas amigas ciganas que, com brincadeiras, mantêm Zuniga cativo enquanto José percebe que a sorte está lançada: ele já é um desertor. Os ciganos louvam sua existência livre ao ar livre.
ATO III: Fronteira do país, nas montanhas. Os contrabandistas, José entre eles, cantam os perigos e as recompensas de sua vida. Olhando em direção ao vale onde sua mãe vive, José se arrepende de ter traído suas expectativas. Carmen diz a ele que ele também deveria partir -quanto antes, melhor. Seu relacionamento havia esfriado. Vendo seu temperamento encolerizar-se com sua indiferença, Carmen percebe que ele é capaz de matá-la. Fatidicamente, ela lê as cartas do tarô com Frasquita e Mercédès: onde elas encontram a fortuna e os amores, ela encontra somente morte, primeiro para ela mesma e, depois, para José.
José está de guarda enquanto as mulheres conversam usando seus charmes para desarmar quaisquer guardas civis que possam encontrá-los em seu esconderijo. Após partirem, Micaela vagueia sozinha, tendo encontrado o covil dos contrabandistas. Consciente do poder de Carmen sobre José e os perigos do lugar, ela declara que, com a ajuda de Deus, ela trará José de volta. Ela vê José em um promontório e o chama, mas ele dá um tiro de advertência desafiando um invasor, que é Escamillo em busca de Carmen.
Micaela se esconde enquanto os dois homens se confrontam, sendo que Escamillo logo percebe, pela recepção beligerante de José, que ele é o amante atual de Carmen. Desafiado para um duelo com facas, o toureiro escorrega e somente o surgimento de Carmen salva sua vida. Escamillo diz a José que ele irá lutar com ele novamente quadno José quiser, mas os contrabandistas não querem violência. Escamillo parte convidando a todos perto dele para sua próxima tourada; José tem que ser contido para que não vá atrás dele novamente com uma faca.
Quando Micaela é descoberta, José garante a todos que ela não é uma espiã. Ela implora para que ele vá ver sua mãe que está doente, na cama, e Carmen diz a ele que vá. Jurando nunca deixá-la, ele parte, enquanto a voz de Escamillo é ouvida à distância, repetindo a canção do toreador.
ATO IV: Em uma praça do lado de fora da praça de touros de Sevilha, uma multidão está reunida, com ânimo festivo, comprando bebidas e laranjas. A parada de toureiros, com suas insígnias, é saudada pelas crianças e pela multidão entusiasmada. Seguindo os picadores e os banderilleros, Escamillo agradece a ovação e, quando todos partem para entrar na arena, ele vê Carmen e a puxa de lado para algumas palavras de carinho. Quando ele, também, parte, acompanhando o Alcaide (prefeito) até a competição, Carmen recebe um aviso ansioso de Frasquita e Mercédès de que elas haviam visto José nas sombras; procurado por deserção, ele não pode mostrar-se abertamente. Carmen declara que não tem medo e que falará com ele sozinha.
José aparece e começa em tom de súplica, mas a frieza de Carmen gradualmente o leva ao desespero. Ela declara que tudo está acabado entre eles, que ela viverá livre ou morrerá. Quando as vozes da arena proclamam a vitória de Escamillo e Carmen tenta entrar, José bloqueia a passagem. Enraivecida, ela grita que ele deve deixá-la partir ou matá-la. Com isto, ela joga fora o anel que ele lhe deu, recusando, novamente, o pedido de José para que venha com ele. Ferozmente, ele a esfaqueia, em seguida, ajoelha-se ao lado de seu corpo quando se ouve a multidão cantando a música do toreador. Quando os espectadores horrorizados deixam a arena e o descobrem, ele se entrega, gritando que ele matou sua amada Carmen.
FONTE: http://archive.operainfo.org/broadcast/operaBackground.cgi?id=15&language=4
Georges Bizet nasceu em Paris em uma família musical: seu pai era cantor amador e sua mãe era irmã de François Delsarte, uma renomada professora de canto. Seus pais fomentaram o seu interesse pela música e quando havia absorvido tudo o que poderiam ensinar a ele, o matricularam no Conservatório de Paris. Bizet tinha menos de dez anos, a idade mínima requerida para entrar no conservatório. Lá, ele estudou composição com Fromental Halévy, com cuja filha Geneviève, se casou. Também desenvolveu-se em um pianista virtuose, notado por sua proficiência técnica e leitura de partitura completa (tocando piano a partir da partitura orquestral).
Em 1857, Bizet ganhou a bolsa de estudos Prix de Rome para estudar na Itália; sua primeira ópera data do mesmo ano, a ópera em um ato Le Docteur Miracle. Além de compor, também trabalhava, com freqüência, como pianista de ensaio e orquestrador, o que lhe deu uma familiaridade incomum com os trabalhos do teatro parisiense. Hoje, Bizet é lembrado, principalmente, como compositor, embora ele não tivesse fama como tal durante sua curta vida. Quando tinha trinta e sete anos, escreveu seis óperas que sobreviveram em formato de apresentação, bem como quase trinta trabalhos não publicados ou incompletos.
A primeira das óperas de Bizet a atingir os palcos profissionais foi Les Pêcheurs de Perles (Os Pescadores de Pérolas), que foi apresentada dezoito vezes após sua première no Théâtre Lyrique em 1863. Dos vários projetos de ópera nos quais ele trabalhou, mais dois foram para os palcos -La Jolie Fille de Perth em 1867, Djamileh em 1872- sem estabelecê-lo como um talento maior. Embora fosse desencorajado pela indiferença do gerente de teatro e do público, ele continuou a perseguir seu grande amor. Com Carmen, na Opéra Comique em 1875, a maré da sorte começou a mudar, mas Bizet morreu neste ano, pensando que havia escrito outro fracasso. A obra entrou em moda logo em seguida e, juntamente com a música incidental para a peça de Daudet L'Arlésienne, elevou a reputação de Bizet.
Bizet parecia ter problemas para encontrar a direção como compositor; freqüentemente começava trabalhos operísticos, mas, em seguida, os abandonava antes de terminar. Freqüentemente pegava este material e incorporáva-o em seus projetos posteriores. Bizet prestava mais atenção ao significado e ao conteúdo emocional das palavras do que aos padrões de ritmo e métrica (chamado de "pintura de palavra" porque o compositor usa a música para "pintar" ou ilustrar o significado da palavra). Sua escolha do assunto e estilo de composição pressentia o desenvolvimento do verismo da ópera.
Carmen foi baseada em um pequeno romance, de mesmo título, de Prosper Mérimée (1845), inspirado, por sua vez, nos escritos de Georges Henry Borrow, um inglês que viveu entre os Ciganos espanhóis. O libreto de Bizet, convencionalizado para o público conservador e burguês da Opéra Comique, foi feito por Ludovic Halévy (um primo de sua esposa) e Henri Meilhac. Como o gênero ópera-cômica pedia um diálogo falado, narrativas cantadas tiveram que ser adicionadas para que a obra pudesse ser apresentada em um teatro de grand-opera. Isto foi feito após a morte de Bizet, por seu amigo Ernest Guiraoud. A fraca aceitação inicial da obra é atribuída à novidade e à ousadia da apresentação da "vida baixa" neste gênero, permitindo que a heroína morresse em vez de arquitetar um final feliz. Os ciganos fumando cigarros em cena foi um outro elemento de risco, como era o caráter "imoral" da heroína. Carmen sobreviveu e tornou-se uma das óperas mais freqüentemente apresentadas em todo o mundo. Várias de suas melodias são familiares para centenas de pessoas que nunca viram ou ouviram uma ópera.
PERSONAGENS
Don José, tenor - Cabo do exército. No princípio, ele é um soldado descente e respeitável, apaixonado por uma camponesa chamada Micaela, mas ele é seduzido por Carmen a levar uma vida de fora-da-lei.
Zuniga, baixo - Oficial comandante de Don José. Embora prenda Carmen por ter esfaqueado outra mulher, ele, também, é enfeitiçado por ela.
Escamillo, barítono - Um toreador, ou toureiro. Também está enfeitiçado por Carmen.
Carmen, meio-soprano - Uma cigana que usa seus talentos para a dança e o canto para enfeitiçar e seduzir vários homens. Ela é cruel, engenhosa e volúvel; Carmen consegue ser perversa e admirável ao mesmo tempo, uma mistura incomum para uma heroína operística.
Micaela, soprano - Uma camponesa que está apaixonada por Don José. Ela é leal, gentil e bem intencionada; tenta resgatar Don José da vida destrutiva que ele levará com Carmen.
Frasquita e Mercédès, sopranos - Ciganas amigas de Carmen.
A ÓPERA
Carmen e a História Cigana
Carmen e seus amigos são Ciganos, uma palavra usada para descrever um grupo étnico de pessoas conhecidas por sua música, por serem advinhos e por seu estilo de vida nômade. Existem muitas concepções erradas sobre os Ciganos, surgidas da ignorância e de equívocos. Algumas características de Carmen são baseadas nos estereótipos negativos ciganos, mas outras coisas são verdadeiras.
Ciganos
"Cigano" é, realmente, uma palavra depreciativa (insulto). O grupo de pessoas ao qual ela se refere é mais precisamente chamado Rom e o idioma que falam é o Romanês ou Romani. Há quatro tribos ou de nações Rom (Kalderash, Machavaya, Lovari e Churari), além de muitos outros grupos menores (tais como os Sinti, Luri e Xoraxai). A maioria dos Roms refere-se a si mesmo pelo nome tribal ou por "Rom" ou "Roma", significando "Homem" e "Povo".
Há, aproximadamente, 12 milhões de Romas vivendo em várias nações em todo o mundo, mas é difícil chegar a um número exato uma vez que eles, normalmente, não são incluídos nos recenseamentos oficiais. Os Romas tendem a viver em suas próprias comunidades, separados da sociedade gajikané (estrangeira) ao seu redor. Séculos de discriminação e ódio étnico os tornaram desconfiados em relação aos estranhos e temem que a integração com a sociedade gajikané causará a perda de sua identidade cultural única.
Por séculos, os Roma espalharam-se por muitos países diferentes em todo o mundo e se adaptaram, em vários níveis, aos diferentes ambientes culturais. Por esta razão, não há uma cultura Roma universal e há muitas diferenças; o que é um "verdadeiro Roma" para um grupo pode ser um "gadjé" ou estrangeiro, para um outro. Entretanto, há algumas coisas características a todos os Roma, por exemplo: lealdade à família, crença no destino e adaptabilidade às diferentes condições.
Origens
Embora as palavras "Roma" e "Romani" pareçam estar relacionadas à "Roma", cidade, e "Romano", os Roma não vieram da Itália. Estudiosos rastrearam a herança étnica dos Romas até a Índia, através de indicações na linguagem. O Romani é uma língua indo-ariana cuja origem é o antigo punjabi ou hindi, uma língua indiana. Hoje, há muitos dialetos Romani, mas nenhuma linguagem escrita padronizada.
Houve várias ondas de migração na história dos Romas. Primeiro eles deixaram a Índia há 1000 anos atrás, provavelmente devido a uma guerra entre os povos hindu e muçulmano. O exército etnicamente misturado espalhou-se ao longo dos limites territoriais do Islã, de modo que eles se moveram para a Pérsia (hoje, chamada de Irã) e atingiram o sudeste da Europa por volta de 1300. A próxima migração importante ocorreu no século XIX e no início do século XX, quando os Romas foram da Europa para as Américas após a abolição da escravatura cigana.
Roupas
As mulheres Romas nas histórias e filmes normalmente usam uma saia longa e colorida, um flor nos cabelos e muitas jóias de outro. Isto não está muito longe da realidade. Uma mulher Roma deixará seu cabelo crescer e, normalmente o usará em trança até se casar. Quando estiver casada, ela cobrirá o cabelo com um diklo ou um lenço, que sempre usará quando estiver em público.
As mulheres Romas usam saias longas devido a sólidas idéias sobre limpeza e sujeira. A parte inferior do corpo de uma mulher está associada à menstruação e é, portanto, vista como vergonhosa e suja. Um mulher deve manter esta parte de seu corpo (incluindo as pernas) sempre cobertas e o fundo de sua saia nunca deve tocar um homem que não seja o seu marido.
Uma mulher Roma usamuitas jóias, não somente para ficar bela, mas também porque elas são valiosas. A maioria dos Roma não tem contas em banco ou cofres, portanto, eles se sentem mais confortáveis transformando sua fortuna em ouro e carregando-a sobre si mesmo, como jóia ou decoração para os cabelos e roupa.
Os homens Romas não têm um traje típico. Como a cabeça é vista como o ponto focal do corpo, muitos homens deixam o bigode crescer e/ou usam um grande chapéu para acentuá-la. Os homens e as mulheres usam cores fortes, As roupas de Carmen e de seus amigos se enquadram nestes padrões?
Música e dança
Tradicionalmente, os Romas são conhecidos em todos os países como artistas, sejam eles acrobatas, treinadores de ursos, músicos ou dançarinos. A musicalidade dos Romas, em particular, teve uma ampla influência, atingindo artistas clássicos tais como Liszt, Brahms, Dvorak e, é claro, Bizet. Os estilos musicais únicos dos Romas remontam à música do Oriente Médio, das músicas klezmer judias, do flamenco e do jazz. O grupo Gipsy Kings é, talvez, o mais famoso grupo de artistas musicais Romas. Outros artistas da música ou não afirmam que são descendentes de Romas, entre eles Yul Brynner, Rita Hayworth e Bob Hoskins. A habilidade de Carmen em cantar e dançar é muito verdadeira para seu personagem.
Adivinhação
Um outro estereótipo negativo dos Romas é o de uma mulher idosa, lendo as palmas das mãos ou cartas de tarô e cobrando um preço exorbitante. É verdade que os Romas fazem isto, mas somente para o gadjé e como meio de vida, nunca entre eles. Embora ela possa ter acreditado no destino, como muitos Romas fazem, Carmen e suas amigas provavelmente não adivinhariam seus próprios destinos.
Atitudes em relação à sociedade gadjikane
Os Roma têm medo de serrem corrompidos pela sociedade gadjikane; eles têm medo que a imersão em uma sociedade não-Roma os levará à perda dos laços familiares e comunitários tradicionalmente fortes. Séculos de discriminação anti-Romas e de ódio fizeram com que a maioria dos Romas desconfiasse de estranhos. Espera-se que os Romas se casem dentro da tribo para manter a pureza étnica e social, mas, ocasionalmente, alguém se casa fora do grupo. Se um homem Roma se casa com uma gadji (estrangeira), ela pode ser aceita se adotar o modo de vida dos Roma. É mais difícil uma mulher Roma desejar casar com um gadjo; as mulheres são vistas como as guardiãs da sobrevivência do grupo e ao terem filhos com alguém de fora do grupo, a pureza étnica é diluída. Em muitos casos, as crianças de casamentos misturados somente são consideradas Romas se o pai for Roma.
Uma outra impressão equivocada dos Romas é que eles são imorais; esta imagem é personificada por Carmen, uma mulher sedutora e manipuladora, com vários amantes. Na verdade, os Romas seguem um código rigoroso de conduta sexual; espera-se que as mulheres permaneçam virgens até se casarem e o adultério é estritamente proibido. Tradicionalmente, uma menina casava-se entre as idades de nove e quatorze anos, mas a influência gadjikane mudou isto nos últimos anos.
Discriminação
Em toda a história européia, os Romas foram insultados e perseguidos, normalmente sem qualquer tipo de proteção governamental ou legal. A purga nazistas foi a mais infame: 1,5 milhões de Romas pereceram no Holocausto (a palavra Romani é Porrajmos). Hoje, os Roma ainda estão sujeitos a retratos negativos na mídia popular e à discriminação étnica.
INFORMAÇÕES SOBRE A ÓPERA CARMEN
Em 1875, os concertos enfatizavam a música do passado e não a do presente. A Ópera, se apresentada no grande teatro lírico de Paris, L'Opéra, era vista como divertimento grandioso e elegante; se apresentada em um teatro conhecido como L'Opéra-Comique, era um entretenimento sentimental e agradável para a família. Carmen enquadrava-se no primeiro tipo de óperas, apresentando uma saída da tendência romântica para glorificar heróis e heroínas. Embora outras óperas seguissem seus passos (notadamente aquelas de compositores de verismo italiano, Mascagni e Leoncavallo, com alguma contribuição de Puccini), a ópera de Bizet permanece única em sua mescla consumada de cor, melodia, humanidade, paixão e ação física, sem cair no "modismo" da época de glorificar os príncipes antigos, donzelas virtuosas angustiadas ou personagens tirados mais da lenda ou da imaginação do que da realidade. Seus personagens são retirados das classes sociais mais baixas e, no caso da própria Carmen, do pior lado da vida. A ópera termina tragicamente, ainda que sem o enobrecimento que se poderia julgar inerente à tragédia; as emoções expressas não são as de heroísmo, auto-sacrifício, busca do destino ou qualquer característica que se poderia esperar de trabalhos tais como o tratamento de Gounod para a lenda de Fausto, Aida de Verdi ou um grande número de obras românticas. Em vez disso, encontramos vários indivíduos em situações da vida real e somos privilegiados por observar suas reações e por nos tornar emocionalmente envolvidos em suas vidas sem qualquer moralização ou apoteose por parte do compositor.
Carmen, apesar de seu naturalismo, é uma obra intensamente romântica. Pulsa com emoção patente, gira com danças vibrantes e nacionalistas e vai de cenas de cor (a taverna de Lillas Pastia) para locais sombrios e agourentos (a Cena do Cartão, à noite nas montanhas). Há oportunidades para roupas coloridas, para sons instrumentais exóticos (ex.: castanholas na cena da dança no início do Ato II) e para o som dos corais com melodias alegres. Em outras palavras, a ópera de Bizet escolhe assuntos que são a antítese da ópera romântica, porém com um modo de expressão que é romântico.
É curioso que este naturalismo na literatura seja aceito, mas que o mesmo esforço na ópera fosse considerado repreensível. É provável que isto se deva ao fato que o público da ópera tinha menos interesse intelectual do que aquele que lê avidamente o material saído da imprensa na forma de contos, romances ou peças.
As primeiras opiniões sobre Carmen tendiam a ser sem misturas. Aqui estão algumas, escritas por críticos totalmente convencidos que a música para o teatro lírico precisava ser bonita, clara e bem ordenada:
"A ópera de Bizet contém alguns fragmentos maravilhosos mas o assunto invulgar levou-o ao bizarro e à incoerência. Seria necessário reescrever o libreto, eliminando suas vulgaridades e o realismo que é inconveniente para uma obra lírica. Carmen deveria ser transformada em uma moça cigana volúvel em vez de ser uma prostituta e Don José, um vilão e uma criatura odiosa no libreto atual, em um homem possuído pelo amor…"
"Se fosse possível imaginar Sua Majestade Satânica escrevendo uma ópera, Carmen seria o tipo de obra que se esperaria. Após ouvi-la, parece que estivemos assistindo a algum ritual profano, estranhamente fascinante, mas doloroso… A heroína é uma mulher abandonada, destituída não somente de qualquer vestígio de moralidade, mas desprovida de sentimentos comuns da humanidade -desalmada, sem coração e demoníaca. Na verdade, tão repulsivo era o tema da ópera que alguns dos melhores artistas de Paris recusaram-se a se envolver no cast. Na introdução, temos um tema barulhento e ruidoso, que começa de maneira selvagem, sem precedente… Mal nos recuperamos de nossa surpresa quando… uma marcha jovial é ouvida. Isto dá lugar, de repente, a uma frase andante curiosamente cromática, para não dizer feia, que interrompe, dissonante". Londres, Music Trade Review, 15 de junho de 1872.
"Da melodia, como o termo é, geralmente entendido, há somente um pouco". Boston, Gazette, 5 de janeiro de 1879
"O coração do Sr. Bizet, que se tornou insensível pela escola da dissonância e experimentação, precisa recapturar sua virgindade. Carmen não é cênica nem dramática". Paris, Le Siecle, março de 1875
"O Sr.Bizet pertence àquela nova seita cuja doutrina é vaporizar um ideal musical em vez de comprimi-lo dentro de contornos definidos…os temas estão fora de moda, a melodia é obsoleta, as vozes, estranguladas e dominadas pela orquestra, são somente seu eco enfraquecido". Paris, Moniteur Universal, março de 1875
A crítica severa à Carmem foi o resultado de vários fatores. O empresário da casa, Camille du Locle, estava terrivelmente amedrontado em antagonizar seu público e expressou, abertamente, sua repugnância pela música antes de sua première. A imortalidade da história, sem mencionar sua conclusão homicida, foi considerada fora de lugar para um teatro considerado tão respeitável. E uma mulher fumando em cena? Impossível!
Mesmo os membros da orquestra e do coro contribuíram para os problemas associados à obra, pois muitas músicas de Bizet foram consideradas não somente bizarras como também extremamente difíceis de serem executadas.
Embora a ópera tenha sido apresentada quarenta e oito vezes em seu primeiro ano (trinta e sete delas na primeira sessão), isto foi pouco para encorajar opiniões no L'Opéra-Comique. Após a première, o teatro nunca esteve cheio; na verdade, Carmen quase foi retirada após sua quarta ou quinta apresentação e, próximo ao final de sua "temporada", o teatro estava dando os ingressos para estimular a presença.
Em outubro, sete meses após sua estréia em Paris, Carmen teve uma apresentação bem sucedida na Ópera Estadual de Viena; sua aceitação mundial seguiu-se rapidamente. Infelizmente, o público da L'Opéra-Comique teve que esperar até 1883 para ouvi-la novamente.
Talvez a questão toda da relação de Carmen com seu público parisiense possa ser percebida lendo-se algumas das críticas perceptivas ocasionadas por sua primeira apresentação. Theodore de Banville, em Le National, escreveu, cinco dias após a première:
"L'Opéra-Comique, o tradicional teatro de bandoleiros de bom coração, donzelas lânguidas, amores adocicados, foi forçado, violado, tomado de assalto por um bando de românticos descontrolados liderado pelo Sr. du Locle; George Bizet, wagneriano que é contra a expressão da paixão em canções feitas para as melodias de dança…
Se não tomarmos cuidado, eles terminarão corrompendo totalmente nosso segundo teatro lírico, anteriormente uma criança tão doce e bem comportada onde até podíamos ouvir obras maravilhosas…
O Sr. M. Georges Bizet é um desses homens ambiciosos para quem…a música deve ser, mesmo no teatro, não um entretenimento, uma maneira de passar a noite, mas uma linguagem divina expressando a angústia, a insensatez, a aspiração celestial do ser que…é um andarilho em um exílio aqui embaixo…
Em vez desses marionetes bonitos azuis e cor de rosa , que eram a alegria de nossos pais, ele tentou mostrar homens reais e mulheres reais, fascinantes, torturados pela paixão…cujo tormento, ciúme…louca paixão são interpretados para nós pela orquestra transformada em criador e poeta…"
SINOPSIS
ATO I: Espanha, por volta de 1820. Os Dragões do Regimento Almanzar, servindo em Sevilha, estão parados em uma praça fora de suas guaritas, vendo a multidão passar. Seu cabo, Moralès, vê uma linda moça, Micaela, e descobre que ela está procurando por outro cabo chamado Don José. Desapontado, Moralès diz a ela que Don José chegará. Com a mudança da guarda, as crianças aparecem, fingindo ser soldados, enquanto Moralès fala ao recém-chegado Don José sobre sua visitante. Um oficial, Zuniga, aparentemente há pouco tempo em sua posição, pergunta a José se é verdade que há muitas moças bonitas entre os trabalhadores da fábrica de cigarros do outro lado da praça.
Logo, alguns jovens aparecem esperando as moças que trabalham na fábrica durante seu intervalo no trabalho. As moças se reúnem a eles, cantando os louvores do descanso e do fumo. Quando a cigana Carmen sai da fábrica, ela é imediatamente o centro da atenção e obsequia seus admiradores com uma canção sobre a liberdade e a ilusão do amor. Os homens disputam sua atenção, mas ela os ignora em favor de Don José, que a ignora.
Quando ela volta para a fábrica, ela joga para ele uma cássia de seu corpete e ele murmura para si que ela deve ser uma feiticeira. Sua meditação é interrompida por Micaela, com uma mensagem de sua mãe. Embaraçada, ela também dá a ele um beijo de sua mãe, José fica tocado pelas lembranças de casa e vê sua mãe com seus olhos da mente. Na face de deusa simples de Micaela, ele imagina como Carmen foi capaz de distraí-lo mesmo momentaneamente. Micaela deixa-o sozinho para ler a carta de sua mãe, que diz que ele deve se casar com Micaela; José concorda.
Antes que Micaela tivesse uma chance de retornar, entretanto, uma comoção rompe na fábrica e várias das moças vêm correndo para chamar a polícia: Carmen e uma outra moça se envolveram em uma briga. Entre os argumentos sobre quem deu o primeiro golpe, José pega dois soldados e vai para a fábrica e sai com Carmen, a quem ele leva para Zuniga para o interrogatório. Carmen insolentemente recusa-se a responder e esbofeteia uma de suas colegas de trabalho que estavam por perto.
Assim que ela está sozinha, sob custódia de José, ela diz a ele que ele a ajudará a fugir, porque ele a ama: a flor que ela jogou está fazendo sua mágica. José ordena que ela não fale, então ela canta - uma canção provocativa sobre levar seu amor para a taverna de Lillas Pastia, nos arredores da cidade. A raiva e a confusão de José dão margem para as promessas cada vez mais atrevidas de Carmen de que será o amante em questão e ela o persuade a deixar ela escapar. Quando Zuniga sai da guarita com uma ordem escrita para levar Carmen presa, José começa a levá-la embora, mas ela o empurra, desequilibrando-o e foge.
ATO II: Dois meses mais tarde, na estalagem de Lillas Pastia. Carmem canta e dança com suas amigas Frasquita e Mercédès enquanto espera, como ela prometeu, por Don José. Os homens aparecem, aclamando o toureiro Escamillo, que se gaba de suas proezas e gosta imediatamente de Carmen. Ela também se sente atraída por ele, mas o deixa de lado, juntamente com outros amantes em potencial, uma vez que ela espera por José. Quando a estalagem fecha para a noite, Carmen diz a suas amigas que ela não pode se juntar a sua última expedição de contrabando porque está apaixonada.
No momento em que José aparece, estes amigos insistem com ela para arregimentá-lo para o bando. Carmen dança para ele após ele explicar que tinha passado dois meses na cadeia por ter deixado que ela escapasse. Quando cornetas distantes tocam o recolher, entretanto, José diz a ela que tem que voltar para o seu quartel. Carmen caçoa de sua obediência de menino, dizendo que ele não liga para ela. Ele nega isto, descrevendo como ele guardou como um tesouro a flor já murcha enquanto esteve preso e que somente pensou nela.
Tentando persuadi-lo a fugir, ela é dura. José diz que ele não pode se tornar um desertor por causa dela; justamente quando ela tenta colocá-lo para fora, Zuniga aparece para ver Carmen. Confrontando-se com José, que já está atrasado para o quartel, ele ordena que parta, mas José desafia seu superior. Para evitar uma briga, Carmen chama suas amigas ciganas que, com brincadeiras, mantêm Zuniga cativo enquanto José percebe que a sorte está lançada: ele já é um desertor. Os ciganos louvam sua existência livre ao ar livre.
ATO III: Fronteira do país, nas montanhas. Os contrabandistas, José entre eles, cantam os perigos e as recompensas de sua vida. Olhando em direção ao vale onde sua mãe vive, José se arrepende de ter traído suas expectativas. Carmen diz a ele que ele também deveria partir -quanto antes, melhor. Seu relacionamento havia esfriado. Vendo seu temperamento encolerizar-se com sua indiferença, Carmen percebe que ele é capaz de matá-la. Fatidicamente, ela lê as cartas do tarô com Frasquita e Mercédès: onde elas encontram a fortuna e os amores, ela encontra somente morte, primeiro para ela mesma e, depois, para José.
José está de guarda enquanto as mulheres conversam usando seus charmes para desarmar quaisquer guardas civis que possam encontrá-los em seu esconderijo. Após partirem, Micaela vagueia sozinha, tendo encontrado o covil dos contrabandistas. Consciente do poder de Carmen sobre José e os perigos do lugar, ela declara que, com a ajuda de Deus, ela trará José de volta. Ela vê José em um promontório e o chama, mas ele dá um tiro de advertência desafiando um invasor, que é Escamillo em busca de Carmen.
Micaela se esconde enquanto os dois homens se confrontam, sendo que Escamillo logo percebe, pela recepção beligerante de José, que ele é o amante atual de Carmen. Desafiado para um duelo com facas, o toureiro escorrega e somente o surgimento de Carmen salva sua vida. Escamillo diz a José que ele irá lutar com ele novamente quadno José quiser, mas os contrabandistas não querem violência. Escamillo parte convidando a todos perto dele para sua próxima tourada; José tem que ser contido para que não vá atrás dele novamente com uma faca.
Quando Micaela é descoberta, José garante a todos que ela não é uma espiã. Ela implora para que ele vá ver sua mãe que está doente, na cama, e Carmen diz a ele que vá. Jurando nunca deixá-la, ele parte, enquanto a voz de Escamillo é ouvida à distância, repetindo a canção do toreador.
ATO IV: Em uma praça do lado de fora da praça de touros de Sevilha, uma multidão está reunida, com ânimo festivo, comprando bebidas e laranjas. A parada de toureiros, com suas insígnias, é saudada pelas crianças e pela multidão entusiasmada. Seguindo os picadores e os banderilleros, Escamillo agradece a ovação e, quando todos partem para entrar na arena, ele vê Carmen e a puxa de lado para algumas palavras de carinho. Quando ele, também, parte, acompanhando o Alcaide (prefeito) até a competição, Carmen recebe um aviso ansioso de Frasquita e Mercédès de que elas haviam visto José nas sombras; procurado por deserção, ele não pode mostrar-se abertamente. Carmen declara que não tem medo e que falará com ele sozinha.
José aparece e começa em tom de súplica, mas a frieza de Carmen gradualmente o leva ao desespero. Ela declara que tudo está acabado entre eles, que ela viverá livre ou morrerá. Quando as vozes da arena proclamam a vitória de Escamillo e Carmen tenta entrar, José bloqueia a passagem. Enraivecida, ela grita que ele deve deixá-la partir ou matá-la. Com isto, ela joga fora o anel que ele lhe deu, recusando, novamente, o pedido de José para que venha com ele. Ferozmente, ele a esfaqueia, em seguida, ajoelha-se ao lado de seu corpo quando se ouve a multidão cantando a música do toreador. Quando os espectadores horrorizados deixam a arena e o descobrem, ele se entrega, gritando que ele matou sua amada Carmen.
FONTE: http://archive.operainfo.org/broadcast/operaBackground.cgi?id=15&language=4
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