segunda-feira, 11 de junho de 2007

Haydn, Franz - As sete últimas palavras de Cristo na cruz

Ao final do fértil período em que serviu à família Esterházy, Haydn recebeu, em 1785, uma inusitada encomenda, para compor sete adágios destinados a entremear a meditação, na cerimônia das "Sete últimas palavras de Cristo", que seria realizada na sexta-feira santa na Catedral de Cadix. Originalmente composta para orquestra, a obra tem outras versões do próprio Haydn, inclusive a que se destina ao cravo. A obra não tem similar na história da música. Um movimento introdutório e o final "Terremoto" emolduram 7 sonatas em andamentos lentos. O próprio autor dirigiu a obra por diversas vezes e foi a escolhida para a sua última aparição pública, em 26 de dezembro de 1803.
Outro comentário de Cristina Fernandes
"As Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz", Uma Obra Singular e Multiforme "As Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz" é uma obra de características únicas na produção de Haydn e em toda a história da música, quer pelas particularidades da sua estrutura, quer pelo facto de subsistir em versões destinadas a formações diversas. Escrita originalmente em 1786, resultou de uma encomenda oriunda de Espanha, efectuada por um clérigo de Cádiz. Este solicitava uma música puramente orquestral para acompanhar os Serviços Litúrgicos da Semana Santa, que servisse de interlúdio às "Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz". A primeira audição realizou-se na Sexta-feira Santa de 1787 (dia 6 de Abril) na Igreja de Santa Cueva, construída no interior de uma gruta (e não na Catedral de Cádiz, como muitas vezes se diz), sendo a obra posteriormente apresentada em Viena e em Bona. Pouco depois, foi publicada pela editora Artaria em três versões: a original, para orquestra; numa versão para quarteto de cordas, arranjada pelo próprio Haydn (mais tarde incluída na edição completa dos quartetos); e ainda numa redução para piano aprovada pelo compositor. Em 1795, Haydn realizou ainda uma quarta versão da obra, desta feita para coro, solistas e orquestra, que foi estreada em Viena e editada pela Breitkopf e Hartel. É no prefácio desta última edição, redigido por George August Griesinger (futuro biógrafo do compositor), que se conta a génese da obra e se descreve o ambiente da primeira interpretação - os panos negros que cobriam paredes e janelas, uma única luz suspensa do tecto, os pequenos detalhes do cerimonial. "Não era fácil compor sete Adagios sucessivos, cada um deles com cerca de dez minutos, sem cansar o ouvinte ...", confessou o compositor. Estes deviam intercalar as Palavras de Cristo, sendo precedidos por uma Introdução. O conjunto conclui-se com o Terramoto, o único andamento rápido da obra. Para a adaptação do texto da versão vocal, Haydn solicitou a colaboração do Barão van Swieten, futuro libretista de "A Criação" e de "As Estações". A orquestração foi enriquecida em relação à primeira versão, mas a forma mantém-se, com a excepção da adição da introdução confiada aos sopros que precede a quinta Palavra. Todas as restantes são introduzidas por uma declamação salmódica homofónica para coro a quatro vozes "a cappella", que enuncia a Palavra propriamente dita. Um dos múltiplos talentos de Haydn era a habilidade para encontrar novas soluções dentro de esquemas potencialmente limitativos (veja-se o exemplo dos trios para baryton). Nas "Sete Últimas Palavras de Cristo", certamente um desafio estimulante, esta qualidade torna-se evidente ao mais alto nível. Poucos compositores teriam conseguido evitar a monotonia, mas Haydn soube manobrar uma sábia dosagem dos temas, ritmos, modos e tonalidades, tornando contrastantes peças de dimensões semelhantes e sempre em forma-sonata.

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