sexta-feira, 3 de agosto de 2007

ROSSINI, Gioacchino - Petite messe solennelle

Aos 75 anos, depois de ter se aposentado à mais de 30 anos, Rossini, se lança numa nova aventura, escrever uma missa para quatro solistas, coro misto, dois pianos e harmonium. Escreveu em Passy em 1863, por solicitação do conde Pillet-Will por intermédio de sua esposa Louise. A primeira apresentação aconteceu na capela privada de seu hotel localizado na Rua Montcey em Paris, a 14 de março de 1864.
Filippo Filippi, crítico musical de “la Perseveranza”, escreveu a 29 de março de 1864:
“Desta vez Rossini supera-se, que alguma pessoa poderia dizer o que importa da ciência e da inspiração. A fuga é digna de Bach para a erudição. Verdi com um entusiasmo menos evidente em sua carta ao Conde Arrivabene datada de 3 de abril de 1864: Rossini, nestes últimos tempos fez progressos e estudou. Estudou o quê? De minha parte, eu o aconselharia a desaprender música e escrever um outro Barbeiro”.
"Cette fois, Rossini s'est surpassé lui-même, car personne ne saurait dire ce qui l'emporte, de la science et de l'inspiration. La fugue est digne de Bach pour l'érudition." Verdi fait part d'un enthousiasme moins prononcé dans une lettre au comte Arrivabene du 3 avril 1864 : "Rossini, ces derniers temps, a fait des progrès et a étudié ! Etudié quoi ? Pour ma part, je lui conseillerais de désapprendre la musique et d'écrire un autre Barbier."
Rossini designou a Petite Messe, como sendo seu “último pecado da velhice”. Como que se redimindo por ter negligenciado o Criador em uma boa parte de sua fecunda obra, destinando a esta obra uma dedicação especial, ele escreveu o seguinte:
“Meu Deus; está concluída esta pobre e pequena missa. Será que é música sacra mesmo o que eu acabo de fazer ou música sagrada? Eu nasci para escrever ópera buffa, tu sabes bem! Um pouco de silêncio, um pouco de coração, tudo está lá. Seja benigno comigo e me receba no paraíso".
"Bon Dieu; la voilà terminée, cette pauvre petite messe. Est-ce bien de la musique sacrée que je viens de faire, ou bien de la sacré musique ? J'étais né pour l'opera buffa, tu le sais bien ! Peu de silence, un peu de coeur, tout est là. Sois donc béni et accorde-moi le Paradis."
O título da obra já é uma brincadeira, visto que Petite Messe (pequena missa), nada tem de pequena, porque ela dura aproximadamente 90 minutos, resumindo em todos os gêneros, uma candura e uma grandeza profunda que só pode emocionar.
Na sua partitura original, Rossini anotou que a obra deveria ser para um efetivo de “12 cantores de três sexos: homens, mulheres e castrados, seriam suficientes para uma apresentação: sendo 8 para o coro, 4 para os solistas, num total de 12 cherubins. Deus me perdoe pelas considerações. Doze são os apóstolos na célebre pintura de Leonard. Senhor apaga tu mesmo, porque eu afirmo que não haverá Judas no meu almoço, e que os meus cantarão somente no meu almoço e que os meus cantarão com amor teus hinos!”
Após um ensaio, depois da composição privada, a obra foi adaptada para orquestra no verão de 1867, por medo que a primeira apresentação acontecesse somente após sua morte. No entanto é a forma original a preferida até os dias de hoje. Foi apresentada publicamente seis meses após sua morte nas comemorações do seu 77o. aniversário de nascimento. No mesmo ano, as duas versões foram editadas.
Esta Missa é verdadeiramente um testamento musical de Rossini, porque não foi seguida por nenhuma obra importante,anão ser pequenas peças de circunstância, como o hino a Napoleão III, composto para a exposição de Paris. Ele colocou nessa sua obra toda a sua sabedoria, todo o seu fervor e sua audácia: por trás da simplicidade das formas, da modéstia de seu efetivo da a clareza, demonstra uma subtileza muito nova em Rossini. Colocou nela um olhar melancólico pelo passado, mas com uma roupagem com olhos para a modernidade.
A partitura está dividida em duas partes bem distintas, com 7 partes cada uma. A primeira formada pelo Kyrie e pelo Gloria com suas subdivisões, e a segunda pelo Credo, um Prélude religieux instrumental tocado durante o Ofertório, Sanctus, Salutaris e o Agnus Dei.
Ao contrário do Stabat Mater, que é impetuoso e passional, a Petite Messe, escolheu a delicadeza e a intimidade. As nuances fortes para trechos como o início do Gloria e do Cum Sancto Spiritu; as partes extremas do Credo são ligadas tematicamente; o solene Prelúdio religioso; as aclamações do Sactus e do Hosanna do Sanctus e os últimos compassos do Dona nobis pacem proclamado sobre um mi maior triunfal.
Rossini intitulou de Petite Messe “Solennelle”, porque efetivamente são marcantes os tempos de marcha e tempos majestosos. Estes tempos imponentes são banhados por raios ensolarados, raios de verão que passam timidamente através das folhas das árvores, mas sem deixar de apresentar-se de forma jovem ardente de grande claridade.
KYRIE
De início o piano surge com um ritmo inquieto com oitavas glaciais em staccato na mão esquerda, com acordes secos na mão direita. O andamento é em la menor num Andante maestoso. O contraponto do harmonium é retomado pelos solistas e pelo coro quando da evocação do Kyrie eleison. Aos poucos as cores evoluem na direção de tons dourados e mais calorosos, nos dirigindo para uma tonalidade relativa de do maior. Na segunda aclamação – Christe eleison – o coro a cappella apresenta-se um colorido diferente provocado pelo efeito de sotto voce, em um Andantino moderato. Após a borrasca do piano romântico, eis que surge a transparência de um contraponto arcaico em do menor. A terceira e última volta da primeira parte do movimento, é uma reprise fiel do início, embora o percurso tonal seja inverso (do maior a la menor), propiciando um encadeamento harmônico surpreendente.

GLORIA
O segundo movimento, peça do Próprio da Missa, está dividida e, seis parte, sendo que as duas extremas possuem o mesmo formato por sua similaridade. A primeira parte Allegro maestoso, está em fa maior, iniciando-se pelo piano. Após 10 compassos majestosos introduzidos pelo soprano solo seguido pelo coro, o baixo solo interrompe seguindo-se uma oração doce em Andantino mosso, onde se juntam os demais solistas.

GRATIAS
A grande introdução do piano, faz antever a beleza do trio (alto, tenor e baixo), toda a uma finesse e leveza. Um Andante grazioso em la maior. O piano discreto no acompanhamento leva a uma digressão cromática ao meio do andamento.

DOMINE DEUS
O piano inicia com a palavra em uma marcha. Este Allegro giusto, um pouco marcial, introduz a ária do tenor solista, na melhor tradição do bel canto. Uma seqüência de do bequadro, leva a um re maior triunfal, mas antes do final muda toda a paisagem harmônica.

QUI TOLLIS
Novamente o piano introduz alguns acordes introduzindo as duas vozes solistas em um Andantino mosso, na tonalidade de fa maior. Sobre arpejos do piano e acordes do harmonium, apóiam as vozes em seu canto. No meio do movimento há uma passagem para a tonalidade de la bemol maior, voltando novamente para a tonalidade de fa menor até à Coda, que oscila entre fa maior e fa menor.

QUONIAM
Antes da última parte do Gloria, ressurge naturalmente o solo de baixo, não sem antes de um prelúdio pianístico, após três compassos de uma semi-cadencia, a tonalidade de la maior vai se instalando pouco apouco, fazendo surgir um Allegro moderato em forma de uma marcha. Ária nobre é enquadrada por ecos do piano, tirados da introdução. È uma ária bem complexa,mais do que parece a uma primeira vista, com uma estranha forma de refrão onde o primeiro tema do solista não é re-exposto e que o terceiro motivo não passa de uma transposição para uma semitom mais alto que o segundo motivo. Para terminar em grande estilo, o piano realiza um poslúdio que se movimenta cromaticamente até à sétima de dominante de fa maior: do-mi-sol-si bemol. É sobre esta harmonia bem distante da inicial (la maior) que se encerra a seção.

CUM SACTO SPIRITO
Os oito compassos iniciais do Gloria reaparecem no início e no final do movimento. Mas depois de uma introdução solene na tonalidade de fa maior, percebe-se a justificativa estranha do final do movimento antecedente. Neste ponto temos uma Fuga ligeira e viva do coro e dos solistas, que se encerra com a apresentação dos compassos iniciais do piano e do harmonium,que consolidam o edifício antes da Coda, onde se firma equivocadamente a tonalidade de fa maior.

CREDO
Com a indicação de um Allegro cristiano, não sem ironia. Piano e harmonium, solistas e coro são requisitados para afirmar a fé cristã neste movimento. A tonalidade singra por um complexo caminho, passando de mi maior a mi bemol maior. Repetidas à oitava como que batidas de vidro, o movimento termina em suspense, abrindo-se para o próximo movimento, movimento este isolado marcado por um semblante trágico.

CRUCIFIXUS
É um movimento para soprano solo, que reconhece a mãe Maria como amiga de Maria Madalena, vindo chorar ao pé da cruz, anunciando a crucifixão, a morte e ressurreição de Cristo. Ária, breve página cromática em la bemol maior, cheia de graça: este Andantino sostenuto delicado e rítmico.

ET RESURREXIT
O movimento final do Credo, um Allegro em mi maior é ao mesmo tempo otimista, onde acontecem jogos brilhantes entre o coro, piano e os solistas. Os atores deste movimento utilizam-se de elementos do início do Credo, de uma maneira viva. Uma Fuga em mi maior vai concluir o movimento. Quando pensamos ter ouvido tudo, Rossini introduz um acorde de Sol sustenido maior. Os solistas cantam a cappella “in unum Deum” (em um só Deus). Após algumas notas tímidas do piano,o coro fala a palavra do início “Credo”, dando lugar a uma cadencia em mi maior.

PRELUDIO RELIGIOSO
Rossini escolheu escrever um prelúdio e fuga instrumental em fa sustenido menor. Se o Prelúdio e o Postlúdio,em acordes,são massivamente entregues ao piano, a longa fuga central (Andantino mosso) pode ser tocada inteiramente no harmonium, constituindo assim uma introdução ad libitum do Sanctus.

SANCTUS
Um movimento breve, é um Andantino mosso em do maior. Cantado a cappella sobre um ritmo ternário. De estrutura simples, formado por perguntas e respostas entre o coro e os solistas, aos quais são confiados as aclamações do Hosanna.

O SALUTARIS
Rossini ilustra longamente um verso de quatro linhas que na missa anterior ao Vaticano II, ocupava um lugar de destaque na missa. Ele não foi o único a dar destaque a esta serena oração. Músicos franceses e italianos do século XVIII, como Guillaume Nivers (1632-1714), Henry Madin (1698-1748), Giovanni Battista Martini (1706-1784), depois Franz Liszt (1811-1886), escrevendo Motetos para a Elevação para o Santo Sacramento, sendo que este texto tema mesma importância de O sacrum convivium, Panis angelicum, Ecce panis ou O panis Deus. Rossini também utilizou estes textos no seu Motet de 1857.
Em sol maior, é confiado ao soprano solo. A estrutura é simples. Após a introdução pianística em oposição ao A-B-A, uma melodia otimista e luminosa que seu esqueleto de sétima maior ascendente, que acompanha acordes discretos do piano e uma parte central mais veemente, com linhas estáticas ao acompanhamento enérgico, onde os acentos aparecem no início da Coda, que na seqüência, aparecem cromaticamente sobre o primeiro tema.

AGNUS DEI
O último movimento da Missa foi confiado ao Contralto solo com coro, na tonalidade de mi menor. O jogo entre solista e coro, é muito íntimo. O contralto solo conduz toda a ação, induzindo as modulações para mi menor, mi bemol menor e mi menor. Antes da Coda as duas partes, solo e coro, entram em duelo, levando a uma conclusão grandiosa em mi maior, pontuada pelos dois teclados.
Esta missa é uma obra brilhante, um pouco negligente e esquecida para a música religiosa. Podemos montar um quadro e montar um paralelo com a Petite Messe e sua similaridade com suas óperas pontuadas com aberturas, todas marcadas pela beleza.

http://divertimento.w.free.fr/album/oeuvres/messerossini.html

LIBRETO

Musica di Gioacchino Rossini
Kyrie (soli e coro)

Kyrie eleison.

Christe eleison.

Kyrie eleison.

Gloria (soli e coro)

Gloria in excelsis Deo.

Et in terra pax hominibus

bonae voluntatis. Laudamus te, benedicimus te,

adoramus te, glorificamus te.

Domine Deus (tenore)

Domine Deus, rex coelestis, Deus Pater

omnipotens. Domine, Fili unigenite, Jesu Christe.

Domine Deus, Agnus Dei, Filius Patris.

Qui tollis (soprano e mezzosoprano)

Qui tollis peccata mundi, miserere nobis.

Qui tollis peccata mundi, suscipe deprecationem nostram.

Qui sedes ad dexteram Patris, miserere nobis.

Quoniam (basso)

Quoniam tu solus sanctus, tu solus Dominus,

tu solus Altissimus, Jesu Christe.

Cum Sancto Spiritu (soli e coro)

Cum Sancto Spiritu in gloria Dei Patris. Amen.

Credo (soli e coro)

Credo in unum Deum, Patrem omnipotentem,

factorem coeli et terrae, visibilium omnium et invisibilium.

Credo in unum Dominum, Jesum Christum, Filium Dei unigenitum.

Et ex Patre natum ante omnia saecula.

Deum de Deo, lumen de lumine, Deum verum de Deo vero.

Genitum, non factum, consubstantialem Patri:

per quem omnia facta sunt.

Qui propter nos homines

et propter nostram salutem descendit de coelis.

Et incarnatus est de Spiritu Sancto ex Maria Virgine

Et homo factus est.

Crucifixus (soprano)

Crucifixus etiam pro nobis sub Pontio Pilato

passus et sepultus est.

Et resurrexit (soli e coro)

Et resurrexit tertia die, secundum Scripturas.

Et ascendit in coelum: sedet ad dextram Patris.

Et iterum venturus est cum gloria, judicare vivos et mortuos;

cujus regni non erit finis.

Et in Spiritum Sanctum, Dominum et vivificantem:

qui ex Patre Filioque procedit.

Qui cum Patre et Filio simul adoratur et conglorificatur:

qui locutus est per Prophetas.

Credo in unam sanctam catholicam et apostolicam Ecclesiam.

Confiteor unum baptisma in remissionem peccatorum,

et expecto resurrectionem mortuorum et vitam venturi saeculi.

Amen.

Sanctus (soli e coro)

Sanctus, sanctus, sanctus Dominus Deus Sabaoth.

Pleni sunt coeli et terra gloria tua. Hosanna in excelsis.

Benedictus qui venit in nomine Domini. Hosanna in excelsis.

O Salutaris (soprano)

O salutaris hostia, quae coeli pandis ostium,

bella premunt hostilia, da robur, fer auxilium.

Uni trinoque Domino sit sempiterna gloria,

qui vitam sine termino nobis donet in patria.

Amen.

Agnus Dei (mezzosoprano e coro)

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,

miserere nobis.

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,

miserere nobis.

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,

dona nobis pacem.

Amen

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