Quando ainda era jovem de vinte e dois anos, Grieg se encontrou com Henrik
Johan Ibsen (1828-1906) pela primeira vez, mas o grande dramaturgo norueguês
dispensou ao músico pouco mais que polidos agradecimentos por suas palavras de
exaltada admiração. Dez anos mais tarde Grieg já era um músico famoso. Desta vez
Ibsen dirigiu-se a ele em carta, pedindo que escrevesse a música incidental para sua
nova peça – Peer Gynt, e ofereceu a Grieg minuciosas indicações a respeito das
passagens da peça onde a música deveria ser intercalada e até acerca da espécie de
música exigida.
Muitos anos depois, a esposa de Grieg descreveu como ele compôs esta obra prima:
“Durante vários dias mostrou-se nervoso e inquieto, entregue a dúvidas e ansiedade a
propósito de seu pesado encargo. Quanto mais embebia a alma naquele vigoroso
poema, tanto mais claramente via que era a pessoa talhada para uma obra de tão
selvagem feitiço e tão penetrada de espírito da Noruega. No subúrbio de Sandviken,
nos arredores de Bergen, encontrou um pavilhão com janelas para todos os lados,
alcandorado no topo de uma colina... com magnífica vista para o mar, de um lado, e do
outro para as montanhas. A “Canção de Solveig” foi o primeiro número que veio a
lume. Em seguida “A morte de Ase”. Nunca me esquecerei da clara tarde de verão nas
montanhas quando cantamos e tocamos juntos a “Canção de Solveig”. Pela primeira
vez o próprio Grieg sorriu, satisfeito com a canção, e a chamou de “lampadário”. Ele
próprio considerava “A morte de Ase” e a “Canção de Solveig” como suas melhores
obras”.
Assim Grieg concluiu a obra em 1875. Quando a peça de Ibsen, Peer Gynt, foi
representada pela primeira vez em Cristiania, no dia 24 de fevereiro de 1876, os vinte
e dois números musicais (peças instrumentais, vocais e corais) tão eficazmente lhe
realçaram o espírito e a atmosfera que, pelo menos em parte, seu triunfo deve-se à
apropriada música de cena escrita por Grieg.
É curioso que esta música tenha sido escrita por Grieg com muito pouco prazer. Ele
sentia-se incapaz de produzir música digna da obra de Ibsen e esta incumbência pesoulhe
muito: “é um assunto impossível de ser tratado”, queixou-se Grieg a um amigo.
Posteriormente alguns trechos caíram em seu desagrado: “quanto à peça que escrevi
para a Caverna do Rei da Montanha, já não a posso tolerar!” comentou Grieg.
O Peer Gynt de Ibsen era um malandro, um rapaz violento, impetuoso, impudico,
símbolo da degenerescência moral. Rapta a linda Solveig e depois a abandona. Anda a
vagar pelo mundo e tem amores com Ingrid e com a filha do rei Troll na caverna do Rei
da Montanha. Depois de uma rápida visita à casa paterna afim de assistir à morte de
sua mãe, Ase, parte para novas aventuras, desta vez com Anitra. Finalmente, passados
muitos anos, volta ao lar, velho e esgotado, indo morrer nos braços da sempre fiel
Solveig.
Das peças escritas para o drama de Ibsen, Grieg criou duas suítes sinfônicas, que se
espalharam através de todo o mundo musical. A partir destas suítes, a música de Grieg
passou a ter vida própria e independente, conquistando lugar seguro no repertório
orquestral.
Muito bom, saber dessas particularidades.
ResponderExcluirdepois de ver a peça passei a entender como funciona o tema!!
ResponderExcluirExcelente texto!
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