quarta-feira, 18 de julho de 2007

PUCCINI, Giacomo - La Bohème

Giacomo Puccini (1858 - 1924)
Por Puccini ter sido um genuíno talento do teatro, os críticos e acadêmicos sempre tentaram negar seu lugar entre os compositores sérios. O público, no entanto, tem outra opinião e considera Puccini como um de seus compositores favoritos. Nascido em Lucca, Itália, Puccini descendia de várias gerações de músicos profissionais. No início ele não se interessou em dar prosseguimento à tradição da família, mas sua mãe o obrigou a estudar música. Na adolescência Puccini já era um organista suficientemente bom para manter dois empregos como organista de igreja. Atraído por novas invenções e por maquinários, tinha a curiosidade de conhecer o órgão e seu mecanismo de música e divertia-se e improvisava durante as cerimonias religiosas. Vários fatores o levaram à carreira de compositor: a recepção favorável a algumas peças religiosas e uma cantata escritas por ele; a descoberta de Aida, a última ópera de Verdi e as bolsas de estudo de seu tio-avô e da Rainha Margherita de Saboia que lhe permitiram estudar no Conservatório de Milão de 1880 a 1883.A vida da cidade grande nunca agradou muito a Puccini, mas influenciou seu trabalho. Sua existência boêmia como um estudante pobre foi expressa mais tarde na ópera La Bohème. Apesar de sua livre associação ao movimento verismo, um esforço para um teatro de ópera mais natural e acreditável, Puccini não hesitou em escrever peças de época ou em explorar locais exóticos. Na ópera Tosca escreveu um extenso melodrama ambientado em Roma durante o período napoleônico. Para Madame Butterfly Puccini escolheu uma história americana passada no Japão.Gozando de uma aceitação gradual e consistente àquela altura de sua carreira, Puccini estava completamente despreparado para o fracasso total de Madame Butterfly, quando de sua primeira apresentação em 1904. No entanto, acreditava em seu trabalho e revisou a ópera até que fosse aceita. As complicações de Madame Butterfly fizeram com que retardasse o início de seu próximo trabalho e minaram sua autoconfiança, mas durante uma visita a New York, Puccini concordou em escrever La Fanciulla del West, baseada na popular peça de David Belasco The Girl of the Golden West. Apesar de relutar em assumir modernismos -a obra Elektra de Strauss o havia deixado confuso e desgostoso- Puccini, com cuidado, adotou mudanças de tempo em La Fanciulla, absorvendo a influência de Pelléas de Debussy, que ele admirava.A I Guerra Mundial provocou a principal interrupção na vida criativa de Puccini. As hostilidades complicaram suas negociações para escrever uma opereta para Viena, à época território inimigo. A opereta transformou-se então em uma ópera leve, La Rondine, produzida em Monte Carlo e acolhida com frieza no Metropolitan como a tarde decadente de um gênio. Puccini nunca mais recobrou sua superioridade jovial e sua espontaneidade romântica, mas continuou trabalhando seriamente, ampliando seus horizontes. Um fumante inveterado, Puccini teve um câncer de garganta e foi levado para Bruxelas em 1924, para tratamento com um especialista. Apesar do sucesso da cirurgia, o coração de Puccini não resistiu e ele morreu logo em seguida. À época de sua morte, ele estava trabalhando em sua ópera mais ambiciosa, Turandot, baseada na adaptação romântica de Schiller de uma fantasia de Carlo Gozzi, o escritor satírico de Veneza do século XVIII. Em Turandot, pela primeira vez, Puccini escreveu muito para o coro, criando uma variedade orquestral, ampliada e enriquecida, que mostrava uma consciência de Petroucka de Stravinsky e de outros números contemporâneos.
Puccini, Verismo, e La Bohème
A vida de Giacomo Puccini (1858 - 1924) atravessa um período freqüentemente conhecido como a era do realismo. O termo realismo, basicamente, refere-se aos movimentos artísticos e literários nos quais os artistas e escritores centravam-se nos assuntos comuns do dia a dia e os tratavam de maneira "realista" ou "real como a vida". A ópera, entretanto, é uma forma de arte que tinha suas raízes, primeiramente, nos mitos ou no mistério religioso e tradicionalmente louvava heróis sobre-humanos, grande abundância e excesso emocional. Verismo (termo italiano para realismo) é um estilo operístico que surgiu na década de 1890, na Itália, no qual se enfatiza o naturalismo literário, cenários contemporâneos, assuntos relacionados à classe baixa e paixões e ações violentas. La Bohème, um ópera realista, descreve os boêmios que praticam as artes e que são extravagantes ou fraudulentos; eles são ricos somente em seus sentimentos. La Bohème trata daqueles que não têm os meios para viver operisticamente. Como este realismo se impôs na ópera? O realismo não foi somente um movimento nas artes; também foi uma atitude filosófica e uma resposta para as mudanças científicas e sociais sem precedentes do século XIX, especificamente a revolução industrial e as descobertas científicas e suas influências na sociedade. A revolução industrial resultou em um tremendo crescimento das cidades e, portanto, foi responsável por colocar os artistas em contato com todos os tipos de pessoas, incluindo as classes mais baixas. Isto destruiu as suposições que as classes mais baixas eram muito desinteressantes como tema para a arte. A revolução industrial também produziu muitos desenvolvimentos tecnológicos que melhoraram o padrão de vida para todas as classes da sociedade: por exemplo, máquinas de escrever (1868), telefones (1876), lâmpadas elétricas (1879) e cinema (1879). Os desenvolvimentos na ciência, na filosofia e nas ciências sociais resultaram no renascimento do determinismo, a idéia de que os indivíduos não têm o controle de seu destino. As descobertas científicas duvidavam dos ideais religiosos e desacreditaram o idealismo em geral. O Materialismo se tornou a atitude compelativa que substituiu o idealismo. Charles Darwin e Spencer propuseram que a vida evoluiu a partir de causas estritamente materialistas: a variação acidental das espécies e a seleção natural dos mais fortes. Na filosofia, os desenvolvimentos humanos foram atribuídos às causas materiais por Karl Marx e Hegel. Nas ciências sociais, o comportamento dos indivíduos e das sociedades foi explicado como sendo o resultado das influências materialistas concretas - aquelas da hereditariedade e do ambiente. As artes foram influenciadas pela revolução industrial e outros desenvolvimentos e refletiram as atitudes do materialismo e do determinismo. A literatura impediu a apresentação heróica ou dramática dos personagens e dos enredos; em vez disso, ela contava histórias que apresentavam o material puro e sem ornamentos das vidas das pessoas comuns. Conseqüentemente, os personagens principais dos romances se tornaram muito menos heróicos e muito mais parecidos com as pessoas comuns, como em Madame Bovary de Maurice Flaubert (1856), Guerra e Paz de Leo Tolstoy (1869), Vida no Campo de Giovanni Verga (1880) e Nana de Emile Zola (1880). Talvez a música tenha sido a última das artes a ser afetada pelo realismo, pois a música é, acima de tudo, não realista por natureza. Cantar em vez de falar e a música contínua têm o efeito de aumentar e não diminuir a importância do drama e das pessoas representadas, alguma coisa bem oposta à idéia básica do realismo. Entretanto, o realismo talvez não seja tão eficaz na música como nas outras artes porque os compositores ainda precisavam de métodos formais e de estilo, que eram o oposto dos princípios do realismo literário. Puccini era inteligente; ele queria se tornar rico e famoso. Então, escolheu temas operísticos que refletiam a atitude realista e determinista de sua época. Preferia, também, apresentar situações humanas devido a seu efeito dramático, em oposição aos temas místicos e metafísicos. Ele retrata suas heroínas, especialmente, como figuras que não têm poder para controlar ou mudar seus destinos. Em La Bohème, por exemplo, o amor de Mimi por Rodolfo é condenado pela doença dela e pela pobreza dele. Mas o realismo foi um movimento com vida curta. A idéia que os eventos podem ser apresentados realística ou objetivamente limitou o estilo artístico, tanto para Puccini como para as artes em geral. Na virada do século, as descobertas na física teórica feitas por Albert Einstein, Max Planck e outros, contradisseram este dogma; os novos desenvolvimentos argumentavam que o tempo e o espaço não eram fatos objetivos, mas uma questão de perspectiva relativa. Os artistas de todos os campos começaram a refletir esta destruição científica do realismo com uma variedade de enfoques novos, não objetivos e não representacionais. O pós-realismo inclui figuras diversas tais como os escritores James Joyce e Thomas Mann; os pintores Pablo Picasso, Joan Miro e Piet Mondrian; e o compositor de óperas Benjamin Britten. Puccini, também, em sua ópera final, Turandot, afastou-sa verismo e da atitude determinista aí subtendida em relação à vida. Turandot tem um cenário ricamente simbólico de uma antiga lenda chinesa. O realismo, entretanto, não morreu com os desafios da ciência no início do século XX. Na verdade, o realismo continua a ser a maior força da arte comercial de hoje; sua influência pode ser sentida na propaganda, nos filmes e nos programas de televisão e em virtualmente toda a ficção popular.
PERSONAGENS
Rodolfo
(tenor) - Um poeta parisiense pobre que se apaixona por Mimi. Seu ciúme a afasta mas, secretamente, ele está preocupado em não poder dar a ela o cuidado que ela precisa.
Marcello (barítono) - O companheiro de quarto de Rodolfo, um pintor. Ele tem um relacionamento tempestuoso e turbulento com Musetta.
Colline (baixo) - Um filósofo, vive no mesmo apartamento que Marcello e Rodolfo. Ele empenha seu casaco para obter dinheiro para comprar os remédios de Mimi
Schaunard (barítono) - Um músico. Schaunard é o quarto colega de quarto.
Mimi (soprano) - Ela diz a Rodolfo que seu nome verdadeiro é Lucia, mas todos a chamam de Mimi. Ela é uma pobre costureira que está sofrendo de definhamento (tuberculose).
Musetta (soprano) - Uma coquette namoradora, Musetta ama Marcello, mas está sempre tentando deixá-lo
SINOPSIS
Ato I
Véspera de Natal, por volta de 1830. No sótão parisiense que eles compartilham com dois outros artistas, o pintor Marcello e o escritor Rodolfo tentam brincar com o fato de que o inverno os impede de trabalhar. Rodolfo impede seu amigo de quebrar uma cadeira para colocar na lareira e oferece o manuscrito de sua peça ao sacrifício. Um terceiro colega de quarto, o filósofo Colline, entra, reclamando que as lojas de penhor estão fechadas para as festas, portanto, ele não pode empenhar seus livros. Quando o fogo apaga no fogão, os três surpreendem-se com a entrega de lenha e mantimentos, anunciando o retorno do músico Schuanard, que recentemente conseguiu um emprego. Quando os quatro decidem sair para jantar, eles são interrompidos pelo locatário, Benoit, que lembra que eles devem três meses de aluguel. Dando a ele vinho, eles tiram seu pensamento do aluguel e brincam. Dividindo o dinheiro que Schaunard trouxe, eles partem, com exceção de Rodolfo, que quer terminar um artigo antes de juntar-se aos outros. Mal tinha começado a trabalhar quanto ouviu uma batida na porta. Uma jovem aparece explicando que sua vela apagou na escada. Ela se sente momentaneamente fraca e Rodolfo a leva para uma cadeira; ele nota sua aparência de doente e oferece vinho a ela. Ela se prepara para partir mas não consegue encontrar sua chave. Enquanto eles procuram por ela, Rodolfo a encontra e a coloca em seu bolso para que ela fique um pouco mais. Tocando-a por acaso enquanto eles continuam a busca, Rodolfo faz comentários sobre como a mão dela está fria, e, então, pede que ela sente enquanto ele fala sobre seu trabalho. Quando ele pergunta sobre ela, ela diz que seu apelido é Mimi e que costura e borda, mas que prefere as flores verdadeiras da primavera do que as que ela faz. Ouvindo seus amigos chamarem-no do lado de fora, ele se vira para Mimi e declara que ela é o seu sonho de amor transformado em realidade. Aturdida, ela sugere que eles se juntem a seus amigos em um restaurante; eles partem, falando sobre o novo amor que encontraram.
Ato II
Fora do Café Momus, os vendedores e os compradores fazem negócios e Rodolfo compra um gorro cor de rosa para Mimi. Quando eles se sentam em uma mesa do lado de fora, Rodolfo apresenta seus amigos e improvisa um pequeno poema, dizendo que ela é sua inspiração. Durante sua conversa, uma bonita jovem namoradora se aproxima na companhia de um homem mais velho. Marcello reconhece-a como Musetta, um amor do seu passado, e a descreve para Mimi como uma sedutora sem coração. Musetta tenta atrair a atenção de Marcello; quando ele a ignora, ela age cada vez mais escandalosamente, embaraçando Alcindoro, o homem que está com ela. Finalmente ela começa uma valsa popular, fazendo com que os homens a admirem onde quer que ela vá. Isto evoca a resposta esperada de Marcello. Para se livrar de Alcindoro, Musetta finge que seu sapato está incomodando e pede que ele vá buscar outro; assim que ele parte, ela e Marcello se abraçam. O problema começa quando o garçom traz a conta, porque Schaunard, aparentemente, foi roubado, mas Musetta simplesmente pede ao garçom para acrescentar o valor em sua conta, e a deixa para Alcindoro. Quando os soldados da Garde Republicaine marcham, seguidos por crianças animadas, o grupo saúda Musetta como a rainha do Quartier Latin e se dirige para casa, deixando Alcindoro com a conta. Musetta canta sua valsa.
Ato III
Nos arredores de Paris, Marcello e Musetta fixam residência em uma taverna, ganhando seu sustento com a pintura e dando aulas de canto. Mimi aparece, procurando a taverna onde Marcello trabalha. Ele sai e a cumprimenta com surpresa. Embora Rodolfo tenha vindo à taverna, Marcello não sabia o que Mimi estava lhe contando - que o incessante ciúme de seu amante estava destruindo o seu relacionamento. Pesarosamente, Marcello aconselha Mimi a deixar Rodolfo. Quando Rodolfo aparece dizendo a Marcello que pretende terminar com Mimi, ela ouve a conversa por acaso. Primeiramente, ele chama Mimi de namoradora incorrigível, mas Rodolfo finalmente admite sua preocupação real: sua tuberculose somente pode piorar com sua vida de pobreza. Rodolfo percebe que Mimi está lá quando ele ouve sua tosse. Mimi diz a Rodolfo que ela mandará buscar suas coisas, oferecendo seu gorro como recordação e dizendo que eles devem partir sem rancor. Neste meio tempo, Musetta e Marcello saem, no calor de uma discussão e separam-se com termos não muito adequados.
Ato IV
Alguns meses mais tarde, no sótão, Marcello e Rodolfo estão mais uma vez tentando, sem sucesso, trabalhar. Desta vez o problema é a preocupação com as namoradas perdidas, que eles admitem inspirá-los. Schaunard entra com alguns pães e Colline com um arenque, que os quatro fingem ser um banquete, agindo como nobres, dançando e representando um duelo de brincadeira. Interrompendo sua diversão, Musetta abre a porta dizendo que ela trouxe Mimi, que está fraca e doente. Enquanto Rodolfo tenta deixá-la confortável, Musetta explica aos outros que Mimi deixou seu admirador atual para morrer perto de Rodolfo. Musetta dá a Marcello seus brincos para que ele empenhe e compre remédios e chame um médico, e Colline oferece seu casaco, que ele venderá para o mesmo propósito. Mimi reafirma a Rodolfo o seu amor eterno e entrega-se às lembranças de seu primeiro encontro. Após um momento, Marcello volta com brandy, dizendo que um médico está a caminho. Musetta reza. Schaunard é o primeiro a perceber que Mimi, que parece cochilar, está morta. Desolado, Rodolfo grita seu nome.

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