É normalmente uma ária independente, sem o objetivo de compor uma cena ou uma
escrita de alguma ópera ou oratório. Assim a “ária de concerto” é uma peça isolada
para voz e orquestra. Estas “árias de concerto” foram, em geral, escritas para um
determinado cantor. Em ocasiões especiais, na presença do próprio cantor, estas árias
poderia substituir uma ária original de determinada ópera ou oratório, explorando
todas as habilidades técnicas desse cantor.
As árias de concerto mais conhecidas foram escritas por Mozart, muitas delas escritas
para substituir árias de ópera escritas por outros compositores. Uma prática comum
no século 18 com o objetivo de personalizar a opera local e também para atender aos
anseios de um elenco em particular.
A ária “Bella mia fiamma, addio”, K. 528 foi escrita para a soprano Josepha Duschek
(1754-1824) quando da visita de Mozart a Praga. É datada de 03 de novembro de 1787
com texto de D. Michele Sarcone, a partir da peça teatral de Niccolò Jommelli (1714-
1774).
A narrativa a seguir é atribuída ao filho de Mozart, Karl Thomas que foi publicada em
1856 no jornal Berliner Musik-Zeitung Echo vol. 4, nas páginas 198 e 199: “Petranka, é
sabido como sendo a vila em que Mozart gostava de ficar com seus amigos. Durante
sua visita a Praga Mozart escreveu várias partes de sua ópera Don Giovanni. No cume
de uma colina perto da casa onde Mozart estava hospedado, há um pavilhão, e um
dia a senhora Duschek, tomou uma folha de papel de carta, tinta e caneta e dirigiu-se a
Mozart, lhe informando que ele não sairia daquele lugar até que escrevesse uma ária
para ela, já que ele havia prometido. Mozart quando ofereceu escrever a ária, na
realidade não levou este assunto muito a sério, não esperava receber esta cobrança.
Para vingar-se da chantagem da senhora Duschek ele escreveu a ária com várias
passagens de grande dificuldade técnica, com o objetivo de dissuadir a soprano a não
cantar a ária, mas se assim ela teimasse em cantar e apresentasse algum erro, ele
destruiria a partitura.
A sra. Duschek não decepcionou, passou no teste, tanto que Mozart a convidou para
reapresentar a obra, com a adição de outras árias, durante sua turnê pela Alemanha
em 1789 em concertos nas cidades de Dresden e Leipzig”.
Durante o século 18, houve uma forte tendência para qualquer coisa de “exótico”
oriental, nomeadamente a Turquia e a China. Mozart também se aproveitou deste
modismo e escreveu várias obras, destacando as óperas “Die Entführung aus dern
Serail” KV 384 (O Rapto do Serralho) e “Zaide” KV 344, além de algumas árias isoladas.
A ária “Ah se in ciel benigne stele” foi escrita neste espírito, em Viena a 4 de março de
1788 para Aloysia Weber, uma das irmãs da esposa de Mozart (Constanze Weber), a
partir do libreto de Pietro Metastasio (1698–1782) - "L'cinese eroe" (Os heróis
chineses), embora musicalmente quase não se perceba os referidos toques orientais.
No texto a personagem Lisinga (princesa tártara prisioneira dos chineses, amante de
Siveno que era filho de Leang, imperador chinês) pede às estrelas para proteger seu
amante e para que o traga de volta. A tessitura vocal é desafiadora por suas passagens
agudas e virtuoses que são longas e exigindo grande controle técnico e da respiração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário