segunda-feira, 11 de junho de 2007

GUARNIERI, Camargo - SUITE VILA RICA

Esta suíte foi dedicada ao amigo e professor Clovis Salgado e escrita em 1958. Foi escrita para o filme Rebelião em Vila Rica dos irmãos Santos Pereira, em 1957. Sua função original lhe deu um caráter bastante diferente das outras obras do compositor. As estruturas das frases são quadradas e os movimentos individuais não são muito desenvolvidos. Apesar desses pontos demonstrarem de um modo bastante óbvio a função secundária desempenhada anteriormente pelos temas, a obra é interessante.
Estreou no Rio de Janeiro a 10 de abril de 1958, pela Orquestra Sinfônica Brasileira, regida pelo próprio compositor.
Caldeira filho, falando da obra, expressa-se da seguinte forma: “Notável o interesse que Camargo Guarnieri conserva nas peças pequenas, de si despretensiosas e destinadas ao fundo sonoro da película. Ouvidas em concerto, readquirem personalidade e autonomia e nos surpreende pela integral validade sinfônica que possuem”.
Judith Cabette também justificou essa versão: “As seções retiradas do filme, a despeito da diversidade de caráter, apresentam grande unidade estilística e versatilidade no uso da orquestra, onde predominam a claridade e a transparência que imediatamente identificam o autor”.
A Suíte é instrumentada para grande orquestra, com a adição de vários instrumentos rítmicos brasileiros na seção da percussão. Em vários movimentos, a linguagem harmônica é basicamente em terças, empregando ritmos e melodias de caráter indígena. Todo o material temático é original do compositor, com exceção do quinto movimento, que contém uma melodia folclórica do estado de Minas Gerais.
Vila Rica desempenhou um papel importante na história do Brasil. Atualmente denominada Ouro Preto, a cidade é um tesouro da arte colonial, sobretudo no que diz respeito às obras de Aleijadinho. No passado, capital do Estado de Minas Gerais, em 1789 foi palco de uma rebelião em prol da independência do Brasil, assunto tratado no filme.
Primeiro movimento: Maestoso. Pomposo e processional, serve de abertura para a Suíte. Os ritmos e a extensão das frases são regulares. Toda a orquestra é empregada.
Segundo movimento: Andantino. A melodia utiliza-se de um modo antigo, chamado mixolídio, que recebeu um tratamento orquestral tênue. Os instrumentos, em solo ou em pares, se alternam na exposição das frases. A flauta executa um obligato de grande delicadeza na seção intermediária.
Terceiro movimento: Misterioso. As cordas muito espaçadas, estabelecem a atmosfera desse movimento que cresce constantemente. Mais uma vez, as madeiras e os metais se encarregam da atividade melódica, cuja linha é angulosa e cheia de mistério. Harmonicamente, há predominância de intervalos aumentados. Uma quarta aumentada também é encontrada no ostinato final do acompanhamento, confiado aos instrumentos de tessitura grave. Este se alterna entre as tonalidades de do e fa sustenido maior e o movimento finalmente se resolve em um acorde de si maior. A oscilação entre mi e fa do ostinato é mantida pelas cordas ao longo de quase todo o movimento.
Quarto movimento: Scherzando. As cordas novamente fornecem o acompanhamento rítmico da rápida melodia a vários instrumentos de sopro, sobretudo à flauta. O centro tonal é sol maior. Este movimento tem alguns sons isolados que se afastam das terças.
Quinto movimento: Agitado. A galopante fórmula de compasso 3/8 é a base da pequena melodia folclórica tratada imitativamente pelas madeiras e pelos metais. A acompanhamento é confiado novamente às cordas. A melodia Tim-tim, um brinde antes da bebida, é uma canção popular do Estado de Minas Gerais.
Sexto movimento. Alegre. As cordas iniciam este movimento com os primeiros violinos expondo a pequena melodia sincopada e dançante. No início, os sopros comentam o material temático, porém s encarregam do tema na segunda metade desse curto movimento. O uso do triângulo, intensifica o caráter delicado.
Sétimo movimento. Valsa. Moderado. As frases melódicas são confiadas aos vários instrumentos de sopro. O oboé desempenha um papel de grande importância ma primeira seção. As cordas assumem papel preponderante na seção central. A peça tem forma típica, com um Da Capo. Em comum com a modinha, tem a tonalidade menor e uma certa nostalgia.
Oitavo movimento: Saudoso. Mais uma vez a melodia melancólica é confiada a vários instrumentos, em solo ou em pares, principiando pelo clarinete à qual mais tarde se junta uma flauta. Ao longo de toda a peça, os sutis padrões sincopados são mantidos pelos instrumentos de percussão. A peça exsuda a atmosfera da modinha. Toda a orquestra é utilizada na segunda metade do movimento.
Nono movimento. Humorístico. A escrita é fragmentada, com pequenas zombarias melódicas introduzidas pelos grupos instrumentais. A pequena e viva linha melódica usa tanto o sétimo grau natural quanto a sétima abaixada da escala. Este movimento é particularmente brilhante, orquestral e ritmicamente.
Décimo movimento: Baião, Gingado. O título indica a fonte de inspiração final, uma das mais cintilantes danças de origem negra da Bahia. A melodia é fortemente sincopada e obviamente lídia, primeiramente exposta pelo oboé sobre persistente acompanhamento rítmico das cordas. O movimento é mais ousado que os anteriores por suas relações politonais e pela seqüência dos acordes. Apesar de começar no modo lídio em fa maior, ele se desloca para do maior no desenvolvimento bastante extenso e termina, de modo surpreendentemente, novamente em fa maior.

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