terça-feira, 8 de maio de 2007

BEETHOVEN, Ludwig van - Concerto para Piano, nº 3, op. 37, em dó menor

Beethoven compôs este concerto numa época particularmente angustiante da sua vida: a da descoberta da surdez. Na virada do século, a posição social e o prestígio do compositor chegaram a um nível considerável. As encomendas se sucediam e, segundo suas próprias palavras, “para cada obra há oferta de seis, sete editores”. Os seus adversãrios não o incomodavam ; a cada novo sucesso emudeciam. A crise pessoal de Beethoven teve início em 1799, quando os primeiros sintomas começaram a se manifestar. Em 1801, a situação tornou-se alarmante, e o diagnóstico final não tardou. As cartas escritas pelo compositor no período testemunham seu profundo abatimento; a tendência de isolamento se agrava. Diz, com um acento amargo: “...se tivesse qualquer outra profissão seria mais fácil, mas na minha é uma maldição terrível... Para os meus inimigos, e os tenho num belo número, o que poderei dizer?” Mas toda essa prostração não o impediu de realizar, durante este curto período de dois anos, a composição de suas duas primeiras sinfonias, e, nada menos que doze sonatas para piano (além de outras obras camerísticas). No Concerto nº 3 é quebrada definitivamente a forma convencional de oposição entre solista e orquestra; há um verdadeiro diálogo entre ambos, já prefaciado, entretanto, nos últimos concertos para piano de Mozart. O rigor e a elaboração com que trata a estrutura formal dos temas e seus desenvolvimentos são transplantados agora para o gênero concertante. Se pensarmos de maneira historicista, há um avanço significativo da forma em relação àquela do século XVIII. A tonalidade escolhida por Beethoven para este concerto lhe é cara: dó menor (a mesma da Sinfonia nº 5). O tema inicial do primeiro movimento é irrompedor, descreve um arco melódico, próximo do da Sinfonia nº 3 (“Eroica”); o tema subsequente é de ambiente lírico, contrastando de modo exemplar com o vigor do primeiro. A partir deste material, orquestra e piano se encadeiam de maneira equilibrada. Esta perspectiva se repete, tanto no poético e intimista segundo movimento, quanto no impetuoso terceiro movimento. Eddynio Rossetto

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