Os rios Sena, Tâmisa, Reno, Danúbio e até o Volga nos são familiares, trazendo à nossa memória o conteúdo de antigas aulas de geografia. O Danúbio que atingiu o status de valsa nos faz lembrar Viena e Budapest, mas sua nascente está na Alemanha. O Reno de nacionalidade suíça, passa a ser destaque como rio alemão e serviu de coadjuvante para uma das óperas de Wagner. Com toda essa fama, nenhum deles se transformou em tema de poema sinfônico. O rio Moldau (Vltava) que banha a cidade de Praga deu nome a mais famosa composição do compositor tcheco Bedrich Smetana (1824-1884). Sua obra Ma Vlást (Minha Pátria) é composta por um ciclo de seis poemas sinfônicos, chamados Vysehrad, Vltava, Sárka, Das Florestas e Campos da Boêmia, Tábor e Blaník. O “Moldau” (Vltava), é certamente a mais perfeita descrição musical de um rio feita até hoje. A abertura executada pelas flautas sugere um córrego que vai crescendo e a medida em que a orquestra passa a desenvolver o tema principal, o rio começa a ganhar corpo. A música é inesquecível e reflete o curso do Moldau atravessando as florestas da Boêmia, suas águas refletindo as imagens de velhos castelos, testemunhos de uma era de esplendor. Ao chegar o momento em que a orquestra atinge uma cadência marcial, podemos imaginar o imenso rio chegando a Praga. Por sinal, a palavra “Vltava” tem origem no dialeto teutônico e significa “água selvagem”. Smetana formou com Liszt, Chopin, Grieg, Sibelius e Dvorák (não esquecer os russos de São Petersburgo) o grupo de compositores chamados de nacionalistas. Nascido em Litomysl na Boêmia, o jovem Smetana foi estudar música em Praga. Estimulado por Liszt, abriu uma escola de piano e deu início a suas primeiras composições. Em sua Sinfonia Festiva já se pressentem as sementes do nacionalismo tcheco. Sua obra “Os Brandenburgueses na Boêmia” foi a primeira ópera cantada em tcheco e seu sucesso garantiu a nomeação do compositor para o cargo de diretor e regente principal do Teatro Provisório de Praga, mais tarde denominado Teatro Nacional de Praga. A consagração de Smetana chega no ano de 1866 quando da estréia de sua ópera cômica “A Noiva Vendida”. Até hoje ela é considerada a ópera “oficial” da nação tcheca, sensibilizando o coração do público com a música baseada no folclore e danças nacionais. A vida pessoal de Bedrich Smetana foi dramática. Sua primeira esposa, Katerina Kolárová morreu tuberculosa, e três de suas quatro filhas morreram de difteria e escarlatina. Em 1874 surgiram os primeiros sinais da sífilis que lhe atacou a audição. Smetana passou os últimos anos de sua vida em surdez total, como Beethoven. Ainda conseguiu compor duas óperas, seu segundo quarteto de cordas e várias outras obras. Em 1883, o estágio terciário da doença levou-o a insanidade. O pai da música tcheca morreu confinado num sanatório, em abril de 1884. De suas seis óperas, merecem registro “A Noiva Vendida” que faz parte do repertório internacional, bem como “Dalibor” e “Libuse”. O compositor também nos deixou os Quartetos nº1 – “De Minha Vida”, nº2 em ré menor e o Trio em sol menor para piano violino e cello. Suas músicas mais conhecidas para piano são as Dez Danças Tchecas e as Polcas. Mas o grande sucesso musical que o projetou internacionalmente foi o “Moldau”.
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