segunda-feira, 24 de setembro de 2007

STRAUSS, Richard - Don Juan, Opus 20

Envolvido em experiências amorosas turbulentas, Strauss voltou-se para a lenda de Don Juan – “o maior assunto erótico de todos os tempos”, na opinião de Norman del Mar -, onde encontrou um perfeito “veículo para a expressão de seu desejo sexual”. Baseou-se na peça em versos, deixada inacabada por Nikolaus Lenau, publicada postumamente em 1851. A partitura, concluída em 1888, trazia três citações da obra desse poeta romântico, nas quais o herói colocava a sua filosofia de vida. Na primeira, falava de sua atração irresistível pelo feminino e fazia o elogio da experiência momentânea, do “estar – aqui”. Na segunda, confessava sentir um amor diferente em relação a cada objeto amado, ao mesmo tempo em que via no amor físico uma forma de renascimento. Na última, percebe-se que ele não aceitava ser vítima de uma depressão, afirmando que, dentro de horas, já estaria novamente de posse de todo seu vigor.
Durante o decorrer da obra, notam-se duas cenas de amor, uma outra de carnaval e uma de duelo, em que o vitorioso Don Juan entrega o peito para o golpe mortal desferido por Don Pedro.
Do ponto de vista formal, surge como um primeiro movimento de sonata; harmonicamente, a obra é muito sofisticada, e do ponto de vista rítmico, priviligia, sobretudo nos momentos mais animados, as pulsações dinâmicas que sugerem agitação. O primeiro tema principal, entregue aos violinos, surge nos primeiros compassos e é formado por quatro motivos básicos que serão desenvolvidos dentro do contexto da obra. Esse tema tem por finalidade mostrar o caráter turbulento de Don Juan, homem tomado pela paixão e pelo enorme prazer de viver. Após essa exposição, surge uma momento de transição, que se chama de ponte, que parece simbolizar um flirt de Don Juan. No desenvolvimento, os temas heróicos passam a ser desenvolvidos e o fim deste desenvolvimento é marcado pela presença de um acorde dos instrumentos de sopro. A grande cena de amor da partitura aparece associada ao solo de violino que desenvolve longa melodia à maneira de uma canção, que logo toma conta de toda a orquestra. Esse episódio chega ao fim com a volta dos motivos relacionados com o herói. Aí a metáfora sonora daria a impressão de que Don Juan coloca-se fora do alcance de sua mais recente conquista, a fim de procurar uma nova aventura, que é marcada pelo solo de oboé, que traz á tona nova melodia apaixonada, tema este que se desenvolve por todos os instrumentos de sopro, voltando sempre para o oboé, mostrando assim uma profunda experiência amorosa de Don Juan. Em seguida ouve-se um triunfante tema apresentado pelas trompas, mostra que ele saiu vitorioso dessa nova conquista. Um novo desenvolvimento é conhecido como “Cena de carnaval”. Uma nova reexposição surge com os temas relacionados a Don Juan, que corresponde á parte final do drama, a do duelo com Don Pedro. O final do desenlace acontece na Coda. Um acorde em tom menor, marcado pelos trompetes em um intervalo dissonante, mostra o golpe mortal deferido contra Don Pedro. O estremecimento das cordas e os pizzicati em pianissimo funcionam como uma última reflexão sobre o destino do herói.

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