quarta-feira, 30 de maio de 2007
GLINKA, Mikhail - Ruslan e Ludmilla - Abertura
GERSHWIN, George Um americano em Paris
A peça se inicia com vários temas que sugerem um passeio por Paris. O "americano", turista assumido, desce o Champs-Elysées e vai sentar-se na mesa de um bar do Quartier Latin. Neste trajeto, guarda várias impressões: uma briga de taxistas (para a qual Gershwin exigiu verdadeiras buzinas de automóvel), cujas buzinas são geralmente representadas pelos trompetes; suas andanças sem destino na frente dos teatros de music-hall, evocadas em uma canção popular executada pelo trombone; um flerte imaginário durante um passeio pela margem esquerda de Paris, representado por um diálogo entre a clarineta e o violino, em solos alternados.
O tom é nostálgico, numa transição para o blues, como se o americano sonhasse... com a América. O exotismo de Paris é ignorado. Surge então um ritmo de charleston, pelos trompetes, para espantar a melancolia. Por fim, na repetição de todos os temas anteriores, evoca-se o encontro do ‘americano’ com um conterrâneo, com o qual troca impressões da cidade. O tema nostálgico volta mais pomposo. Retorna, por fim, o motivo do passeio inicial e a coda conclui sobre o tema de blues triunfante. A peça ganhou o mundo ao ser tema do filme homônimo estrelado por Gene Kelly, Leslie Caron e Cyd Charisse, considerado uma das melhores produções musicais de Hollywood.
GERSWHIN, George - Rhapsody in Blue
Na estréia do espetáculo, estavam na platéia nomes ilustres como Stravinsky, Rachmaninov e Leopold Stokowski. O sucesso foi tamanho que o nome de George Gershwin entrou, definitivamente, para a história artística dos Estados Unidos.
George Gershwin escreveu a Rhapsody in Blue para 2 pianos, e foi Groffé quem orquestrou a versão sinfônica que ficou famosa. O próprio Gershwin criou depois sua versão definitiva, para piano solo.A Rhapsody não é de fato uma composição. É uma colagem de diversos parágrafos. Na verdade, pode-se eliminar uma parte, trocar os temas de lugar, inverter trechos, tocá-la com qualquer número de instrumentos... mas, no fundo, a peça sempre será identificada como a Rhapsody in blue. A unidade da obra é a sua qualidade. Cada tema isolado da Rhapsody in blue tem harmonias e proporções ideais. Os temas são cantáveis, límpidos, ricos, comoventes. Não creio que tenha aparecido nesta Terra um melodista tão luminoso como Gershwin, desde Tchaikovsky.
GERSHWIN, Geoge - Catfish Row
GERSHWIN, George - Abertura Cubana
A descoberta dos instrumentos de percussão cubanos, porém, fez com que Gershwin refizesse a partitura.
O compositor explora de tal forma os efeitos sonoros dos tipos de instrumentos do folclore cubano - principalmente as maracas e os bongos -, que seu estilo chega a ficar irreconhecível. A estréia da obra - em 16 e agosto de 1932, com a New York Philarmonic, sob a regência de Albert Coates - foi um sucesso. Embora tenha caído no gosto popular americano, a peça não conquistou o público europeu.
FRANCK, César – Sinfonia em re menor
A obra é dividida em três movimentos, mas encontramos na partitura a divisão de quatro partes, que o próprio Franck explicou: “trata-se de uma sinfonia clássica... após o primeiro movimento vem um Andante e um Scherzo, ligados um ao outro. Eu os quis de tal forma que cada tempo do Andante igualando um compasso do Scherzo, este pudesse, após o desenvolvimento emparelhado dos dois trechos, se sobrepor ao primeiro. Eu consegui resolver o meu problema”.
Primeiro movimento: Lento. Allegro non troppo: Inicia-se com uma Introdução em movimento lento, em compasso quaternário, e formado por um único tema apresentado pelas cordas graves. A este tema sucede um breve canto nos violinos antes de uma seção do Lento. Surge uma repetição textual da introdução na terça menor superior em fa menor. As duas tonalidades da sinfonia são a de re menor e a de fa menor. O tema principal do Allegro non troppo é derivado do motivo inicial, fazendo surgir uma segunda série de pequenos temas na tonalidade relativa de fa menor. Um dos temas é melódico tendo como base a nota “la”, o outro é sincopado mas com características vigorosas.
O desenvolvimento possui características cromáticas e ouve-se um cânone construído sobre a célula inicial, trazendo o tema inicial de re menor, que introduz a reexposição. Após o desenvolvimento, surge a Coda final.
Segundo movimento: Allegretto. Destaca-se a melodia do Corne Inglês, acompanhado pelas cordas em pizzicato, como tema principal. Um segundo tema adjacente surge nas cordas, só que na tonalidade de si bemol maior. O Scherzo, propriamente dito, surge apoiado sobre trêmulos das cordas em contraponto aos ritmos pontuados do clarinete. Ao final os dois temas secundários dialogam entre si, concluindo o movimento.
Terceiro movimento: Allegro non troppo. Este movimento tem características de uma grande recapitulação trazendo de volta a recapitulação dos temas utilizados durante toda a obra, segundo o próprio Franck “eles fazem o papel de elementos novos”.O tema inicial do movimento é apresentado de forma viril, enquanto que surge um motivo coral nos metais na tonalidade de si bemol. Na seqüência, ouve-se o motivo do segundo movimento, do Corne Inglês, como desenvolvimento. Para concluir, todos os temas do primeiro movimento são ouvidos. A conclusão é realizada com o tema final num grande tutti.
FERNANDEZ, Oscar Lorenzo - Batuque
Nenhuma obra deste compositor obteve tanto reconhecimento internacional quanto o Batuque (1930), terceira parte da suite Reisado do Pastoreio, o qual mereceu a honra de ser dirigido por Arturo Toscanini, no Rio de Janeiro, embora tenha sido estreado pela Orquestra do Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro, sob a regência de Francisco Braga, em 29 de agosto de 1930.
Pelo seu colorido, pelos ritmos repletos de sensualidade e originalidade, a peça é considerada uma das mais envolventes e empolgantes páginas sinfônicas brasileiras. Quem melhor define o Batuque é o professor Luiz Corrêa Azevedo: "Noite alta; do fundo do bosque ouve-se um ritmo surdo de dança. É o batuque selvagem dos negros que, num formidável crescendo, leva ao paroxismo. Inicia-se pelos instrumentos de percussão. Os contrabaixos e demais cordas formam o ambiente rítmico pelo qual as trompas, respondidas pelo trombone, e depois os outros metais, entoam um tema que ampliado ganha toda a orquestra. Passado o clímax, a sonoridade diminui e um novo ritmo em pianíssimo se impõe; sobre esse ritmo, confiado às cordas e à percussão, ouve-se o canto dos trompetes que é respondido pelas trompas e depois outro tema dado pelas madeiras e outro tema grandioso tocado pelos metais. Aos poucos diminui a sonoridade até o pianíssimo que é atingido quando as cordas encontram a forma melódica do desenho inicial. Inicia-se o empolgante crescendo que encerrará a obra com reminiscências de vários temas habilmente combinados."
FAURÉ, Gabriel – Pelléas et Mélisande, Op. 80 – música de cena
Ao retirar uma suíte sinfônica desta obra, Fauré não utilizou a orquestração original de seu aluno, mas re-orquestrou-a numa forma mais ampla, recriando a atmosfera do texto original de Maeterlinck. A formação orquestral da suíte ficou a seguinte: 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, 2 harpas e cordas. Estreou, sem a Siciliana, a 3 de fevereiro de 1901 em Paris, nos concertos Lamoureux, sob a regência de Camille Chevillard.
Em Londres, o primeiro ato iniciava com um Prelúdio, Quase adágio em sol maior, cujo primeiro tema, o de Mélisande, é apresentado pelas cordas. O segundo tema é apresentado pela flauta e pelo fagote. O clarinete e o oboé intervem no desenvolvimento culminando com um fortíssimo e allargando, seguindo com um movimento cromático descendente, culminando na Coda, na tonalidade de mi bemol, com a participação da trompa, evocando Golaud, o feroz - marido de Mélisand.
A Fiandeira é um Andantino quase allegretto, cujo primeiro tema é apresentado pelo oboé na tonalidade de sol maior. Um segundo tema, mais amplo que o anterior, agora na tonalidade de sol menor, deixa pairar sobre este breve episódio a sombra de uma tragédia, enquanto o acompanhamento continua imitando o ruído da roca.
A Siciliana, um Allegro molto moderato, foi escrita inicialmente para a música de cena do Bourgeois Gentilhomme, que ficou inacabada. Seu sucesso londrino deu a Fauré a idéia de retoma-la na suíte orquestral, da qual tornou-se um de seus trechos mais conhecidos.
O Molto adágio é baseado em um motivo composto por quatro notas – re, la, si e re – que é encontrado na Canção de Mélisande, na qual Fauré a reutiliza a música no “Crepúsculo” de seu ciclo “A Canção de Eva”, bem como no segundo tema da Fiandeira.
FAURÈ, Gabriel - Requiem Op. 48
Em coerência com essa idéia, Fauré suprimiu a seqüência do “Dies irae” e incluiu trechos como o “Pie Jesu” e a antífona “In paradisum”, que fortalecem a visão da morte como libertação e não como coisa ruim.
O falecimento de seus pais parece ter sido a causa desse projeto, começado em 1887. Inicialmente, compôs um Requiem em 5 movimentos, para o coro de La Madeleine de Paris, do qual era diretor, e para uma pequena orquestra (viloas, violoncellos, contrabaixos, harpa, timbal e órgão). Foi assim apresentado em 16 de janeiro de 1888. Mais tarde, acrescentou o “Ofertorium” e o “Libera me” e, em 1898, ampliou a orquestração. A estréia da versão definitiva ocorreu no dia 12 de julho de 1900, no Trocadero de Paris, e foi um grande sucesso.
O primeiro movimento, que compreende Introitus e Kyrie, abre-se com um “tutti” da orquestra; densa amálgama em cujo desvanecimento as vozes, murmurando, entoam o Requiem aeternam. Os instrumentos, limitados às cordas mais graves, alternam-se com o coro, até que, finalmente, se unem nas sucessivas repetições do Luceat eis, numa atmosfera de grande devoção.
O órgão adquire maior protagonismo e os tenores voltam a expor as palavras do início, com uma melodia mais ampla e efusiva. Intensos acordes de sopranos anunciam o Te decet himnus. Um ambiente trágico envolve as súplicas do Exaudi orationem meam, mas o Kyrie, cujas frases conservam certo parentesco com o espírito do canto gregoriano, tende a uma melancólica resignação.
A introdução do Ofertorium nas cordas, expõe uma estranha nudez. A calma intensifica-se no “Cânon”, reservado às contraltos e aos tenores. A assombrosa mestria contrapontística de fauré desenvolve-se em tênues modulações e imitações que anulam a rigidez formal, com um acompanhamento mínimo de cordas e órgão.
O eixo da estrutura tripartida é constituído por um solo para barítono, Hostias et preces tibi, onde o terreno se manifesta numa instrumentação mais completa.
Sobre os arpejos de cordas e harpa, o coro a duas vozes contesta o Sanctus, enquanto os violinos apresentam, repetidamente, um motivo que flutua num clima absolutamente etéreo, através de frases simples e de uma orquestração rica e delicada.
Estes mesmos recursos serão retomados no último número, quando, de novo, são sugeridos os espaços celestiais. O suave discorrer é interrompido pelos acordes de metal e órgão, que sublinham a elevação “in excelsis” do Hosana.
O Benedictus> é substituído pelos dosis versos finais da Seqüência para os mortos, o Pie Jesu para soprano. A celebridade alcançada por esta página deve-se tanto à belíssima melodia e à confiança que expressa, quanto à sua refinadíssima instrumentação.
A doçura do tema que abre o Agnus Dei, com violinos e órgão, equilibra-se com o outro, mais sombrio e ponteado de metais, quando já está presente todo o coro. Os tenores representam o motivo inicial e as sopranos, às quais se unem as vozes reestantes, entoam o Lux aeterna. O segundo tema leva, através de uma progressiva intensificação, a um dos clímax da obra, potenciado pelos metais e pelo silêncio posterior. Reaparece brevemente o Requiem para finalizar com a mesma melodia do começo, plena de esperança.
Os elementos dramáticos aparecem no Libera me. O solo de barítono expressa o temor ante o Juízo Final com obsessivos “pizzicati” de cordas. Quando a angústia alcança um nível insuportável, o coro e os violinos chegam para aliviar o sofrimento e surgem os apelos do metal, anunciando, nas vozes, o terror do Dies irae, para retomar em seguida o tema do Libera me.
A visão da Jerusalém celestial ocupa o último número, In Paradisum. A etérea atmosfera, anunciada no Sanctus, revela-se aqui com plenitude. O motivo de órgão cria uma hipnótica tranqüilidade, descrita pelos sopranos e iluminada por violinos e harpa, que recorda a mensagem final de paz eterna, requiem, com o qual o caminho para a ressurreição chega ao seu término.
INTROITUS
Requiem aeternam dona eis, Domine,et lux perpetua luceat eis.Te decet hymnus, Deus, in Sion,et tibi reddetur votum in Jerusalem.Exaudi orationem meam;ad te omnis caro veniet.
KYRIE
Kyrie eleison.Christe eleison.Kyrie eleison.
OFFERTORIUM
Domine Jesu Christe, Rex gloriae,libera animas defunctorumde poenis inferni,et de profundo lacu.Libera eas de ore leonis,ne absorbeat eas tartarus,ne cadant in obscurum.Hostias et preces tibi,Domine, laudis offerimus.Tu suscipe pro animabus illisquarum hodie memoriam facimus.Fac eas, Domine,de morte transire ad vitam,quam olim Abrahae promisisti,et semini eius.
SANCTUS
Sanctus, sanctus, sanctus,Dominus Deus Sabaoth.Pleni sunt coeli et terragloria tua.Hosanna in excelsis.
PIE JESU
Pie Jesu Domine,dona eis requiem,requiem sempiternam.
ANGUS DEI
Agnus Dei,qui tollis peccata mundi,dona eis requiem,requiem sempiternam.
LUX AETERNA
Lux aeterna luceat eis, Domine,cum sanctis tuis in aeternum,quia pius es.Requiem aeternam, dona eis, Domine,et lux perpetua luceat eis.
LIBERA ME
Libera me, Domine,de morte aeterna,in die illa tremendaquando coeli movendi sunt et terra,dum veneris judicaresaeculum per ignemTremens factus sum ego, et timeodum discussio venerit,atque ventura ira.Dies illa, dies irae,calamitatis et miseriae,dies magna et amara valde.Requiem aeternam, dona eis, Domine,et lux perpetua luceat eis.
IN PARADISUM
In paradisum deducant te angeli,in tuo adventususcipiant te martyres,et perducant tein civitatem sanctam Jerusalem.Chorus angelorum te suscipiat,et cum Lazaro quondam paupereaeternam habeas requiem.
FALLA, Manuel de - Noites em um jardim de Espanha
Entre 1902 e 1907, ficou inspirado pelos ensinos de Felipe Pedrell, professor na Academia Real em Madrid, hoje conhecido como o fundador do nacionalismo na música espanhola, tendo entre seus alunos os nomes mais expressivos desta época-chave da história da música ibérica: Isaac Albéniz (1860-1909), Enrique Granados (1867-1916) e Roberto Gerhard (1896-1970). O ensino de Pedrell era decisivo e resultou na composição de La Vida Breve, embora a obra tenha tido de esperar até 1913 para estrear.
Em 1907, de Falla mudou-se para Paris, onde morou em circunstâncias precárias até 1914. Lá, recebeu apoio e ganhou a amizade de Debussy, Ravel e Dukas, todos com grande admiração pela Espanha e sua cultura. A influência musical que este trio de compositores franceses exerceu sobre de Falla pode ser ouvida no concerto para piano Noches em Los Jardines de España, composta entre 1911 e 1915.
A obra é dedicada a Ricardo Viñes, importante promotor da música de Debussy, Ravel e Satie e, de fato, de todos os principais compositores para piano da época. Afinal, Viñes não conseguiu agendar a estréia, e a primeira apresentação acabou ocorrendo em 9 de abril de 1916 por José Cubiles, também nascido em Cádiz, sob regência do maestro Ernandez Arbós, grande amigo e colaborador de Albéniz, com a Orquestra Sinfônica de Madrid.
De muitas maneiras a obra nega a expectiva do ouvinte que espera assistir a um concerto para piano convencional. Em primeiro lugar, não se conforma à tradição, de ter uma predominância de escrita brilhante e extrovertida, especialmente nos movimentos externos, pois o clima em geral é calmo e introvertido, especialmente nos primeiros dois movimentos, Allegretto tranquillo e misterioso e Allegretto giusto.
Mesmo o terceiro movimento, Vivo, encaminha para um final lento, sostenuto, intenso e piano-pianissimo (ppp), todos estes sendo termos que predominam nos últimos compassos desta música.
Evidentemente de Falla estava com outras intenções além de adicionar mais um concerto romântico ao repertório desta vez de sabor espanhol. Em vez disso, a obra revela a intenção de penetrar a substância e alma interior do cante jondo, ou, como de Falla costumava dizer, da “canção primitiva da Andaluzia”.
Na nota de programa que escreveu para a estréia, o compositor explicou que, embora tenha seguido “um plano bem estruturado em termos de tonalidade, ritmo e melodia”, também declarou com orgulho que a única proposta da obra era “evocar lugares, sensações e sentimentos”.
Apesar da influência periódica de Ravel na sua escrita para o solista, as melodias e a linguagem da orquestra derivam claramente da música regional, das canções e danças da Andaluzia, De Falla encerrou seus comentários dizendo que a música não pretende ser descritiva – com certeza, uma alusão aos poemas sinfônicos de Richard Strauss, muito apresentados na época.
A música é meramente expressiva, escreveu de Falla, adicionando o seguinte aviso em tom quase sinistro: “É inspirada em algo muito maior que os sons das festividades e danças. Luto e mistério também fazem a sua parte”. Sem dúvida, de Falla nunca aceitaria a descrição desta obra como um "concerto para piano". Preferiu sempre o termo "noturnos" em vez de "movimentos" e, por isso, resolveu intitular esta música única, sugestiva, sombria e sobretudo poética de Noches en los Jardines de España.
FALLA, Manuel de - EL SOMBRERO DE TRES PICOS
Corregidor. Ele aumentou de alguns movimentos após ter ido a Andaluzia procurar por diversos temas populares.. A nova obra retornou ao título da obra de Alarcón da qual havia tirado o tema originário, El sombrero de tres picos, que estreou com grande triunfo no Alhambra Theatre de Londres com os Balés Russos, a 22 de julho de 1919. Ernest Ansermet a regeu, sendo a coreografia de Leonide Massime, os cenários e figurinos de Picasso; Karsavina e o próprio Massime dançavam os papeis principais. A partitura é dedicada a Leopoldo Matos.
O conto, que é uma farsa, narra as desventuras burlescas de um velho Corregedor (espécie de juiz de distrito), que é o homem do sombrero: apaixonado por uma bela dona do moinho, ele faz a sua corte e se ridiculariza inúmeras vezes para grande alegria da jovem e de seu marido, a princípio ciumento, depois cúmplice; no final, os vizinhos agarram o infeliz Corregedor e o jogam grotescamente para o alto Omo um boneco desengonçado.
A ação se divide em duas partes: durante a tarde e depois à noite, das quais as duas suítes para a orquestra conservam esta ordem.
SUÍTE No. 1
Compreende três movimentos: Introdução, Dança da moleira e o Corregedor e Final.
1. Introdução e tarde. Uma fanfarra formada pelas trompas, trompetes e os tímpanos serve de introdução, enquanto a Tarde – entrada do moleiro e sua mulher – dá lugar a uma breve evocação de estilo impressionista.
2. Dança da moleira. Trata-se de um fandango, dança característica da Andaluzia em ritmo ternário, onde explora a sensualidade e a paixão, executada em movimento moderado. É amplamente desenvolvido num desenho do fagote anunciando a chegada cerimoniosa do Corregedor; enquanto o moleiro se esconde, a sua mulher finge ignorar o galanteador e continua sua dança. Quando o Corregedor inicia sua corte, a mulher lhe oferece uvas para zombar dele – neste movimento alterna-se o compassos binários e ternários, característica do folclore andaluz – nisso a mulher se esquiva.
3. O Corregedor e final. O velho sedutor persegue a bela, mas cai. Socorrendo-o o moleiro simula espanto e auxilia o Corregedor a se levantar, porém o Corregedor percebe a trama e afasta-se ameaçando o moleiro.
SUÍTE No. 2
Esta suíte também é formada por três movimentos: Os vizinhos, Dan’xca do moleiro e Dança final.
1. Os vizinhos. Todos estão reunidos no moinho para festejar o dia de S. João. A dança é uma seguidilha (allegro ma non troppo) em compasso 3/8 cheio de vitalidade, evocando a embriaguez coletiva da festa andaluz.
2. Dança do moleiro. A mulher do moleiro pede a seu marido que dance. A farruca do moleiro (poco vivo), mais pesada e mais violenta em compasso 2/2, em evidente contraste com o movimento anterior. Esta parte foi acrescentada a pedido de Diaghilev e Falla a escreveu em apenas 24 horas. É uma das danças mais características do estilo flamenco.
3. Dança final. A suíte orquestral elimina inúmeros episódios intermediários da ação cênica, e reencontra aqui a partitura original o momento da dança conclusiva, sobre um motivo de grande jota. Trata-se de um Allegro rítmico em três tempos rápidos, de uma virtuosidade. Todo o vilarejo participa desta dança que consagra a derrota do Corregedor. A orquestração torna-se aqui ainda mais resplandecente do que as peças anteriores.
Nesta suíte, as danças populares e ritmos abundam numa completa recriação e cuja escrita instrumental, suntuosa porém refinada, e de uma constante elegância, é evocadora dos russos.
Nos catálogos discográficos aparece uma versão completa de ballet com curtas passagens de solista para voz feminina. Em geral figuram apenas nos programas de concertos as duas suítes e com mais freqüência a segunda suíte.
FALLA, Manuel de - El Amor Brujo
O elemento melódico vocal é sempre apresentado com ricas ornamentações inspiradas no canto jondo da Andaluzia.
A ação do ballet se desenrola entre ciganos da Andaluzia, numa atmosfera de superstições e de bruxaria. O libreto tem como pretexto a lenda do amante morte cujo espectro surge cada vez que um outro tenta ocupar o seu lugar. A cigana Candelas, que ama p jovem Carmelo, consegue desviar a atenção ciumenta do fantasma para uma outra jovem que está disposta a ajuda-la; Candelas e Carmelo podem enfim trocar o primeiro beijo de amor, que romperá definitivamente o encanto maléfico. A suíte de orquestra evoca os episódios sucessivos desta ação; os 13 movimentos são os seguintes:
1. Introducción y escena (Introdução e cena). Sobre uma fanfarra de timbres incisivos.
2. Um la cueva – La noche (o esconderijo os ciganos – a noite). Atmosfera criada por motivos curtos os instrumentios de sopro sobre cordas graves.
3. Canción del amor dolido (Canção do amor doloroso). A primeira intervenção do mezzo soprano que descreve a paixão amorosa da heroína.
4. El aparecido (aparição do fantasma).
5. Danza Del terror (Dança do terror). Provocado pela aparição do fantasma. Grande densidade rítmica, provocada pelas notas em staccato
6. El circulo mágico (O círculo mágico). Encantação destinada a exorcizar o espectro. Ouve-se a voz solista.
7. Romance del pescador (Romance do pescador). Melodia suave em tom melancólico.
8. Danza ritual del fuego (Dança ritual do fogo). Uma das páginas mais célebres da obra. Representa a dança da meia noite realizada por Candelas. Falla inspirou-se no canto de forja cigano, que segundo a tradição deveria afastar os maus espíritos durante o trabalho do metal. O tema tocado pelo oboé repetido pelo tutti, com trêmulos nas cordas (o fogo) e a escansão rítmica do piano (o metal forjado). A orquestra que se mantinha em apenas evocações, aqui mostra-se muito mais descritiva.
9. Escena (Cena). Formando a transição sobre o motivo da introdução.
10. Danza Del juego Del amor (Dança do jogo do amor). Dança lenta e sensual da qual o violino solo apresenta um tema melódico.
11. Pantomima.
12. Canción del fuego fátuo (Canção do fogo fátuo). A voz solista compara o amor a um fogo fátuo.
13. Final – Las campanas del amanecer (Final – Os sinos da manhã. Ultima intervenção da voz solista. Os sinos fazem os sortilégios noturnos desaparecerem.
DVORAK, Antonin - Sinfonia no. 9 em Mi Menor - Op. 95 (Novo Mundo)
Foi no período nova-iorquino que Dvorák escreveu a 9ª Sinfonia - do novo Mundo, executada pela primeira vez num concerto da Sociedade Filarmônica de Nova York, dirigido por Anton Seidl, em dezembro de 1893, com o compositor presente.
Conforme escreveu nas notas de programa para o concerto, Dvorák, “em sua chegada à América, sentiu-se profundamente impressionado pelas condições desse país e pelo espírito do qual estas eram as manifestações exteriores. Continuando sua atividade, percebeu que as obras que criava eram essencialmente diferentes das que havia composto em seu país natal. Estavam claramente influenciadas pelas novas circunstâncias e pela vida nova de que eram a evidência material”. Ao seu editor, Simrock, em Berlim, escreveu: “O sucesso da Sinfonia foi magnífico. Os jornais dizem que nunca um compositor teve tamanho triunfo… o público aplaudiu tanto que me senti como um rei em meu camarote”.
Apesar das afirmações de que Dvorák teria utilizado temas de origem indígena e negra para compor a Sinfonia, o próprio compositor escreveu, em carta a um amigo, ter tentado “apenas escrever no espírito daquelas melodias nacionais americanas”. Dvorák teve contato com a música dos negro spirituals através de Henry Burleigh, um compositor e cantor negro, aluno do Conservatório e, entre os projetos americanos não realizados, estava a composição de uma ópera com temática indígena, A Canção de Hiawatha.
Mais relevante que o fato de muitos temas da 9ª Sinfonia manterem forte semelhança com temas negro-americanos, é a profusão de temas de forte individualidade, unidos por traços estilísticos comuns: quase todos se iniciam no tempo forte e se movem no intervalo de terça menor, além de repetirem o motivo inicial. Destes temas, o primeiro, e mais importante, reaparece em todos os movimentos, e os principais temas de cada parte ressurgem no desenvolvimento e na coda do movimento final em brilhante construção cíclica.
Após a introdução lenta, um vigoroso tema em arpejo ascendente e ritmo sincopado, tocado pelas trompas, dá início ao allegro molto. Esse tema funciona como moto unificador da obra e reaparecerá em vários momentos. Segue-se uma segunda idéia, com caráter de dança folclórica, preparando o verdadeiro segundo tema, em sol maior, na flauta, uma melodia que lembra o famoso spiritual Swing low, sweet Chariot. No desenvolvimento, o retorno do primeiro tema ao lado do segundo revelará o estreito parentesco entre as duas idéias. Na recapitulação, as concepções secundárias aparecem em tonalidades contrastantes que acentuam a conclusão no mi menor principal.
O segundo movimento, Largo, inicia-se com um solene coral de metais e madeiras graves, antes do célebre solo de corne-inglês, cuja melodia poderia ser associada a uma canção negra norte-americana. O contraste na parte central é criado por melodia em tom menor e início descendente, acompanhada por trêmulo de cordas. Uma transição com caráter de dança alegre, ensombrecida por súbitas reminiscências do primeiro movimento, traz de volta o largo, que termina com o coral da introdução.
O scherzo, em mi menor, com seu engenhoso tema em imitação, começando no segundo tempo, é primoroso no gênero. Na repetição da melodia principal, é notável a superposição de compassos, evocando o ritmo vertiginoso das danças folclóricas. Dois trios alternam com o scherzo, ambos com caráter de dança eslava. O primeiro de ritmo amável e caprichoso, o segundo com ritmos pontuados e trinados nas madeiras. A Coda faz ressurgir o tema do primeiro movimento, antes da conclusão, em mi menor.
O quarto movimento, allegro con fuoco, após introdução rápida, apresenta seu tema principal de caráter épico nas trompas e trompetes. Uma transformação desse tema origina a transição, que leva ao nostálgico segundo tema, no solo de clarinete. Depois de conclusão brilhante, o desenvolvimento se inicia de forma surpreendente, com os trinados de madeiras do scherzo, dramaticamente interrompidos por intervenções do primeiro tema. Reaparece então o motivo do largo, contra um fundo agitado, derivado do primeiro tema, e um crescendo grandioso conduz à breve recapitulação dos dois temas principais. Uma conclusão tranqüila, construída sobre reminiscências, precede a Coda, em que se defrontam os temas principais do quarto e primeiro movimentos.
DVORAK, Antonin - Sinfonia no. 8, em sol maior, op. 88
Depois das obras muito densas como a 7a. Sinfonia e o oratório Santa Ludmilla, a cantata A noiva de Espectro, volta ao lugarejo Vysoka cidade que possui uma atmosfera suave, serena e escreve esta obra, onde ele demonstra sua admiração pela natureza e a Criação.Uma das características dessa obra é a tonalidade de sol maior, pouco usual nas sinfonias românticas, e a alternância do modo maior e o modo menor, características muito utilizadas por Dvorak em sua obra. Nota-se também a influência de Brahms e do folclore boêmio. O destaque é a não-usual troca do tradicional scherzo agitado por uma graciosa e serena valsa, no terceiro movimento.
DVORÁK, Antonin - Sinfonia no. 7 em Ré Menor - Op. 70
Embora não tenha alcançado a mesma popularidade da Nona Sinfonia, a Sétima é indubitavelmente uma das mais maduras e profundas de Dvorák. Sua composição foi fruto da promessa feita pelo compositor à Royal Philharmonic Society de Londres, onde acabara de ser eleito sócio honorário.
Composta em apenas quatro meses (dezembro de 1884 a março de 1885), a Sétima Sinfonia, no entanto, exigiu em demasia de Dvorák, que reescreveu a introdução três vezes. Tudo por Brahms estar estreando, à mesma época, sua Terceira Sinfonia, o que fez com que Dvorák quisesse provar ser igual ao amigo.
O lado nacionalista de Dvorák, sem desaparecer por completo, fica em segundo plano, transparecendo um germanismo quase wagneriano. A Sétima Sinfonia acabaria dedicada a Hans von Büllow, que se tornaria um excelente intérprete dela – no manuscrito, Dvorák escrevera abaixo da foto de Büllow: "Glória! Você deu vida a esta obra!". Por outro lado, porém, provocaria uma grande briga com seu editor Simrock, que lhe oferecera uma quantia inferior à merecida pelo sucesso da obra.
O início do primeiro movimento, allegro maestoso, é surpreendente pela sua gravidade, com o primeiro tema de um âmbito muito reduzido nos violoncelos e contrabaixos – uma das frases mais austeras de toda a obra de Dvorák. A intensa carga de energia contida é liberada ao estilo do compositor.
Rapidamente um tema secundário surge em mi bemol maior, dividido entre a trompa e as madeiras; ele não terá, no entanto, um papel importante. Mas uma nova melodia, toda de simplicidade poética, vai nascer em breve nas flautas e clarinetas e mais tarde nos violinos.
Inspirada em Brahms, na cantilena dos violoncellos do Segundo Concerto para Piano, ela constituirá com o primeiro tema o material do desenvolvimento, ora metalizado, ora suave. Ouve-se a reexposição, com o segundo tema em ré maior. Após uma gigantesca culminação, a coda retorna à gravidade do início.
O segundo movimento, poco adagio, é considerado uma das páginas mestras de toda a obra sinfônica de Dvorák, pela elevação de sua inspiração, pela riqueza e a abundância de suas idéias. A devoção do compositor fica explícita no coral das madeiras que o inicia. Um movimento suavemente ascendente nos violinos traz uma nova melodia nas flautas e oboé, de um lirismo mais exteriorizado e sensual. E surge, logo a seguir, o trecho inspirado em Wagner. Curto, mas forte e vigoroso.
A melodia, entretanto, através de arabescos nas cordas e nas madeiras, busca nova idéia temática, valorizada pelas trompas. Um crescendo evoca a presença de Brahms (seguida de perto pela de Wagner) com um vigoroso tutti. O último importante tema do movimento é uma frase da clarineta, descendente e depois ascendente, imitada em parte pela trompa. A partir daí iniciam-se as repetições: repete-se a segunda parte do tema inicial, com nova instrumentação e novo ardor das violas e violinos; repete-se o trecho germânico mais ricamente e repete-se o tema do coral no oboé ao ouvir-se a coda.
No terceiro movimento, scherzo-vivace, Dvorák reencontra acentos mais tchecos e menos germânicos. A primeira parte, do scherzo, é interessante, pois sobrepõe dois temas distintos (um no fagote e outro no violino) mas complementares, perfeitamente encaixados um no outro. O movimento é essencialmente expressivo e melódico, num diálogo entre grupo de instrumentos, fazendo contraste total com a energia muito contida e a constância rítmica do scherzo.
O quarto movimento, allegro, é rapsódico, com novo colorido, desde o primeiro tema nas clarinetas e trompas, com sensibilidade cigana. O ardor exacerbado e dramático se mostra igualmente no tema das cordas, fortíssimo, em ritmo de marcha. Uma mudança de armadura para lá maior modifica totalmente o clima e uma serena e graciosa melodia nas violas e violoncelos faz renascer o lirismo eslavo, para desabrochar num bem-estar entusiástico.
Na parte central, onde o material temático se divide, a veia cigana surgirá novamente, com até mesmo um orientalismo acentuado pelo timbre das madeiras. Passando por abundantes modulações, o tema retorna ao ré menor inicial, logo seguido, em ré maior, pela melodia lírica. Esta inserção em modo maior é apenas passageira. O final do movimento, onde domina o ritmo do tema de marcha, reencontra o modo menor, para concluir, todavia, na majestade otimista de uma terça da picardia.
DVORÁK, Antonin - Danças Eslavas, Op. 46
O sucesso da primeira coletânea, de 1878, fez com que Simrock se animasse a encomendar a segunda. Contudo, já mais estabelecido e famoso, Dvorák não aceitou com facilidade, argumentando que era "diabolicamente difícil escrever duas vezes a mesma coisa."
A primeira coletânea, que se situa na fronteira do período conhecido como eslavo do compositor, trabalha apenas danças tchecas (furiant, skocna, susedska), presentes em outras obras de Dvorák.
Já a segunda coletânea merece bem o título da obra, pois trabalha danças de outros países eslavos, como a Polônia e a Sérvia, e não apenas da Tchecoslováquia.
Dvorák trabalhou suas danças de forma diversa ao modo como Brahms compôs as Danças Húngaras. Enquanto Brahms utilizou verdadeiras melodias populares húngaras, Dvorák não usou temas autênticos, mas imitações extremamente fiéis, inspiradas no folclore morávio.
DVORAK, Antonin – Serenata para dez instrumentos de sopro, violoncello e contrabaixo em re menor, Op. 44
Dvorak, escreveu as duas serenatas (cordas e sopros) e o ciclo de canções Cypress Trees para uma jovem atriz, Josefina Cermáková, por quem estava apaixonado.
O efetivo instrumental compreende 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 1 contrafagote ad libitum, 3 trompas, 1 violoncello e 1 contrabaixo. Opostamente à Serenata para Cordas, esta é mais dinâmica e popular.São quatro movimentos: 1. Moderato quasi marcia (simples e rústico); 2. Tempo di minuetto (uma susedska); 3. Andante con moto (serenata de amor); 4. Allegro molto (jovial e tônico).
DVORÁK, Antonin - Concerto em Si Menor - Op. 104 - para violoncello e orquestra
Conhecido como a última obra americana de Dvorak, este Concerto deveria ser executado na estréia pelo violoncelista Hammus Wihan, contudo, um mal entendido entre este e Dvorak - que recusou-se a incorporar à partitura a cadência que Wihan havia composto para o finale - acabou mudando os planos do compositor.
Allegro - O primeiro tema, célebre, é exposto já no primeiro compasso pela clarineta, inspirado no segundo movimento da Sinfonia n° 4 de Brahms. Contudo, só quando este é repetido por toda a orquestra é que alcança sua plena dimensão.
O segundo tema, na trompa em pianíssimo, é um canto de velado mistério. Todo o movimento se divide entre o ímpeto e a alegria, o brilho e a intimidade. E o violoncelista, por sua vez, será alternadamente cantor ou virtuose. A instrumentação, muito sonora nos tutti, organiza também combinações de timbres isolados da orquestra com o violoncelo, principalmente na segunda parte do movimento. Aliás, esta instrumentação deixa clara a influência de Tchaikovsky na utilização preferencial dos sopros.
Adagio ma non troppo - um trio de madeiras (oboé, clarineta, fagote) evoca um tema entre o popular e o religioso, que é repetido pelo solista. Contudo, ao fervor do princípio, sucedem-se lamentos dolorosos. Esta dualidade de sentimentos atinge uma nova força no episódio em sol que se segue. Um tutti orquestral lança um novo tema, possante e dramático, respondido pelo solista e pelas madeiras. Há uma reexposição do episódio em si menor, com variantes. Volta o tema inicial com as trompas sobre o pizzicato das cordas. Por fim, este é transfigurado no violoncelo.
Allegro moderato - principia por um ritmo de marcha nas cordas graves. O tema principal é anunciado pelas trompas em staccato. Quando ressurge com o solista, em registro agudo, sua natureza rítmica se tempera em benefício dos contornos melódicos. Progressivamente, um segundo motivo é esboçado até desabrochar numa melodia agradável e dançante.
Este conduz a um novo episódio do finale, no qual o violoncelo executa figuras ornamentais graciosas entrecortadas de fragmentos de melodia enquanto um novo tema, simples e tranqüilo, passa para a clarineta. Este é o momento, em que o virtuosismo do solista é posto à prova.
Segue um tutti que desemboca numa repetição do segundo tema do movimento em stretto entre o violoncelo, a flauta e o oboé. Após uma curta repetição do tema principal, um terceiro episódio andante, em sol maior, parece recordar o segundo movimento. Uma modulação em si maior - tonalidade que se manterá até o final - marca a passagem para a última parte do finale, mais dinâmica. O tema principal ressoa agora como uma fanfarra de trompas. O início da coda, pianíssimo, faz ouvir repetidamente duas vezes o tema do primeiro movimento nas clarinetas. Um rápido crescendo conclui a obra num poderoso brilho orquestral.
DVORAK, Antonin - STABAT MATER
Esta obra abriu as portas internacionais das salas de concerto ao compositor nacionalista Tcheco, permitindo ao homem nascido em uma pequena vila do império de Austro-Hungaro ver a sua fama mundial.
O Stabat Mater de Dvorák foi cantado com freqüência no XIX século, sob sua própria regência. Além disso, esta obra integra o repertório de inúmeros coros amadores de igreja, onde sua popularidade persiste até nossos dias. O solo do contralto no "Inflammatus" é com freqüência utilizado em grande número de programas de recitais. Num pequeno lapso de tempo, a obra começou a ser executada com uma grande freqüência por um grande número de coros durante a semana da paixão. O nome, "Stabat Mater," faz alusão às primeiras palavras de um poema latino datando do XIII século. A tradução revela seu emocional, seus aspectos místicos, centrando-se na figura de Maria, estando ao pé da cruz na crucificação de Jesus Cristo. O poema e sua melodia tem sua origem do cantochão, despertada do sentimento religioso de piedade com caráter popular, de fácil assimilação em observância às práticas do catolicismo romano; em parte por seu uso na observância das indulgências (remissão dos pecados), e em parte porque sua expressão passionante reflete e liberdade dos sentimentos extremos da piedade e das emoções humanas.
Até 1727 a igreja católica romana atribuiu ao Stabat Mater um lugar permanente na liturgia, ligado às ocasiões penitenciais, da tarde e da manhã. Por isso mesmo a expressividade e a possibilidade dramática do texto tenham atraído alguns dos mais importantes compositores, entre eles Palestrina. A utilização desse texto foi subseqüente utilizada por Pergolesi, Alessandro Scarlatti, Boccherini, Haydn, Schubert, Rossini, Verdi e por Pendereck. Nós sabemos que Dvorak compôs o seu Stabat Mater entre fevereiro e maio 1876, imediatamente depois da morte de sua filha Josefa. Logo depois deixou o trabalho de lado. No ano seguinte a tragédia golpeou outra vez a sua casa: as duas crianças restantes morreram; Ruzena em agosto e Otakar em setembro. Em outubro, Dvorak começou a orquestrar a obra, terminando-a em novembro.
A primeira apresentação ocorreu em Praga no Theatre Provisional (o teatro nacional Tcheco do interior do país) a 23 de dezembro de 1880; a primeira apresentação nos EUA foi no Salão da Steinway na cidade de New York a 3 de abril de 1884.
De início esta obra de Dvorak não foi prevista para ser apresentada na igreja como era de costume e sim como peça de concerto, baseada em um texto religioso, da mesma maneira que a Missa Solemnis de Beethoven e o Requiem de Berlioz. Isso não significa que Dvorak não tenha utilizado o texto de uma forma irreligiosa; nós sabemos por meio de testemunhas, que Dvorak era um católico devoto e sincero, cuja fé era firme e inquestionável. Suas obras, Stabat Mater e seu Requiem, refletem o seu espírito católico universal e o espírito de seu tempo, e que a sala de concertos é transformada num local que utilizava com freqüência para transmitir "espiritualidade" do tipo de cristianismo sem especificação denominacional. Embora os sentimentos pessoais de Dvorák possam ter afetado sua escolha do poema do Stabat Mater, apenas os primeiros e os últimos dois movimentos refletem diretamente o significado do texto na música.
Alguns críticos discordam, pela negligência, parecendo que o compositor mostrava falta de habilidade composicional. O esboço simples da estrutura da obra que faz com que ouçamos a música pela música, percebendo-se que a habilidade de Dvorak era a elaboração do som. No Stabat Mater, nós ouvimos que a abertura do décimo movimento lembra o primeiro movimento. Na totalidade da obra possui uma preocupação com o equilíbrio entre as cordas e os instrumentos de metal. A música de Dvorak não é pura arquitetura ou simplicidade melódica, é um trabalho dinâmico, impelido para frente pela força tremenda da energia melódica e rítmica desencadeada, por exemplo o primeiro movimento, vai gradualmente encaminhando-se para um repouso do décimo movimento, em um tipo do apotheosis.
A retomada de idéias, inicialmente apresentadas são freqüentemente ouvidas em todos os movimentos; nunca uma repetição literal, mas sim idéias similares, de uma maneira concisa por todos os movimentos da obra. Outros pontos devem ser observados, a saber:
1) A linha melódica desenvolvida pelo compositor;
2) o relevo inabalável da escrita idiomática da obra;
3) a compreensão completa e o tratamento singelo das partes do coro;
4) o uso hábil do contraponto, isto é, o tecido musical das linhas vocais e instrumentais similares e dissimilares, especial nos movimentos I, II e VIII;
5) as cores da orquestra, enfatizadas pelas combinações instrumentais e nas linhas fluidas dos solos;
6) O equilíbrio sonoro na orquestração, quando no acompanhamento das partes do coro e dos solistas.
DEBUSSY, Claude - Trois chansons
Trois Chansons
No caso de Debussy, em particular na ópera Pélleas et Melisande, a necessidade de um resgate desse cantar em francês levou o compositor a buscar uma forma de declamação ou um tipo de arioso melódico que respeitasse e valorizasse as cores e articulação da língua, que se encontrava um pouco adormecida depois da influência poderosa dos melodramas italiano e alemão na criação de seus contemporâneos.
Essa busca não está somente na questão da fonética, mas também numa recapitulação de modelos melódicos, harmônicos e rítmicos da música francesa e até mesmo dos arabescos gregorianos e do organum medieval. A chanson francesa utiliza também uma certa cor popular da melodia, uma temática que, muitas vezes, ilustra sonoramente alguns textos onomatopaicos e fenômenos da natureza. Se na Renascença o estilo de composição faz uso abundante da imitação e de outras formas contrapontísticas, no século XX ela tem uma característica mais homofônica.
Pélleas et Melisande é uma obra chave para os compositores franceses do século passado. Nos quase 10 anos em que o compositor perseguiu seus objetivos, não só resgatou valores como também criou um estilo pessoal e contemporâneo. Sua estética do vago e do evocativo foi depois transformada num estilo mais clássico, com linhas melódicas mais definidas, no caso de Ravel, e mesmo numa forma neoclássica no caso de Poulenc.
Em 9 de abril de 1909, Debussy estréia nos Concertos Colonne suas Trois Chansons de Charles d"Orleans para coro misto sem acompanhamento. Ao contrário de outros concertos anteriores, onde a platéia se dividia em duas turbas rivais, os debussistas e os anti-debussistas, as peças foram recebidas com caloroso aplauso, tanto que as duas últimas tiveram de ser reprisadas e as dissidências se anularam. A crítica um pouco exasperada pelas constantes surpresas a cada estréia do compositor, não se deixou seduzir por essa fusão do arcaico e do moderno.
O texto de Charles d"Orleans, avô do rei François I – em cujo reinado floresciam às centenas as chansons parisiennes de Clément Janequin, Pierre Passereau, Pierre Certon, Gombert, Jacques Clément entre outros, amplamente divulgadas graças à invenção da imprensa. Na busca desse resgate das qualidades musicais francesas, Debussy volta a um período particularmente fértil da música de seu país, onde mais de 1.500 peças foram editadas, numa diversidade de estilos extraordinária: imitação livre, homofonia, subdivisão do coro com respostas em eco, onomatopéia e polirritmia.
Debussy já havia composto duas das três peças em 1898, quando dirigiu um coral amador do mecenas Lucien de Fontaine. Sua grande habilidade no acompanhamento de vários cantores ao piano, desde a época em que era aluno do Conservatório de Paris proporcionou-lhe uma intimidade com o canto camerístico, experiência que usou com mestria na composição de dezenas de canções e algumas obras para vozes e orquestra.
Suas Trois Chansons não são tematicamente relacionadas. A primeira, Dieu! Qu"il la fait bon regarder! é uma oscilante e terna canção de amor; a segunda, uma melodia com acompanhamento vocal que evoca um tamborim pastoral; e a terceira, exprobra o inverno por sua impiedade e vileza.
Talvez na procura do resgate de novas cores de uma música antiga, Debussy tenha tentado também reavivar aqueles “pequenos povos encantadores que aprenderam a música tão simplesmente quanto se aprende a respirar. Seu conservatório é: o eterno ritmo do mar, o zunir do vento nas folhas, e mil pequenos ruídos que eles ouviram com cuidado, sem nunca consultar arbitrários tratados. Suas tradições só existem em velhíssimas canções, misturadas com danças, a que cada um, século após século, trouxe sua respeitosa contribuição”.
Sobre Debussy e Ravel, escreveu Vladimir Jankélévitch: “se um pouco de lucidez ajuda a diferenciar esses dois grandes criadores, muita lucidez os aproxima”.
Roland de Candé estabelece um interessante paralelo entre as duas personalidades: “Debussy é mais inteligente que Ravel, mas seu caráter é menos firme, é mais influenciável e cede de bom grado à complacência, ele é amoral e voluptuoso. Ravel é moralmente austero e inabalável, sem hipocrisias nem complacência. Nascido em uma família modesta, Debussy formou-se ao azar de encontros, na entourage aristocrática de Madame von Meck (...) nos cafés da boemia. Ao contrário, a personalidade de Ravel se desenvolveu num meio familiar burguês abastado, sábio e cultivado. Suas formações musicais foram sensivelmente diferentes: o primeiro se diz aluno de Massenet (falso, mas significativo), o segundo foi aluno de Fauré. (...) O primeiro é um experimentador sempre insatisfeito, o segundo um construtor minucioso que conhece a fundo o material que utiliza”. EDUARDO GUIMARÃES ÁLVARES
DEBUSSY, Claude - Prelude à L´aprés-midi d’un faune
Debussy, concebeu a obra partindo do poema de Mallarmé (1886), intitulado “Prelúdio, interlúdios e paráfrase final para a tarde de um fauno”, obra provavelmente destinada ao palco teatral. Nela pode-se conceber um cenário composto por um bosque em pleno verão, mergulhado por reflexos luminosos. Esse painel foi bem desenvolvido de uma forma esplendorosa na orquestração apresentada por Debussy.
Debussy deteve-se apenas ao Prelúdio que ele resumiu da seguinte forma: “... uma ilustração muito livre do belo poema de Stéphane Mallarmé. Não visa absolutamente uma síntese deste último. Trata-se mais dos cenários sucessivos através dos quais se movem os desejos e os sonhos do fauno no calor desta tarde. E depois, cansado de perseguir a fuga amedrontada das ninfas e náiades, ele se deixa levar pelo sono inebriante, cheio de sonhos finalmente realizados, de posse total na natureza universal”. Esta nota da edição original fornece o sentido da obra. Não é uma obra descritiva. Mallarmé, dirigiu a Debussy o seguinte poema de agradecimentos: “Tudo estava dito: a luz no sopro de uma flauta, cujo lento desfalecimento fez o sucesso desta obra”.O tema do fauno é exposto por uma flauta solo, que representa um pastor tocando sua flauta, sentado sobre a grama, segundo comentários do próprio Debussy. Este tema está sujeito a diversas apresentações com harmonizações e estruturas rítmicas diversas durante a obra. Um segundo tema é apresentado pelo oboé. Após o primeiro desenvolvimento surge uma nova melodia confiada ao primeiro violino solo. Um segundo desenvolvimento com as cordas sobre os arpejos da harpa, faz surgir o tema inicial na flauta. O Prelúdio chega ao seu final com uma reapresentação do tema inicial com a intervenção dos pratos, culminando com a Coda final que se compõe de apenas cinco compassos onde se ouve o tema da flauta pelas trompas, culminando com apenas quatro notas (do sustenido, mi, do sustenido e sol sustenido) que vão se esvaindo em um pianíssimo da flauta.
DEBUSSY, Claude - Jeux (Poème dansè)
O argumento-roteiro do balé era de Nijinski, elaborado para ser uma “apologia plástica do homem de 1913”. A idéia inicial, descrita por Jacques Émile-Blanche, era de um balé “cubista” que representasse um jogo de tênis em um jardim ao anoitecer sob grandes luminárias elétricas, onde um grupo de moças e rapazes com uniformes esportivos desenvolveriam uma série de movimentos rítmicos inspirados na gestualidade do jogo de tênis. Não seriam utilizados cenários românticos, nem haveria "corps de ballet" e nem "pas-de-deux". A partida seria interrompida por uma colisão de um aeroplano.
O roteiro foi sendo modificado até a solução de apresentar o balé com três personagens: duas mulheres e um homem, uma solução cênica viável para um outro libreto oculto, que segundo Nijinski, seria a história de seu relacionamento pessoal com Diaghliev.
Em suas memórias escritas em 1919, o bailarino nos conta que o empresário russo sempre desejou ter dois jovens como amantes e que, no roteiro final, para evitar possíveis problemas com a censura, as duas garotas representavam Nijinski e o outro jovem amante, e o tenista, Diaghliev. Em carta a Stravinsky, Debussy relata que o título da obra (Jogos) expressa, de modo bem comportado, os “horrores” que se passam entre essas três personagens.
“A música de Jeux é inseparável de seu tema, que é o prazer sexual” escreveu Robin Holloway. Para sugerir esse continuo jogo de formas em busca de um clímax, Debussy escreveu uma de suas mais fascinantes partituras que, nas palavras do compositor Pierre Boulez, “marca o aparecimento de uma forma musical que, renovando-se instantaneamente, implica um modo de audição não menos instantâneo”.
A estrutura musical, rica em invenções, de uma ondulante complexidade, instaura uma forma de pensamento extremamente flexível, baseada na noção de tempo irreversível. Para ouvi-la, só submetendo-se a seu desenvolvimento, já que a evolução constante das idéias temáticas afasta qualquer simetria na arquitetura musical. Debussy inventa uma técnica combinatória ao montar a estrutura musical como se fosse um mosaico. Ele usa vinte e um pequenos motivos temáticos derivados do impulso rítmico de uma valsa que desfilam perante nossos olhos e ouvidos como uma cena cinematográfica, formando uma trama, uma textura de cores (timbres) e tempos ritmados.
Mesmo que a linguagem musical de Jeux não seja tão ousada em termos harmônicos, ela é um marco capital na estética da música contemporânea. A orquestração da obra valoriza o timbre como elemento da estrutura sonora. Ao invés de uma orquestração-vestimenta, realizada depois da obra composta, o compositor inova com uma idéia de orquestração-invenção, onde a gama de timbres instrumentais forma uma sobreposição de camadas independentes e polirítmicas criando uma nova concepção de polifonia, de contraponto. Na estréia da obra, na forma de concerto em 1914 uma nota de programa, possivelmente escrita com ajuda do compositor, assim define as relações entre a música e cena: "Depois de um prelúdio de poucos compassos, doce e sonhador, harmonizado com todas as notas do modo de tons inteiros parece um primeiro motivo scherzando que é interrompido pelo retorno do prelúdio. É aqui que a ação começa: uma bola de tênis é jogada em cena. Um jovem com uniforme e raquete de tênis atravessa o palco à sua procura e desaparece. Depois surgem duas jovens curiosas que dançam juntas, fazendo confidências, mas são interrompidas nos seus jogos íntimos por um ruído de folhas secas pisadas. É o jovem que as observa. Elas tentam fugir, mas ele as persegue e persuade uma delas a dançar com ele e a beijá-lo. A segunda garota, ciumenta, começa uma dança irônica para chamar a atenção do homem. E assim seguem dançando juntos, cada vez mais animados com seus jogos íntimos, até o grande clímax sonoro da partitura, onde acontece um tríplice beijo das personagens. Nesse momento uma segunda bola é jogada em cena por uma mão maliciosa, talvez. Assustados, os três se perdem na imensidão do parque noturno. Voltam os acordes do prelúdio. E sobre algumas notas que glissam furtivamente, termina a obra". Eduardo Guimarães Álvares.
DEBUSSY, Claude - Dança Sacra, Dança Profana – duas danças para harpa e orquestra de cordas
DEBUSSY, Claude – Fantasie pour piano et orchestre
As correções foram feitas a partir de 1909, em duas partes, como relatos escritos do próprio compositor na própria partitura. Até 1919, quando o editor Fromont realizou a segunda publicação corrigida, as correções do compositor foram ignoradas.
Até hoje, a obra não obteve grande sucesso, porque não possui grandes atrativos virtuosísticos não atraindo para tanto os pianistas, e nem os maestros. Além da influência de Fauré e Chopin, esta obra recebeu influencia de Vincent d’Indy, por suas similaridades harmônicas e por seu princípio cíclico. Mesmo assim, Debussy utiliza a escala de tons inteiros, ostinatos e liberdade de ordenação.
Este pseudoconcerto, é composta por três movimentos, o primeiro possui uma breve introdução escrita em um Andante ma non troppo, formado por dois temas. O primeiro tema surge logo no início na introdução. O piano aparece apenas no Allegro giusto em compasso ternário que apresentará mais tarde o segundo tema com características graciosas e melódicas. A reexposição irá sobrepor os dois temas, um na orquestra e outro no piano em fortíssimo.
O Lento e molto espressivo do segundo movimento, oferece ao solista mais independência, uma espécie de noturno atravessado por episódios febris ou de calmaria repentina, onde se ouve um tema cíclico em fa sustenido maior, que domina toda a passagem..Uma quase cadencia do piano ao finale que se segue sem interrupção: retorno, com o Allegro molto conclusivo, ao tom inicial de sol maior; transformações variadas do tema cíclico, seja em ostinato dos contrabaixos, seja pelo solista. Nota-se, num episódio mediano, um terno solo de piano em la maior, no qual tomam parte um violino e depois um corne inglês. A obra conclui-se num stretto brilhante sobre o ostinato cíclico, com um piano de exuberância mais exterior.
DEBUSSY, Claude - Pélleas et Mélisande
Independentemente das datações mais ou menos canônicas, pode reconhecer-se que há um conceito do teatro musical moderno que começou publicamente com a estréia do Pelléas. De resto, se os mais clamorosos sinais de explosão do modernismo musical - o "Pierrot Lunaire", de Schoenberg, e "A Sagração da Primavera", de Stravinsky - são já imediatamente anteriores à Grande Guerra de 1914, não é reconhecido que em termos de pensamento formal a música do século XX se anunciara já no "Prelúdio à Sesta de Um Fauno" de Debussy, de 1894, inspirado em e solicitado por Mallarmé, composto no momento em que o autor congeminava já o projecto de um drama lírico a partir da peça de Maurice Maeterlinck. Música do indizível
Já importante autor de melodias, Debussy não deixava de aspirar a uma "música do indizível". Aspiração que tudo esclarece sobre o seu afastamento em relação à grande atração wagneriana, mesmo que em alguns aspectos (harmônicos nomeadamente, mas mesmo na técnica de encadeamentos temáticos) a sua música seja tributária do outro. Mas eram-lhe alheias a noção de "obra de arte total" e a retórica do "pathos". A sua estética era a da "impressão" e da sugestão "simbólica" - donde, por analogia com o curso pictórico da época, e no seu caso concreto sobretudo Manet, a recorrente designação de "impressionismo" para a sua música, donde o "simbolismo" que esteticamente será até mais pertinente de apor.
Maeterlinck era celebérrimo à época; hoje, sem a música de Debussy, alguém se dará ao árduo trabalho de representar o "Pelléas"? Com extraordinária acuidade, o compositor discerniu na peça a capacidade de sugestões e de símbolos. Nesse mesmo momento, Freud começava a praticar e a teorizar a psicanálise. Nem Maeterlinck, nem Debussy o poderiam conhecer ("A Interpretação dos Sonhos" é de 1900). Contudo, e sendo certamente legítimo e mesmo pertinente fazer leituras psicanalíticas do "Don Giovanni", da "Carmen" ou das óperas wagnerianas, é difícil não pensar que a primeira ópera do século XX é também a primeira ópera que, na sua própria dramaturgia, é uma "ópera do inconsciente". Por duas ordens de razões estritamente articuladas."
O libreto escolhido, baseado fielmente na tragédia do belga Maurice Maeterlinck (que motivou pelo menos uma outra obra-prima absoluta, o poema sinfônico de Schoenberg), tem semelhanças com Tristan und Isolde de 1865: dois amantes que se aproximam por casualidade, circunstâncias tais que as mãos do destino mais que suas próprias os levam à infidelidade (certa em Tristan, presumida em Pélleas), a morte de um e de outro num momento de fúria, de uma e de outra mais tarde, a pena incontornável para quem fica.
Não é o único paralelo, no entanto: ainda que musicalmente em muito se afastem, elas também se refletem, como se Debussy fornecesse a seu antecessor/antípoda Wagner uma resposta, no mesmo exaltado nível, sobre como criar um comentário indelével, imortal sobre um dos grandes mitos da civilização – o do amor ideal – usando os mesmos meios: o drama lírico.
Às vezes por oposição, pois se em Wagner os protagonistas são pujantes e heróicos, em Debussy nada se afirma, sequer o entorno onde se desenrola a narrativa, em algum lugar no passado, perdido e esquecido.
Mélisande, desde sua aparição, perdida na floresta, mantém em torno de si um clima que chega a suscitar dúvida se ela é uma personagem ou uma figura de sonho, se ela está lá o se a imaginamos: em um só momento, no pungente final do terceiro ato, ela chega a emergir das brumas para o je t"aime aussi, pronunciado pouco, mas muito pouco antes da irrupção de Golaud, da morte de Pélleas, do seu retorno definitivo ao nível de quase inconsciência do seu discurso.
Outras vezes, por empréstimo, pois se pode ouvir em Debussy como que a elaboração do leitmotiv wagneriano, como também o cromatismo exacerbado, mesmo que ele evite os contrastes fortes, sejam harmônicos, sejam dinâmicos.
A ópera de Debussy se desenrola como um recitativo contínuo, em que a inteligibilidade do texto é realçada pelos intervalos melódicos muito próximos da enunciação natural, favorecendo que as personagens nunca ultrapassem a escala humana.
Diferente nas duas óperas é também a cosmogonia subjacente: se Isolde é filha de uma feiticeira e se a concomitante transfiguração e perdição dos amantes ocorre por um mediador bem explícito, o filtro do amor tomado por engano, não existem intervenções no destino de Pélleas ao encontro com Mélisande: tudo se dá com a naturalidade de uma narrativa já escrita desde sempre nas pedras, na fonte, na floresta, nas sombras em torno do castelo.
Teria havido a infidelidade de Mélisande, que justificasse o ciúme mortal de Golaud? Como na igualmente suposta infidelidade de Capitu, o que ocorre e o que não ocorre estão embebidos pela mesma suspensão das mores e quem se obstinar nesta dúvida redutora pode acabar como Golaud: diante de quem lhe aponta o infinito, olhar para o dedo.
Ao fim dos cinco atos o ouvinte terá completado uma viagem, ou melhor, pode ter iniciado uma outra: dessas névoas, dessas contenções, dessa recusa ao efeito ele terá como num paradoxo, se iluminado um pouco mais sobre as pulsões humanas, sobre o que está ainda mais fundo que o fundo do poço, escondido nos subterrâneos do castelo, mas influenciando senão o dia-a-dia, cada noite de sua vida.
Passados já cem anos, o contato com este testemunho de outra era convoca ainda outras reflexões: em meio de tanto barulho e violência, do propalado triunfo final do mercantilismo sobre tudo e sobre todos, é preciso resistir com o tipo de espírito capaz de engendrar, e capaz de fruir, um “produto” como este.
Opéra en cinq actes
Libretto de Maurice Maeterlinck
Musique de Claude Debussy
PERSONNAGES
Pelléas, Tenor or high baritone; Mélisand, Soprano; Golaud, Baritone; Arkel , Bass; Yniold, Soprano; Geneviève, Mezzo-soprano; Le Berger, Bass; Un Médecin, Bass; Servantes; Women's chorus
Scène 1 - Une Forêt (Le rideau ouvert on douvre Mélisande au bond d'une fontaine. Entre Golaud)
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
ARKEL
GENEVIÈVE
ARKEL
GENEVIÈVE
ARKEL
PELLÉAS
que la lettre de mon frère une autre lettre; Une lettre de mon ami Marcellus…Il va mourir et il m'appelle…Il dit qu'il sait exactement le jour où la more doit venir… Il me dit que je puis arriver avant elle si je veux, mais qu'il n'y a pas de temps à perdre.
ARKEL
GENEVIÈVE
GENEVIÈVE
MÉLISANDE
GENEVIÈVE
MÉLISANDE
GENEVIÈVE
PELLÉAS
GENEVIÈVE
PELLÉAS
VOIX DERRIÈRE LA COULISSE
MÉLISANDE
PELLÉAS
VOIX DERRIÈRE LA COULISSE
GENEVIÈVE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
VOIX DERRIÈRE LA COULISSE
PELLÉAS
VOIX DERRIÈRE LA COULISSE
MÉLISANDE
PELLÉAS
VOIX DERRIÈRE LA COULISSE (à bouche fermée encore plus loin)
GENEVIÈVE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
(Ils sortent.)
Scène 1 - Une fontaine dans le parc (Entrant Pelléas et Mélisande)
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
ELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE (se redressant)
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
(Ils sortent.)
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD (animé)
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
MÉLISANDE
PELLÉAS
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
Scène 1 - Une des tours du château (Un chemin de ronde passe sous une fenêtre de la tour)
(Entre Pelléas par le chemin de ronde.)
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
et inonde Pelléas.)
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
GOLAUD
MÉLISANDE
Quels enfants!Quels enfants! (Il sort avec Pelléas.)
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
GOLAUD
PELLÉASJ'étouffe ici…sortons.
GOLAUD
(Ils sortent en silence.)
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
YNIOLD
GOLAUD
Scène 1 - Un appartement dans le château (Entrent et se rencontrent Pelléas et Mélisande)
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
ARKEL
GOLAUD
ARKEL
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
ARKEL
GOLAUD
ARKEL(accourant)
Golaud!
GOLAUD (affectant un calme soudain)
ARKEL
MÉLISANDE (en larmes)
ARKEL
LE BERGER (qu'on ne voit pas)
YNIOLD
(Il sort.)
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE (à voix basse)
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE (d'une voix étouffée)
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
PELLÉAS
MÉLISANDE
Scène 1 - Une chambre dans le château (On découvre Arkel, Golaud et le Médecin dans un coin de la chambre; Mélisande est étendue sur le lit)
ARKEL
GOLAUD
LE MÉDECIN
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
LE MÉDECIN
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
GOLAUD (se traînant vers le lit)
MÉLISANDE
GOLAUD (à Arkel et au médecin)
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
MÉLISANDE
GOLAUD
ARKEL
GOLAUD
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
ARKEL
MÉLISANDE
GOLAUD
LE MÉDECIN
ARKEL
LE MÉDECIN
GOLAUD
ARKEL
GOLAUD
LE MÉDECIN
ARKEL
LE MÉDECIN
GOLAUD
LE MÉDECIN
GOLAUD
ARKEL
GOLAUD
ARKEL
LE MÉDECIN (s'approchant du lit et tâtant le corps)
ARKEL
LE MÉDECIN
ARKEL
F I N DE L'OPERA