quarta-feira, 30 de maio de 2007

FAURÈ, Gabriel - Requiem Op. 48

Gabriel Fauré respondeu deste modo às críticas que a estréia de seu Requiem provocara: ”Dizem que não expressa bem o terror diante da morte. Alguém o apelidou de “berceuse”(cantiga de ninar) da morte. Mas é assim mesmo que eu o concebo: uma venturosa libertação, uma aspiração à felicidade do outro mundo e não uma experiência dolorosa. “
Em coerência com essa idéia, Fauré suprimiu a seqüência do “Dies irae” e incluiu trechos como o “Pie Jesu” e a antífona “In paradisum”, que fortalecem a visão da morte como libertação e não como coisa ruim.
O falecimento de seus pais parece ter sido a causa desse projeto, começado em 1887. Inicialmente, compôs um Requiem em 5 movimentos, para o coro de La Madeleine de Paris, do qual era diretor, e para uma pequena orquestra (viloas, violoncellos, contrabaixos, harpa, timbal e órgão). Foi assim apresentado em 16 de janeiro de 1888. Mais tarde, acrescentou o “Ofertorium” e o “Libera me” e, em 1898, ampliou a orquestração. A estréia da versão definitiva ocorreu no dia 12 de julho de 1900, no Trocadero de Paris, e foi um grande sucesso.
O primeiro movimento, que compreende Introitus e Kyrie, abre-se com um “tutti” da orquestra; densa amálgama em cujo desvanecimento as vozes, murmurando, entoam o Requiem aeternam. Os instrumentos, limitados às cordas mais graves, alternam-se com o coro, até que, finalmente, se unem nas sucessivas repetições do Luceat eis, numa atmosfera de grande devoção.
O órgão adquire maior protagonismo e os tenores voltam a expor as palavras do início, com uma melodia mais ampla e efusiva. Intensos acordes de sopranos anunciam o Te decet himnus. Um ambiente trágico envolve as súplicas do Exaudi orationem meam, mas o Kyrie, cujas frases conservam certo parentesco com o espírito do canto gregoriano, tende a uma melancólica resignação.
A introdução do Ofertorium nas cordas, expõe uma estranha nudez. A calma intensifica-se no “Cânon”, reservado às contraltos e aos tenores. A assombrosa mestria contrapontística de fauré desenvolve-se em tênues modulações e imitações que anulam a rigidez formal, com um acompanhamento mínimo de cordas e órgão.
O eixo da estrutura tripartida é constituído por um solo para barítono, Hostias et preces tibi, onde o terreno se manifesta numa instrumentação mais completa.
Sobre os arpejos de cordas e harpa, o coro a duas vozes contesta o Sanctus, enquanto os violinos apresentam, repetidamente, um motivo que flutua num clima absolutamente etéreo, através de frases simples e de uma orquestração rica e delicada.
Estes mesmos recursos serão retomados no último número, quando, de novo, são sugeridos os espaços celestiais. O suave discorrer é interrompido pelos acordes de metal e órgão, que sublinham a elevação “in excelsis” do Hosana.
O Benedictus> é substituído pelos dosis versos finais da Seqüência para os mortos, o Pie Jesu para soprano. A celebridade alcançada por esta página deve-se tanto à belíssima melodia e à confiança que expressa, quanto à sua refinadíssima instrumentação.
A doçura do tema que abre o Agnus Dei, com violinos e órgão, equilibra-se com o outro, mais sombrio e ponteado de metais, quando já está presente todo o coro. Os tenores representam o motivo inicial e as sopranos, às quais se unem as vozes reestantes, entoam o Lux aeterna. O segundo tema leva, através de uma progressiva intensificação, a um dos clímax da obra, potenciado pelos metais e pelo silêncio posterior. Reaparece brevemente o Requiem para finalizar com a mesma melodia do começo, plena de esperança.
Os elementos dramáticos aparecem no Libera me. O solo de barítono expressa o temor ante o Juízo Final com obsessivos “pizzicati” de cordas. Quando a angústia alcança um nível insuportável, o coro e os violinos chegam para aliviar o sofrimento e surgem os apelos do metal, anunciando, nas vozes, o terror do Dies irae, para retomar em seguida o tema do Libera me.
A visão da Jerusalém celestial ocupa o último número, In Paradisum. A etérea atmosfera, anunciada no Sanctus, revela-se aqui com plenitude. O motivo de órgão cria uma hipnótica tranqüilidade, descrita pelos sopranos e iluminada por violinos e harpa, que recorda a mensagem final de paz eterna, requiem, com o qual o caminho para a ressurreição chega ao seu término.
TEXTO

INTROITUS
Requiem aeternam dona eis, Domine,et lux perpetua luceat eis.Te decet hymnus, Deus, in Sion,et tibi reddetur votum in Jerusalem.Exaudi orationem meam;ad te omnis caro veniet.

KYRIE
Kyrie eleison.Christe eleison.Kyrie eleison.

OFFERTORIUM
Domine Jesu Christe, Rex gloriae,libera animas defunctorumde poenis inferni,et de profundo lacu.Libera eas de ore leonis,ne absorbeat eas tartarus,ne cadant in obscurum.Hostias et preces tibi,Domine, laudis offerimus.Tu suscipe pro animabus illisquarum hodie memoriam facimus.Fac eas, Domine,de morte transire ad vitam,quam olim Abrahae promisisti,et semini eius.

SANCTUS
Sanctus, sanctus, sanctus,Dominus Deus Sabaoth.Pleni sunt coeli et terragloria tua.Hosanna in excelsis.

PIE JESU
Pie Jesu Domine,dona eis requiem,requiem sempiternam.

ANGUS DEI
Agnus Dei,qui tollis peccata mundi,dona eis requiem,requiem sempiternam.

LUX AETERNA
Lux aeterna luceat eis, Domine,cum sanctis tuis in aeternum,quia pius es.Requiem aeternam, dona eis, Domine,et lux perpetua luceat eis.

LIBERA ME
Libera me, Domine,de morte aeterna,in die illa tremendaquando coeli movendi sunt et terra,dum veneris judicaresaeculum per ignemTremens factus sum ego, et timeodum discussio venerit,atque ventura ira.Dies illa, dies irae,calamitatis et miseriae,dies magna et amara valde.Requiem aeternam, dona eis, Domine,et lux perpetua luceat eis.

IN PARADISUM
In paradisum deducant te angeli,in tuo adventususcipiant te martyres,et perducant tein civitatem sanctam Jerusalem.Chorus angelorum te suscipiat,et cum Lazaro quondam paupereaeternam habeas requiem.

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