Beethoven compôs este concerto em um período em que a sua reputação como compositor de música sinfônica e vocal começava a correr solta pela Europa. Particularmente, os anos de 1805 até 1808 são de uma incrível fertilidade: Beethoven completou a série dos quartetos dedicados ao conde Razumovsky, a Sonata nº 23, op. 57 (“Appassionata”), o Concerto para Violino, as Sinfonias nº 4 e 5, além desse Concerto para Piano nº 4. O otimismo surgia após as tormentas e incertezas dos anos anteriores, época onde constatara a irreversibilidade do processo de surdez. Esse segundo período da produção de Beethoven, que se estende de 1803 até 1812, é marcado pelo ímpeto da renovação estilística, desencadeado pela composição da Sinfonia nº 3 (1803), verdadeiro divisor de águas da música ocidental. Durante esses anos, Beethoven também manteve um interesse constante pelas referências extra-musicais, prova disso é a composição do oratório Cristo no Monte das Oliveiras, além de uma série de aberturas para músicas dramáticas, Coriolano, Fidélio e Leonora I. No plano que nos interessa, o Concerto para Piano nº 4 representa o pleno estabelecimento de uma nova estética dentro da literatura concertística. O piano é tocado de modo inusitado, livre, ziguezagueando em improvisações aparentemente avulsas do rigor formal. Na verdade, essa riqueza de elaboração conota um novo tratamento da estrutura formal, algo que já se vislumbrava nas suas sinfonias. Há uma mudança definitiva em relação ao concerto do século XVIII. Notemos a maneira com que o tema principal do primeiro movimento é exposto: uma melodia de notas repetidas e alijada de qualquer introdução. Toda a música que se segue, explora, com eloqüência, a dualidade de caráter dos temas, entre o cândido e terno, por um lado, e o impulso agressivo, por outro; contraposição essa tão cara à música de Beethoven. Eddynio Rossetto
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