quarta-feira, 20 de junho de 2007

MOZART, W.A. - Idomeneo

Idomeneo e a Guerra de Tróia
A ópera Idomeneo, de Mozart, se desenvolve no contexto da Guerra de Tróia. A história da Guerra de Tróia é uma estranha mistura de fatos e mitos. A maioria das lendas propagadas por vários artistas e poetas são mais conhecidas do que os fatos realmente comprovados sobre essa guerra.
Supostamente a Guerra de Tróia teve início no céu em um concurso de beleza. Todos os deuses e deusas estavam festejando no banquete de casamento do rei Peleu e Tétis exceto Eris, a deusa da Discórdia. Eris não tinha sido convidada pelo receio de que ela poderia perturbar a celebração. Furiosa por essa humilhação, a deusa compareceu ao banquete sem ser anunciada e atirou uma maçã de ouro sobre a mesa dos deuses. Na maçã estava escrito “para a mais bela”.
Imediatamente as deusas Atena, Afrodite e Hera começaram a disputa para ver quem legitimamente merecia a maçã. Recorreram a Zeus, o rei dos deuses, para uma decisão, mas este, sabiamente, se recusou a tomar partido sugerindo que perguntassem a um jovem e bonito pastor chamado Páris.
As três deusas foram visitar Páris em sua colina onde ele cuidava de seu rebanho. Cada uma lhe ofereceu uma recompensa em troca de ser nomeada a mais bela. Atena prometeu-lhe uma grande sabedoria e glória militar; Hera ofereceu a Páris o poder sobre todos os reinos do mundo e Afrodite disse-lhe que ela poderia dar-lhe o amor da mulher mais linda do mundo. Páris entregou a maçã de ouro a Afrodite.
Nessa época, Páris não sabia que era um príncipe da Casa Real de Tróia. Finalmente reconquistou seu legítimo lugar e viajou para a Grécia como Embaixador. Durante sua estada na Grécia se apaixonou por Helena, a mulher mais linda do mundo, e quando Páris regressou a sua pátria, Helena o acompanhou. Infelizmente, Helena já era casada com o Rei grego Menelaus que ficou furioso pelo ultrajante insulto. Menelaus pediu ajuda a seus aliados gregos e eles cruzaram os mares dispostos a guerrear contra Tróia. Por essa razão, freqüentemente, Helena é citada como a mulher com “o rosto que lançou mil navios ao mar”.
A Guerra de Tróia foi o tema inspirador de Homero para um dos mais antigos e famosos poemas épico do mundo, A Ilíada. Através dos séculos a heróica saga inspirou outros autores e artistas a criarem obras de arte de perdurable valor. Por muito tempo a história de Tróia foi considerada pura ficção até que um arqueólogo amador, chamado Heinrich Schliemann, descobriu suas ruínas na década de 1870. O lugar da antiga Tróia é, hoje em dia, conhecido como Hisarlik, na Turquia. Os historiadores, atualmente, acreditam que as histórias sobre a Guerra de Tróia referem-se aos vários conflitos entre os gregos e os troianos para o controle das prósperas rotas comerciais marítimas.
O Cavalo de Tróia
O incidente do Cavalo de Tróia é um dos mais famosos eventos da Guerra de Tróia. O assédio à Grécia já se arrastava por vários anos e Tróia não mostrava sinais de entregar-se. Finalmente os gregos encontraram uma engenhosa solução.
Construíram um enorme cavalo de madeira e o deixaram no portão de entrada de Tróia. Depois embarcaram em seus navios e navegaram para longe, derrotados. Os troianos, festejando a vitoria sobre os gregos, levaram o cavalo para dentro das muralhas da cidade, seguindo o conselho de um prisioneiro grego.
Os troianos estavam radiantes de alegria por estarem livres de tantos anos de guerra e festejaram sua liberdade comendo e bebendo até altas horas da noite. Finalmente, exaustos, caíram em um profundo sono. Muito tempo depois, quando o último ruído havia cessado ao longe, uma porta secreta, na barriga do cavalo, é aberta vagarosamente. Com extremo cuidado, os soldados gregos pularam de seu esconderijo e abriram as portas que protegiam a cidade. A fuga dos gregos tinha sido só uma representação, pois na verdade eles haviam se escondido em um refúgio próximo. Os navios retornaram e os soldados entraram na cidade. Pela manhã, os gregos já controlavam Tróia, haviam assassinado a maioria dos troianos e tomado as mulheres e crianças como escravos.
Personagens
Ilia (soprano) – A Princesa troiana mantida cativa na ilha de Creta. Ela se apaixona pelo filho do Rei de Creta, Idamante, mas está dividida entre seu amado e o amor por sua pátria.
Elettra (soprano) – A Princesa grega que também ama Idamante. Ela tem ciúmes dos sentimentos de Idamante por Ilia, mas acredita que será capaz de ganhar o seu amor, caso tenha a possibilidade de ficar a sós com ele.
Idomeneo (tenor) – Rei de Creta, ilha grega. Durante uma tormenta no mar, o Rei promete a Netuno que iria sacrificar a primeira pessoa que encontrasse em terra caso seu navio fosse salvo. Ele fica de coração partido quando seu filho, Idamante, é a primeira pessoa a saudá-lo em terra firme.
Idamante (tenor/soprano) – O filho de Idomeneo, apaixonado por Ilia. Idamante não entende porquê seu pai o evita e se mostra tão distante. Originalmente, esse papel foi escrito para um soprano castrado, mas atualmente é desempenhado por um contralto ou soprano.
Arbace (tenor) – O Conselheiro de confiança do Rei. Através da ópera, Arbace atua como confidente e mensageiro do Rei
Sinopse
Idomeneo, Rei de Creta, se aliou às forças gregas na luta contra os troianos, tendo deixado seu filho, Idamante, para governar na sua ausência. Elettra, uma princesa grega, se apaixona por Idamante mas o coração deste já pertence a Ilia, uma princesa troiana que se encontra prisioneira em Creta.

ATO I
Ilia é mantida como prisioneira no palácio de Idomeneo, em Creta. Ela está enamorada de Idamante, mas receia que este tenha preferência por Elettra. Porquanto seus povos estão em guerra, Ilia pensa que amando Idamante estará traindo seu país, e sofre por sua terra natal que não verá nunca mais. Este conflito faz com que Ilia rejeite as investidas de Idamante quando este vai visitá-la.
Chegam notícias de que Tróia foi derrotada e que Idomeneo e suas tropas estão retornando ao país. Exaltado, Idamante decide liberar os troianos aprisionados, incluindo Ilia. Após sua chegada, Elettra reclama do gesto humano de Idamante pois tem inveja de Ilia. Os protestos ciumentos de Elettra são interrompidos pela chegada de Arbace, Conselheiro de confiança do Rei. Arbace informa que o navio do Rei estava perdido em uma tempestade no mar e que Idomeneo estava morto. Elettra teme que, com a morte do Rei, Idamante ascenda ao trono e torne Ilia sua rainha.
O navio do Rei conseguiu chegar à praia com segurança. No meio da temerosa tempestade Idomeneo fez um trato com Netuno, o deus dos mares: se o seu barco sobrepujasse a tempestade, ele sacrificará a primeira pessoa que encontre em terra firme.
A primeira pessoa que o Rei encontra é o seu filho Idamante. Em um primeiro instante pai e filho não se reconhecem, pois Idamante era apenas uma criança quando seu pai partiu para a guerra. Enquanto a tempestade era violenta, os que estavam em terra haviam imaginado que o Rei estava perdido e Idamante chora a perda de seu pai. Quando Idomeneo descobre a verdadeira identidade de Idamante, fica horrorizado com sua promessa a Netuno. O Rei rejeita seu filho advertindo-o de que nunca devem encontrar-se. Idamante fica profundamente ferido com a inexplicável rejeição de seu pai. O restante das tropas cretenses desembarca e todos, alegremente, se reúnem com os familiares. Os soldados cantam em louvor a Netuno, que será homenageado com um sacrifício.
ATO II
Idomeneo consulta com seu conselheiro Arbace para ver como pode se livrar de seu terrível dilema. Ele não deseja sacrificar seu amado filho mas fez uma promessa solene a um poderoso deus. Arbace sugere que poderiam aplacar a ira de Netuno escondendo Idamante. Então decidem que Idamante deve acompanhar Elettra de volta à Grécia.
Ilia entra e se dirige a Idomeneo. Por causa da misericórdia e compaixão com que vem sendo tratada, Ilia reconhece sua nova pátria e adota Idomeneo como seu novo pai. Quando elogia Idamante, Idomeneo compreende que Ilia está enamorada do príncipe. Intimamente ele lamenta ao constatar que Netuno agora vai querer três vítimas: o seu filho, ele próprio e a angustiada Ilia.
Elettra fica contentíssima ao saber que Idamante a acompanhará de volta à pátria e planeja ganhar seu coração durante a viagem. Ela houve uma marcha anunciando a partida imediata do navio.
Todos se reúnem no porto para ver a partida de Idamante e Elettra. Idomeneo aconselha a seu filho que aprenda a arte de governar enquanto estiver em terras estrangeiras. Idamante se despede com tristeza de seu pai, de sua amada e de sua terra. Subitamente desaba uma tormenta e aparece um mostro marinho perturbando a calma do mar e terrificando os cretenses. Interpretando isso como um sinal da implacável ira de Netuno, Idomeneo se oferece em sacrifício.
ATO III
Nos jardins do palácio, Ilia implora aos ventos para que transportem seu amor até Idamante. Idamante mesmo aparece relatando que o monstro marinho está causando uma tremenda destruição do lado de fora da cidade e que deve ir detê-lo. Ele lhe diz a Ilia que prefere a morte do que viver com a dor de um amor não correspondido. Ela o incentiva a viver e confessa seu amor por ele.
O momento de ternura é interrompido por Idomeneo e Elettra. Idamante confronta seu pai e exige uma explicação de sua frieza. Idomeneo se recusa a responder diretamente ao filho e somente diz que isso é devido à fúria de Netuno e que o sofrimento de Idamante somente aumenta sua própria dor. Novamente, Idamante anuncia sua intenção de ir ao encontro da morte. Arrasada, Ilia procura Elettra para se consolar mas só consegue incitar o desejo de vingança nela, visto que Elettra considera o gesto como um ato de insolência.
Arbace entra trazendo a notícia de que a multidão está pedindo para que Idomeneo lhe dirija a palavra. O Rei receia que o povo possa se revoltar se a fúria de Netuno não for aplacada com o sacrifício prometido. Arbace se oferece em sacrifício para assim salvar o Príncipe e o Rei.
O Sumo Sacerdote de Netuno relata os horrores infligidos pelo monstro marinho e suplica a Idomeneo que faça o sacrifício necessário. Idomeneo diz ao sacerdote e à multidão que Idamante, seu único filho, deve ser a vítima e, em choque, todos recuam consternados.
Idomeneo lidera a multidão ao templo de Netuno. Arbace informa que Idamante havia, com sucesso, aniquilado o monstro marinho mas essa notícia mergulha Idomeneo em um novo sofrimento, pois teme que agora a fúria de Netuno seja ainda maior.
Idamante chega e se atira aos pés de seu pai, dizendo-lhe que agora já sabe a razão de sua indiferença. Ele se oferece em sacrifício, disposto a morrer para salvar seu pai e seu povo da fúria de Netuno. Suplica a seu pai que aceite e proteja Ilia após a sua morte. Ilia, pressentindo que os deuses gregos querem se livrar de seus inimigos (os troianos), se oferece no lugar de Idamante. Repentinamente ouve-se uma Voz que, aparentemente fala em nome de Netuno. A Voz exige que Idomeneo se afaste e deixe Idamante e Ilia governarem o reino. Elettra está aniquilada, mas todos os demais se regozijam. Idomeneo decreta que a paz prevalecerá.

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